Epifania =
Manifestação de Jesus aos gentios (nomeadamente, aos Reis Magos).
Na Igreja, Cristo revela-se
a todos os povos
Entre todas as orientações que o Concílio Vaticano II
encaminhou ou pôs em relevo, uma das mais importantes e significativas é o
apelo à unidade fundamental da família humana (cf, por ex., GS 24; 26; 27).
Visando o
universalismo
A humanidade tende a um universalismo até agora nunca
atingido e que produzirá um novo tipo de homem, cuja cultura não será mais
limitada à da sua civilização e cujos meios técnicos serão património de todos.
Este dinamismo impressionante é tão característico da esperança contemporânea,
que os que manifestam exclusividade racial, nacional ou cultural são
considerados ultrapassados.
Mas, de que meios dispõe a humanidade para atingir este
sonho? Experimentam-se muitos métodos que têm certa parte de verdade e eficácia
mas que acarretam muitos problemas. Convirá recorrer à força? A experiência de
grandes impérios baseados na universalidade do trabalho e da técnica? Mas, a
violência põe-nos de sobreaviso contra ela. Convém confiar à consciência
princípios de direito, de cultura etc., nos quais se baseia essa consciência
para realizar a unificação do mundo, serão verdadeiramente os mais profundos?
Não menosprezam deliberadamente um elemento irredutível, a pessoa? E o cristão?
Não terá uma palavra a dizer? Segundo a Escritura, o primeiro homem que
acreditou no universalismo foi Abraão, o pai das nações. Deus lhe prometeu que
estas, um dia, estariam reunidas na sua descendência, e o patriarca acreditou;
foi o primeiro acto de fé feito por um homem.
Os povos caminharão na
tua luz
Israel recebeu a missão de reunir todos os povos na
descendência de Abraão e de realizar assim a promessa do universalismo. Israel
acreditou, erroneamente, poder formar essa unidade com certo número de práticas
particulares: a lei, o sábado, a circuncisão. Só a fé de Abraão teria sido
capaz de reunir todos os pagãos, mas os judeus não souberam desligá-la das suas
práticas formais.
O anúncio de um novo povo de Deus, de dimensões universais,
prefigurado e preparado no povo eleito, realiza-se plenamente em Jesus Cristo,
para quem converge e que recapitula todo o plano de Deus (Ef 1,9-10). Nele,
tudo o que estava dividido encontra de novo a unidade.
Convocando os magos do Oriente, Jesus começa a reunir os
povos, a dar unidade à grande família humana, que se realizará plenamente
quando a fé em Jesus Cristo fizer cair as barreiras existentes entre os homens,
e na unidade da fé todos se sentirão filhos de Deus, igualmente redimidos e
irmãos.
Este novo povo é a Igreja, comunidade dos que crêem; ela
realiza-se e testemunha, através dos séculos, o chamamento universal de todos
os homens à salvação, pela obra unificadora de Cristo. É significativa a visão
final do Novo Testamento (Ap 7,4-12; 15,34; 21,24-26): uma multidão de raças,
povos e línguas, que saúdam a Deus, o rei das nações, e que habitarão a nova
Jerusalém, onde a família humana encontrará a unidade.
Há sempre uma estrela
no céu
Todo discurso sobre a “unidade”, em qualquer campo, corre
facilmente o risco de ser mal compreendido. Frequentemente entende-se por
unidade uma uniformidade monótona, a anulação de todas as diferenças
individuais, um total nivelamento. Inaugura-se assim um sistema de simples
rótulos e simples exclusão. Quem não se adapta à medida geral é rotulado como
extremista, reaccionário ou herege. No entanto, a diversidade e a variedade dos
caracteres das nações são a riqueza da humanidade. Também o facto de a Igreja ser
una e universal não impede que possam coexistir no seu seio “diversos modos de
viver a única fé”. Durante muito tempo esteve a Igreja ligada ao mundo cultural
ocidental e ao homem branco, a ponto de reduzir o cristianismo a imagens e
categorias mentais tipicamente europeias; mas a Igreja de Cristo não pode ser
branca, nem negra, nem amarela, como não pode ser proletária, burguesa ou
capitalista; as suas portas estão abertas a todos. O cristão autêntico não pode
refutar aprioristicamente a novidade ou a originalidade por si mesmas, mas deve
antes verificar se não são elas apenas uma nova dimensão da fé no único Cristo.
Muitas experiências actuais, que às vezes escandalizam os defensores da
uniformidade (não da unidade), são o sinal do vigor da vida da Igreja. Cristo dá-nos
o sentido de tudo: Ama a Deus com todo o teu coração; amai-vos como eu vos amei
(cf Mc 12,30; Jo 13,34). Aqui encontramos o sentido e a direcção: essa é a
estrela que devemos seguir para atingir nosso autêntico e único centro de
unidade.
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