(Domingo, 17 de Janeiro de
2016)
“APROFUNDANDO A PALAVRA”
A nova comunidade nasce na fé
Jesus é homem como nós;
tem amigos e aceita o convite para um casamento, com a sua mãe e os seus
primeiros discípulos. Esta semelhança torna-o “acessível”, “conhecível” por
nós. Mas Cristo é também “mistério” se não se revela, se não manifesta sua
identidade. Revelação que fará pouco a pouco, com sábia pedagogia.
Tudo começa com uma festa de núpcias...
Repensando, à luz do
Espírito, em tantos factos em que estivera envolvido, João descobre que Jesus
começou a revelar a própria identidade em Caná; verá culminar esta revelação na
morte, a hora de Jesus. Do mesmo modo, a adesão dos discípulos a Cristo tem uma
história; a fé começa a esboçar-se exactamente em Caná. É ai que nasce um novo
tipo de relação com Cristo e, em consequência, novas relações entre eles. O
laço que deles faz uma comunidade é a fé comum em Jesus. Cristo começa a
revelar a sua identidade não de modo verbal, explícito, como uma fórmula
dogmática, mas através de uma linguagem dos gestos.
... e termina nas núpcias eternas
Os profetas haviam
descrito as relações entre o homem e Deus em termos de relação nupcial. O povo
de Israel, esposa escolhida por Deus, foi muitas vezes infiel e teve que ser
purificado através de duras provas como o exílio. Nestes momentos de provação e
abandono, o profeta anuncia a fidelidade de Deus, que ama apesar de tudo, virá
o momento em que Deus se unirá indissoluvelmente e para sempre à humanidade.
Esta união definitiva será Jesus. Caná é vista por João como o banquete nupcial
da união definitiva do homem com Deus, a inauguração dos tempos messiânicos. O
sinal de Caná revela a glória de Jesus, desvela o seu ser divino.
Caná, início da Igreja, como comunidade de fé
Paralelamente à
primeira revelação de Jesus se dá a passagem do antigo para o novo povo de
Deus, não mais fundado sobre a carne e o sangue, mas sobre a fé em Jesus. Este
é o primeiro dos sinais feitos por Jesus; sinal visível, pelo qual manifesta
sua glória e os discípulos crêem nele.
Este grupo dos que
crêem em Jesus, nascido em Caná, se tornará a Igreja viva. Deus cumula de dons
naturais e sobrenaturais os membros da comunidade.
Esses dons não devem ser um privilégio pessoal, um meio para
a auto-afirmação, mas um serviço aos outros. Devem ser usados com critério e
para o bem comum. São fruto não das forças humanas, mas do Espírito. Essa
revelação do Cristo implica questionamento também para nós. Quais são os sinais
pelos quais pode um homem de hoje “conhecer” o Cristo? A fé de Maria leva Jesus
a “manifestar-se”. Os discípulos crêem em Jesus; chegam, de certo modo, até à
fé de Maria.
Não é esta também a missão da Igreja hoje, a missão de cada
cristão, comunicar a fé?
Hoje, a humanidade
também está em situação de exílio: guerras, medo, justiças... De onde virá a
salvação? Unicamente do esforço humano, que é necessário, ou também da aliança com
Deus?
Nesta obra de salvação
divino-humana, a Igreja e todos os que crêem têm obrigação de pôr ao serviço
tudo o que são e o que têm. A pequena Igreja, em que estamos inseridos, aguarda
talvez o momento de estar “unida” por uma fé mais viva no Cristo que se revela.
“A fé é virtude,
atitude habitual da alma, inclinação permanente a julgar, agir segundo o
pensamento do Cristo, com espontaneidade e vigor, como convém a homens ‘justificados’.
Com a graça do Espírito Santo, cresce a virtude da fé, se a mensagem cristã é
entendida e assimilada como ‘boa nova’, no sentido salvífico que tem para a
vida quotidiana do homem”.
LEITURA I – Is. 62, 1-5
“A
esposa é a alegria do marido”
O
amor entre Deus e o seu povo é frequentemente comparado, na Sagrada Escritura,
ao amor dos esposos. Jerusalém é a imagem de todo o povo de Deus, é a imagem
antecipada da própria Igreja. Pelo amor que lhe tem, o Senhor fará dela sua
esposa; será essa a glória de Jerusalém, da Igreja, a Esposa de Cristo. Com
esta leitura prepara-se a compreensão da leitura do Evangelho deste dia, onde
se lê o “sinal” das Bodas de Caná.
Leitura do
Livro de Isaías
“Por amor de
Sião não me calarei, por amor de Jerusalém não terei repouso, enquanto a sua
justiça não despontar como a aurora e a sua salvação não resplandecer como
facho ardente. Os povos hão-de ver a tua justiça e todos os reis a tua glória.
Receberás um nome novo, que a boca do Senhor designará. Serás coroa
esplendorosa nas mãos do Senhor, diadema real nas mãos do teu Deus. Não mais te
chamarão «Abandonada», nem à tua terra «Deserta», mas hão-de chamar-te
«Predilecta» e à tua terra «Desposada», porque serás a predilecta do Senhor e a
tua terra terá um esposo. Tal como o jovem desposa uma virgem, o teu Construtor
te desposará; e como a esposa é a alegria do marido, tu serás a alegria do teu
Deus.”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Cor 12, 4-11
“Um
só e o mesmo Espírito, distribuindo a cada um conforme Lhe agrada”
Começamos
hoje a leitura da terceira parte desta epístola, de que se leu o ano passado a
segunda parte. Por ser bastante longa, é assim distribuída por mais de um ano.
Ao dirigir-se a uma comunidade onde eram frequentes as divisões, o Apóstolo
apela para a unidade, fruto da acção do Espírito de Deus, que é a fonte comum
de todos os dons que existem na Igreja. Assim, a unidade na Igreja não provém
de qualquer motivo humano, mas do facto de todos os dons que nela existem
procederem do mesmo e único Espírito.
Leitura da
primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
“Irmãos: Há
diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de
ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversidade de operações, mas é o mesmo
Deus que realiza tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito
para o bem comum. A um o Espírito dá a mensagem da sabedoria, a outro a
mensagem da ciência, segundo o mesmo Espírito. É um só e o mesmo Espírito que
dá a um o dom da fé, a outro o poder de curar; a um dá o poder de fazer
milagres, a outro o de falar em nome de Deus; a um dá o discernimento dos
espíritos, a outro o de falar diversas línguas, a outro o dom de as
interpretar. Mas é um só e o mesmo Espírito que faz tudo isto, distribuindo os
dons a cada um conforme Lhe agrada.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Jo 2, 1-11
“O primeiro milagre de Jesus”
O
milagre que Jesus fez nas Bodas de Caná pertence ainda ao ciclo da Epifania. De
facto, por meio dele, o Senhor Se manifestou. A transformação da água em vinho
e o facto de tal ter acontecido num banquete de núpcias e ainda o chamar-lhe o
Evangelho um “sinal” leva-nos a perscrutar o mistério desta epifania ou
manifestação do Senhor. Aquela não era ainda a hora de Jesus, que havia de
chegar na hora da Cruz; mas aquele “sinal” apontava já para lá, para a hora das
núpcias do Cordeiro, a hora do sacrifício que sela a Aliança, nova e
definitiva, entre Deus e os homens, pelo Sangue de Jesus.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
“Naquele
tempo, realizou-se um casamento em Caná da Galileia e estava lá a Mãe de Jesus.
Jesus e os seus discípulos foram também convidados para o casamento. A certa
altura faltou o vinho. Então a Mãe de Jesus disse-Lhe: «Não têm vinho». Jesus
respondeu-Lhe: «Mulher, que temos nós com isso? Ainda não chegou a minha hora».
Sua Mãe disse aos serventes: «Fazei tudo o que Ele vos disser». Havia ali seis
talhas de pedra, destinadas à purificação dos judeus, levando cada uma de duas
a três medidas. Disse-lhes Jesus: «Enchei essas talhas de água». Eles
encheram-nas até acima. Depois disse-lhes: «Tirai agora e levai ao chefe de mesa».
E eles levaram. Quando o chefe de mesa provou a água transformada em vinho, –
ele não sabia de onde viera, pois só os serventes, que tinham tirado a água,
sabiam – chamou o noivo e disse-lhe: «Toda a gente serve primeiro o vinho bom
e, depois de os convidados terem bebido bem, serve o inferior. Mas tu guardaste
o vinho bom até agora». Foi assim que, em Caná da Galileia, Jesus deu início
aos seus milagres. Manifestou a sua glória e os discípulos acreditaram n’Ele.”
Palavra da Salvação
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