(Terça-feira, 8 de Dezembro
de 2015)
LEITURA I – Gen 3, 9-15.20
“Estabelecerei
inimizade entre a tua descendência e a descendência dela”
O
texto procura explicar a origem do mal. O centro dessa questão é a pretensão de
ser como Deus, usurpando o lugar de Deus verdadeiro para tornar-se
auto-suficiente. Isto é, um falso deus. A auto-suficiência é a mãe de todos os
males, que são apenas consequência dela. Deus é o Senhor absoluto, e seu projecto
é vida e liberdade para todos, no clima de fraternidade e partilha. Quando o
homem se torna auto-suficiente, rebela-se contra o projecto de Deus e faz o seu
próprio projecto: liberdade e vida só para si mesmo. O homem sonha possuir
liberdade e vida plenas; porém, na sua auto-suficiência ele produz o contrário:
escravidão e morte. O autor, apresentando a visão crítica da realidade, afirma
que a situação em que o projecto do homem e a humanidade inteira se encontram é
uma situação de castigo. “O castigado é responsável pelo castigo: não poderá
jamais liberar-se dele fingindo ignorar a sua parte de responsabilidade nos
males que sofre. Por outro lado, a situação de castigo nunca é normal e
definitiva, mas provisória e passageira. A anormalidade permanecerá, enquanto o
castigo não for cumprido e a culpa expiada. O bem do culpado, a ser obtido
depois de ultimado o castigo, pode ser atingido unicamente através da aceitação
activa e responsável do próprio castigo. Na raiz do castigo está a culpa do
castigado, que provoca uma ruptura de relações entre pessoas, relações que
precisam serem restabelecidas. Dizendo que os males que sofremos são um castigo
de Deus, a Bíblia estabelece a relação do homem com Deus como ponto fundamental
para a harmonia de todo o resto. Não é possível restabelecer a ordem perturbada
da vida sem levar em conta o lugar que Deus deve ocupar na vida dos homens”. E
o primeiro passo foi o próprio Deus quem deu.
Leitura do
Livro do Génesis
“Depois de
Adão ter comido da árvore, o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?».
Ele respondeu:
«Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e
escondi-me».
Disse Deus: «Quem
te deu a conhecer que estavas nu? Terias tu comido dessa árvore, da qual te
proibira comer?».
Adão
respondeu: «A mulher que me destes por companheira deu-me do fruto da árvore e
eu comi».
O Senhor Deus
perguntou à mulher: «Que fizeste?»
E a mulher
respondeu: «A serpente enganou-me e eu comi».
Disse então o
Senhor Deus à serpente: «Por teres feito semelhante coisa, maldita sejas entre
todos os animais domésticos e entre todos os animais selvagens. Hás-de rastejar
e comer do pó da terra todos os dias da tua vida. Estabelecerei inimizade entre
ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Esta te esmagará
a cabeça e tu a atingirás no calcanhar». O homem deu à mulher o nome de ‘Eva’, porque
ela foi a mãe de todos os viventes.”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Ef 1, 3-6.11-12
“Deus
escolheu-nos em Cristo, antes da criação do mundo”
Paulo
desenvolve um hino de louvor em forma de “bênção”, frequente no Antigo
Testamento. O louvor é uma resposta do homem ao Deus que se manifesta através
de um acto de salvação ou mediante a revelação de um mistério. Deus Pai é o
sujeito e a fonte de toda a acção criadora e salvadora. E tudo o que Deus Pai
realiza no homem e no mundo, ele o faz mediante o seu Filho Jesus Cristo:
escolhe, liberta, reúne tudo em Cristo, entrega a herança prometida e concede o
dom do Espírito Santo. Planificação-Amor: não estamos por certo habituados a
ver juntos estes dois termos! "Planificação é uma expressão fria, lembra
esquema, burocracia, números... E Paulo traça para nós e para todos os homens o
plano universal do Amor. É o plano que leva à revolução da unidade. Plano
envolvente, se o confrontarmos realisticamente com a crónica quotidiana em
todos os níveis. É a superação de toda divisão, porque é o plano do
"anti-pecado". Toda divisão tem suas raízes no pecado. Jesus Chefe
convoca-nos a entrar a cada momento nesse plano.
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
“Bendito seja
Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto dos Céus nos abençoou com
toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo.
N’Ele nos
escolheu, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, em
caridade, na sua presença. Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua
vontade, a fim de sermos seus filhos adoptivos, por Jesus Cristo, para louvor
da sua glória e da graça que derramou sobre nós, por seu amado Filho. Em Cristo
fomos constituídos herdeiros, por termos sido predestinados, segundo os
desígnios d’Aquele que tudo realiza conforme a decisão da sua vontade, para
sermos um hino de louvor da sua glória, nós que desde o começo esperámos em
Cristo.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 1, 26-38
“Alegra-te, cheia de graça”
Maria
é outra representante da comunidade dos pobres que esperam pela libertação.
Dela nasce Jesus Messias, o Filho de Deus. O facto de Maria conhecer sem ainda
estar morando com José indica que o nascimento do Messias é obra da intervenção
de Deus. Aquele que vai iniciar nova história surge dentro da história de
maneira totalmente nova. A saudação do anjo Gabriel surpreendeu Maria. Quem era
ela senão uma humilde habitante de Nazaré, cidade sem importância das montanhas
da Galileia? Mulher sem maiores pretensões do que a de ser fiel a Deus; uma
virgem já prometida em casamento a José, mas sem viver conjugalmente com ele,
conforme as tradições de seu povo? Afinal, que méritos tinha para ser uma
"agraciada", "plena da graça" divina? Maria estava longe de
compreender o projecto de Deus a seu respeito. A sua humildade de mulher
simples do interior não lhe permitia pensar grandes coisas a respeito de si
mesma. Quiçá tenha sido este o motivo por que fora escolhida por Deus para ser a
mãe do Messias. Livre de toda a forma de orgulho e auto-suficiência, Maria
podia abrir seu coração para receber a graça de Deus que haveria de torná-la
templo do Espírito Santo. Ela tornou-se objecto da atenção divina, no seu
anseio de salvar a humanidade. Deus queria contar com alguma pessoa disposta a
se tornar "escrava do Senhor", e permitir que a vontade divina
acontecesse em sua vida, sem objecções. Foi para Maria que se voltaram os
olhares de Deus! Tudo quanto o anjo comunicara a Maria era grande demais para o
seu entendimento, e superava a sua capacidade de pô-lo em prática. Abriu-se
para ela uma perspectiva nova, ao ser-lhe prometida a assistência do Espírito
Santo. Este seria a força que lhe permitiria levar a bom termo a missão divina
que lhe fora comunicada pelo anjo. O evangelista Lucas elabora esta narrativa
da Anunciação com alusões a temas básicos do Primeiro Testamento. Na criação o
Espírito de Deus pairava sobre as águas; agora, na segunda criação, este
Espírito descerá sobre Maria. Em contraposição ao antigo pecado de Eva, agora
Maria é cheia de graça. E o anúncio do anjo é feito em paralelo com as palavras
do profeta Isaías, que anunciava um futuro brilhante para o filho da jovem
esposa do rei Acaz (Is 7,14). Unindo-nos à saudação do anjo, hoje, também
saudamos Maria. E agradecemos a Deus pela concepção de Jesus no seio de Maria,
concedendo-nos participar da nova criação revestida de divindade e eternidade.
A escolha de Maria, uma jovem da periferia da Galileia, para ser a mãe de
Jesus, Filho de Deus, nos revela que o projecto de Deus difere dos projectos
dos homens neste mundo. O poder e o prestígio tão ansiosamente buscados, nada
significam para Deus. Maria viveu a humildade e o serviço e nisto identifica-se
com seu filho Jesus. O título de "rainha" aplicado a Maria não indica
poder e superioridade, mas sim amor que se doa, cativa, e se comunica. Maria
está presente nos nossos lares, nas alegrias e nos sofrimentos, confortando-nos,
como mãe e companheira de caminhada no seguimento de Jesus. "Alegra-te
('Ave, Maria'), cheia de graça! O Senhor está contigo...", "Bendita
és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre", Jesus.
Unimo-nos à saudação do anjo e à saudação de Isabel (Lc 1,28.42), saudamos
também a Maria em nossa oração. Com a oração contínua e repetitiva, tomamos
consciência da presença de Maria em nosso meio e, com ela, a presença de seu
filho Jesus. Com Maria, nossa atenção se volta para Jesus, percorrendo a trajectória
de sua vida: o seu nascimento, o seu ministério, a sua paixão e a sua
ressurreição.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada
Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, que era descendente
de David. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o
Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
Ela ficou
perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o
Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e
darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e
chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai
David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim».
Maria disse ao
Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?». O Anjo respondeu-lhe: «O
Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua
sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua
parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês
daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível».
Maria disse
então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».”
Palavra da Salvação
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