sábado, 21 de fevereiro de 2015

LITURGIA DA PALAVRA – I DOMINGO DA QUARESMA




(Domingo, 22 de Fevereiro de 2015)


Era tentado por Satanás e os Anjos serviam-n’O

LEITURA I – Gen 9, 8-15

A aliança de Deus com Noé, salvo das águas do dilúvio

A primeira leitura dos domingos da Quaresma não está em ligação com a do Evangelho, como nos domingos do Tempo Comum. Refere-se à história da salvação, mostrando como Deus encaminhou os passos da humanidade, desde os tempos mais antigos até à realização da promessa da nova Aliança em Jesus Cristo. Este ano, começamos com Noé. O dilúvio termina com uma aliança, que anuncia desde logo a aliança estabelecida entre Deus e os homens na Morte e Ressurreição de Cristo. Por outro lado, no próprio dilúvio Deus quis significar a regeneração espiritual do baptismo, pois nele, como no dilúvio, a água se tornou, simbolicamente, “fim de vícios e origem de virtudes” (liturgia baptismal).

Leitura do Livro do Génesis
Deus disse a Noé e a seus filhos: «Estabelecerei a minha aliança convosco, com a vossa descendência e com todos os seres vivos que vos acompanham: as aves, os animais domésticos, os animais selvagens que estão convosco, todos quantos saíram da arca e agora vivem na terra[1]. Estabelecerei convosco a minha aliança: de hoje em diante nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio e nunca mais um dilúvio devastará a terra». Deus disse ainda: «Este é o sinal da aliança que estabeleço convosco e com todos os animais que vivem entre vós, por todas as gerações futuras: farei aparecer o meu arco sobre as nuvens, que será um sinal da aliança entre Mim e a terra[2]. Sempre que Eu cobrir a terra de nuvens e aparecer nas nuvens o arco, recordarei a minha aliança convosco e com todos os seres vivos e nunca mais as águas formarão um dilúvio para destruir todas as criaturas[3]».”

LEITURA II – 1 Pedro 3, 18-22

O Baptismo que agora vos salva

S. Pedro faz nesta leitura o comentário ao dilúvio, estabelecendo a comparação entre este e o baptismo. O baptismo é hoje o verdadeiro dilúvio, que destrói o pecado e faz nascer uma nova humanidade em Cristo. Assim, a história da salvação chega a todas as gerações e todas elas são arrastadas na sua corrente de graça.

Leitura da Primeira Epístola de São Pedro
“Caríssimos: Cristo morreu uma só vez pelos pecados – o Justo pelos injustos – para vos conduzir a Deus. Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito[4]. Foi por este Espírito que Ele foi pregar aos espíritos que estavam na prisão da morte e tinham sido outrora rebeldes, quando, nos dias de Noé, Deus esperava com paciência, enquanto se construía a arca, na qual poucas pessoas, oito apenas, se salvaram através da água. Esta água é figura do Baptismo que agora vos salva, que não é uma purificação da imundície corporal, mas o compromisso para com Deus de uma boa consciência; ele vos salva pela ressurreição de Jesus Cristo[5], que subiu ao Céu e está à direita de Deus, tendo sob o seu domínio os Anjos, as Dominações e as Potestades.”

EVANGELHO – Mc 1, 12-15

Era tentado por Satanás e os Anjos serviam-n’O

“O Senhor Jesus Cristo era tentado pelo demónio no deserto. Mas em Cristo também tu eras tentado, porque Ele tomou sobre Si a tua condição humana, para te dar a salvação; para Si tomou as tuas tentações, para te dar a sua vitória” (S. Agostinho). A vitória de Jesus sobre Satanás proclamada neste primeiro Domingo da Quaresma anuncia desde já o triunfo pascal da sua Morte e Ressurreição, e oferece-nos, ao mesmo tempo, a participação nessa sua vitória sobre o pecado e a morte.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
“Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O. Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus[6]. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».”





[1] Aliança cósmica. A Aliança, coluna vertebral do Antigo e do NT, é um contrato ou pacto que Deus faz com o homem. Fá-lo com Noé, sobre as presentes leis; com Abraão, sobre a descendência e a promessa (cap. 15 e 17); com Moisés, constituindo um novo povo (Ex 19,1-25) e, finalmente, com toda a humanidade, em Cristo (Mt 26,28).
[2] Arco-íris. Sabemos que, após uma tempestade, o arco-íris, refracção da luz solar através da chuva, anuncia bonança, como um poente avermelhado anuncia bom tempo. Os antigos viam, nestes fenómenos naturais, manifestações da bondade divina (Ez 1,28).
[3] Temos aqui a referência bíblica mais clara à verdade do credo acerca de Jesus que "desceu à mansão dos mortos" (4,6; Mt 12,38-42; Lc 23,43; Act 2,25.31; Rm 10,6-7; Ef 4,8-9.8 nota; Ap 1,18), a anunciar-lhes a mensagem da salvação, segundo uns com a sua alma separada do corpo, segundo outros, na sua nova condição de glória alcançada com a sua morte (v.18). O texto, ao dizer que Jesus também pregou aos maiores pecadores, os rebeldes do tempo de Noé (Gn 7,2.7.17; Mt 24,37; 2 Pe 2,5 nota), põe em evidência o alcance universal da Redenção para todos os pecadores arrependidos. "Mansão dos mortos" (o Cheol hebraico, o Hades ou Tártaro grego, os Infernos, em latim) representa a residência dos que tinham morrido, que se pensava ser num espaço interior da Terra (Nm 16,33; 1 Sm 28,13; Sl 7,6; Ez 26,20; Lc 16,23; 2 Pe 2,4).
[4] O final deste versículo pode entender-se: morto como homem e vivo como Deus (Rm 1,3-4; 1 Tm 3,16); ou talvez se trate de uma formulação primitiva para exprimir que Jesus, ao morrer, abandonou de vez a sua condição mortal para passar, com a ressurreição, a viver no seu estado glorioso e imortal. Alguns entendem espírito como a alma humana de Jesus, com que Ele desceu à mansão dos mortos (2,19.24-25; Rm 6,10; Heb 9,28).
[5] Temos aqui a referência bíblica mais clara à verdade do credo acerca de Jesus que "desceu à mansão dos mortos" (4,6; Mt 12,38-42; Lc 23,43; Act 2,25.31; Rm 10,6-7; Ef 4,8-9.8; Ap 1,18), a anunciar-lhes a mensagem da salvação, segundo uns com a sua alma separada do corpo, segundo outros, na sua nova condição de glória alcançada com a sua morte (v.18). O texto, ao dizer que Jesus também pregou aos maiores pecadores, os rebeldes do tempo de Noé (Gn 7,2.7.17; Mt 24,37; 2 Pe 2,5), põe em evidência o alcance universal da Redenção para todos os pecadores arrependidos. "Mansão dos mortos" (o Cheol hebraico, o Hades ou Tártaro grego, os Infernos, em latim) representa a residência dos que tinham morrido, que se pensava ser num espaço interior da Terra (Nm 16,33; 1 Sm 28,13; Sl 7,6; Ez 26,20; Lc 16,23 nota; 2 Pe 2,4).
[6] Do Reino de Deus, que Jesus começa a implantar, se diz que está próximo. Nunca se diz nos Evangelhos em que consiste. É algo que não vem de maneira ostensiva, mas actua a partir do interior das pessoas (Lc 17,21). Pode dizer-se que é uma forma nova, definitiva, de relacionamento com Deus, por meio de Jesus Cristo "o que era, o que é e que há-de vir" (Ap 4,8). A conversão interior é condição imprescindível para nele se entrar (4,26-29; Mt 3,2; 6,10; Lc 17,20-21).

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