(Domingo, 26 de Outubro
de 2014)
“Amarás o Senhor teu Deus e o próximo como a ti mesmo”
LEITURA I – Ex 22,
20-26
“Se fizerdes algum mal à viúva e ao órfão, inflamar-se-á a minha ira
contra vós”
O amor de Deus concretiza-se logo no amor do próximo. Esta
leitura assinala algumas situações particularmente exigentes, onde se há-de
tornar concreto este amor do próximo. A primeira expressão do amor ao próximo é
a justiça, sem a qual não há caridade. E não se perca de vista que este texto é
do Antigo Testamento, ainda anterior ao próprio Evangelho.
Leitura do Livro do
Êxodo
“Eis o que diz o
Senhor: «Não prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás, porque vós próprios
fostes estrangeiros na terra do Egipto. Não maltratarás a viúva nem o órfão[1].
Se lhes fizeres algum mal e eles clamarem por Mim, escutarei o seu clamor;
inflamar-se-á a minha indignação e matar-vos-ei ao fio da espada. As vossas
mulheres ficarão viúvas, e órfãos os vossos filhos[2].
Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, ao pobre que vive junto de ti,
não procederás com ele como um usurário, sobrecarregando-o com juros. Se
receberes como penhor a capa do teu próximo, terás de lha devolver até ao pôr-do-sol,
pois é tudo o que ele tem para se cobrir, é o vestuário com que cobre o seu
corpo. Com que dormiria ele? Se ele Me invocar, escutá-lo-ei, porque sou
misericordioso».”
LEITURA II – 1 Tes 1,
5c-10
“Convertestes-vos dos ídolos para servir a Deus e esperar o seu Filho”
Esta leitura é como que um certificado de vida cristã,
passado pelo Apóstolo à sua querida comunidade de Tessalónica, e que poderá
servir de modelo e estímulo a outras Igrejas. Assim ela sirva ainda hoje para a
nossa comunidade.
Leitura da Primeira
Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
“Irmãos: Vós sabeis
como procedemos no meio de vós, para vosso bem[3].
Tornastes-vos imitadores nossos e do Senhor, recebendo a palavra no meio de
muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo; e assim vos tornastes
exemplo para todos os crentes da Macedónia e da Acaia. Porque, partindo de vós,
a palavra de Deus ressoou não só na Macedónia e na Acaia, mas em toda a parte
se divulgou a vossa fé em Deus, de modo que não precisamos de falar sobre ela[4].
De facto, são eles próprios que relatam o acolhimento que tivemos junto de vós
e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e
verdadeiro e esperar dos Céus o seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos:
Jesus, que nos livrará da ira que há-de vir[5].”
EVANGELHO Mt 22,
34-40
“Amarás o Senhor teu Deus e o próximo como a ti mesmo”
Uma pergunta frontal posta a Jesus, embora com má intenção,
foi ocasião para o Senhor afirmar, de maneira solene e inequívoca, a verdadeira
hierarquia dos valores à luz de Deus: o mandamento fundamental é o do amor a
Deus e ao próximo. Ao ser interrogado sobre qual era o maior mandamento, Jesus
acrescenta também qual é o segundo, não fosse julgar-se que, ao pretender
amar-se a Deus, se poderia humilhar o próximo, como parece ter sido intenção
daquele que O interrogou.
Evangelho de Nosso
Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, os
fariseus, ouvindo dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus, reuniram-se em
grupo, e um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar: «Mestre, qual
é o maior mandamento da Lei?». Jesus respondeu: «‘Amarás o Senhor teu Deus com
todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’[6].
Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este:
‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’[7].
Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas».”
[1]
Estrangeiro, viúva, órfão, pobre. É o rol das chamadas "personae
miserabiles", isto é, pessoas consideradas em difícil situação jurídica,
social e económica (23,9; Lv 19,10; 23,22). Dt 16,11 inclui neste rol os
levitas, certamente pelo facto da centralização do culto em Jerusalém ter
atirado muitos deles para o desemprego (Dt 16,9-12 nota). Estrangeiro
residente. Alude-se aqui aos descendentes de José, que não conheceram a
opressão por parte do Egipto, mas um clima de vizinhança e amizade decorrente
do seu estatuto de "estrangeiros residentes" (23,9; Dt 23,8).
[2]
Viúva, órfão. Numa sociedade em que a família era considerada como propriedade
do chefe de família, se este desaparecia, a viúva e os órfãos ficavam sem
protecção e sem direitos, presa fácil da exploração.
[3]
O nosso Evangelho, expressão frequente em Paulo, é aqui repetida: o Evangelho
de Deus (2,2.8.9); o Evangelho (2,4); o Evangelho de Cristo (3,2).
"Evangelho" traduz, ao mesmo tempo, o acto e o conteúdo do anúncio e,
por isso, se justifica a diversidade de nosso e de Deus. Um aspecto particular
é o do anúncio da salvação aos pagãos. Êxito significa plenitude, total
cumprimento a que conduz a acção de Deus.
[4]
À acção dos evangelizadores do v.5 responde o acolhimento da Palavra por parte
dos destinatários, terceiro motivo da acção de graças. A evangelização
realiza-se num dinamismo de imitação: os evangelizadores imitam o Senhor e as
comunidades imitam aqueles ou outras comunidades. Ao acolherem a Palavra
pregada pelos Apóstolos, fazem com que esta corra veloz, seja palavra do Senhor
para outros crentes. A Palavra torna-se protagonista da missão (Act 6,7; 2 Ts
3,1).
[5]
Fórmula kerigmática, de carácter narrativo, que resume a pregação aos pagãos
(conversão da idolatria ao Deus vivo para o servir). Nesta Carta a tensão
escatológica é nota dominante. Ira que está para vir. O termo ira reaparecerá
em 2,16 e 5,9.
[6]
A questão sobre o mandamento do amor, posta por um legista (v.35-40), faz parte
das narrações de Mt sobre os conflitos de Jesus com os seus adversários. Jesus
atribui igual importância aos dois mandamentos, já conhecidos do AT (Lv 19,18;
Dt 6,5), e concentra neles todo o conteúdo da Lei.
[7]
A observância do segundo mandamento não é alternativa, mas entitativa: amar o
próximo não substitui o amor a Deus, e vice-versa. A medida própria do amor do
próximo participa da totalidade do amor de Deus: como a ti mesmo (Lv 19,18),
isto é, amar na mesma medida o próximo.
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