quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

UNIDADE OU UNICIDADE




Epifania = Manifestação de Jesus aos gentios (nomeadamente, aos Reis Magos).



 Na Igreja, Cristo revela-se a todos os povos


Entre todas as orientações que o Concílio Vaticano II encaminhou ou pôs em relevo, uma das mais importantes e significativas é o apelo à unidade fundamental da família humana (cf, por ex., GS 24; 26; 27).

Visando o universalismo
A humanidade tende a um universalismo até agora nunca atingido e que produzirá um novo tipo de homem, cuja cultura não será mais limitada à da sua civilização e cujos meios técnicos serão património de todos. Este dinamismo impressionante é tão característico da esperança contemporânea, que os que manifestam exclusividade racial, nacional ou cultural são considerados ultrapassados.
Mas, de que meios dispõe a humanidade para atingir este sonho? Experimentam-se muitos métodos que têm certa parte de verdade e eficácia mas que acarretam muitos problemas. Convirá recorrer à força? A experiência de grandes impérios baseados na universalidade do trabalho e da técnica? Mas, a violência põe-nos de sobreaviso contra ela. Convém confiar à consciência princípios de direito, de cultura etc., nos quais se baseia essa consciência para realizar a unificação do mundo, serão verdadeiramente os mais profundos? Não menosprezam deliberadamente um elemento irredutível, a pessoa? E o cristão? Não terá uma palavra a dizer? Segundo a Escritura, o primeiro homem que acreditou no universalismo foi Abraão, o pai das nações. Deus lhe prometeu que estas, um dia, estariam reunidas na sua descendência, e o patriarca acreditou; foi o primeiro acto de fé feito por um homem.

Os povos caminharão na tua luz
Israel recebeu a missão de reunir todos os povos na descendência de Abraão e de realizar assim a promessa do universalismo. Israel acreditou, erroneamente, poder formar essa unidade com certo número de práticas particulares: a lei, o sábado, a circuncisão. Só a fé de Abraão teria sido capaz de reunir todos os pagãos, mas os judeus não souberam desligá-la das suas práticas formais.
O anúncio de um novo povo de Deus, de dimensões universais, prefigurado e preparado no povo eleito, realiza-se plenamente em Jesus Cristo, para quem converge e que recapitula todo o plano de Deus (Ef 1,9-10). Nele, tudo o que estava dividido encontra de novo a unidade.
Convocando os magos do Oriente, Jesus começa a reunir os povos, a dar unidade à grande família humana, que se realizará plenamente quando a fé em Jesus Cristo fizer cair as barreiras existentes entre os homens, e na unidade da fé todos se sentirão filhos de Deus, igualmente redimidos e irmãos.
Este novo povo é a Igreja, comunidade dos que crêem; ela realiza-se e testemunha, através dos séculos, o chamamento universal de todos os homens à salvação, pela obra unificadora de Cristo. É significativa a visão final do Novo Testamento (Ap 7,4-12; 15,34; 21,24-26): uma multidão de raças, povos e línguas, que saúdam a Deus, o rei das nações, e que habitarão a nova Jerusalém, onde a família humana encontrará a unidade.

Há sempre uma estrela no céu
Todo discurso sobre a “unidade”, em qualquer campo, corre facilmente o risco de ser mal compreendido. Frequentemente entende-se por unidade uma uniformidade monótona, a anulação de todas as diferenças individuais, um total nivelamento. Inaugura-se assim um sistema de simples rótulos e simples exclusão. Quem não se adapta à medida geral é rotulado como extremista, reaccionário ou herege. No entanto, a diversidade e a variedade dos caracteres das nações são a riqueza da humanidade. Também o facto de a Igreja ser una e universal não impede que possam coexistir no seu seio “diversos modos de viver a única fé”. Durante muito tempo esteve a Igreja ligada ao mundo cultural ocidental e ao homem branco, a ponto de reduzir o cristianismo a imagens e categorias mentais tipicamente europeias; mas a Igreja de Cristo não pode ser branca, nem negra, nem amarela, como não pode ser proletária, burguesa ou capitalista; as suas portas estão abertas a todos. O cristão autêntico não pode refutar aprioristicamente a novidade ou a originalidade por si mesmas, mas deve antes verificar se não são elas apenas uma nova dimensão da fé no único Cristo. Muitas experiências actuais, que às vezes escandalizam os defensores da uniformidade (não da unidade), são o sinal do vigor da vida da Igreja. Cristo dá-nos o sentido de tudo: Ama a Deus com todo o teu coração; amai-vos como eu vos amei (cf Mc 12,30; Jo 13,34). Aqui encontramos o sentido e a direcção: essa é a estrela que devemos seguir para atingir nosso autêntico e único centro de unidade.



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