DOMINGO XVII
DO TEMPO COMUM
[CATECISMO]
DIRIGIR-SE A DEUS COM PERSEVERANÇA E
CONFIANÇA FILIAL [2609-2610, 2613, 2777-2785]
2609 O coração, assim decidido a converter-se,
aprende a orar na fé. A fé é uma adesão filial a Deus, para além de tudo quanto
sentimos e compreendemos. Tornou-se possível, porque o Filho bem-amado nos
franqueia o acesso até junto do Pai. Ele pode pedir-nos que «procuremos» e
«batamos à porta», porque Ele próprio é a porta e o caminho.
2610 Do mesmo modo que Jesus ora ao Pai e Lhe dá graças antes de receber os
seus dons, assim também nos ensina esta audácia filial: «tudo o que
pedirdes na oração, acreditai que já o alcançastes» (Mc 11, 24). Tal é a
força da oração: «tudo é possível a quem crê» (Mc 9, 23), com uma fé que
não hesita. Assim como Jesus Se entristece por causa da «falta de fé» dos seus
conterrâneos (Mc 6, 6) e da «pouca fé» dos seus discípulos, também Se
enche de admiração perante a «grande fé» do centurião romano e da cananeia.
2613 São Lucas transmite-nos três parábolas
principais sobre a oração. A primeira, a do «amigo importuno», convida-nos a
uma oração persistente: «Batei, e a porta abrir-se-vos‑á». Àquele que assim ora, o Pai celeste «dará tudo quanto necessitar» e
dará, sobretudo, o Espírito Santo, que encerra todos os dons. A segunda, a da
«viúva importuna», está centrada numa das qualidades da oração: é preciso orar
sem se cansar, com a paciência da fé. «Mas o Filho do Homem, quando
voltar, achará porventura fé sobre a terra?». A terceira, a do «fariseu e do
publicano», diz respeito à humildade do coração orante. «Meu Deus, tende
compaixão de mim, que sou pecador». A Igreja não cessa de fazer sua esta
oração: «Kyrie, eleison!».
2777 Na liturgia
romana, a assembleia eucarística é convidada a orar ao nosso Pai com ousadia
filial. As liturgias orientais utilizam e desenvolvem expressões análogas:
«Ousar com toda a segurança», «tornai-nos dignos de». Diante da sarça ardente
foi dito a Moisés: «Não te aproximes. Descalça as sandálias» (Ex 3, 5).
Este umbral da santidade divina, só Jesus o podia franquear, Ele que, «tendo
realizado a purificação dos pecados» (Heb 1, 3), nos introduz perante a face
do Pai: «Eis-me, a mim e aos filhos que Deus Me deu!» (Heb 2, 13):
«A consciência que temos da nossa situação de escravos far-nos-ia sumir
sob o chão, a nossa condição terrena dissolver-se-ia em pó, se a autoridade do
próprio Pai e o Espírito do Seu Filho não nos levasse a soltar este grito:
“Abbá, Pai!” (Rm 8, 15) [...]. Quando é que a fraqueza dum mortal se
atreveria a chamar a Deus seu Pai, senão somente quando o íntimo do homem é
animado pelo poder do alto?».
2778 Este poder do
Espírito que nos introduz na oração do Senhor é expresso, nas liturgias do
Oriente e do Ocidente, pela bela expressão tipicamente cristã: «parrésia»,
simplicidade sem desvio, confiança filial, segurança alegre, ousadia humilde,
certeza de ser amado.
2779 Antes de fazermos
nosso este primeiro impulso da oração do Senhor, convém purificar humildemente o
nosso coração de certas falsas imagens «deste mundo». A humildade faz‑nos reconhecer que «ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem
o Filho Se dignar revela‑Lo», quer dizer
«os pequeninos» (Mt 11, 25-27). A purificação do coração
refere-se às imagens paternas ou maternas provenientes da nossa história
pessoal e cultural, que influenciam o nosso relacionamento com Deus. É que Deus,
nosso Pai, transcende as categorias do mundo criado. Transpor para Ele ou
contra Ele, as nossas ideias neste domínio, seria fabricar ídolos, a adorar ou
a derrubar. Orar ao Pai é entrar no seu mistério, tal como Ele é e tal como o
Filho no-Lo revelou:
«A expressão Deus Pai nunca tinha sido revelada a ninguém. Quando
o próprio Moisés perguntou a Deus quem era, ouviu um nome diferente. A nós,
este nome foi revelado no Filho; porque este nome (de Filho) implica o nome de
Pai».
2780 Nós podemos
invocar Deus como «Pai», porque Ele nos foi revelado pelo seu Filho
feito homem e porque o seu Espírito no-Lo faz conhecer. A relação pessoal do
Filho com o Pai, que o homem não pode conceber nem os poderes angélicos podem
entrever, eis que o Espírito do Filho nos faz participar dela, a nós que cremos
que Jesus é o Cristo e que nascemos de Deus.
2781 Quando oramos ao
Pai, estamos em comunhão com Ele e com o seu Filho Jesus Cristo. É então
que O reconhecemos num encantamento sempre novo. A primeira palavra da oração
do Senhor é uma bênção de adoração, antes de ser uma súplica. Porque a glória
de Deus é que nós O reconheçamos como «Pai», Deus verdadeiro. Damos-Lhe graças
por nos ter revelado o seu nome, por nos ter dado a graça de acreditar n’Ele,
de sermos habitados pela sua presença.
2782 Nós podemos adorar
o Pai porque Ele nos fez renascer para a sua vida adoptando-nos por seus
filhos no seu Filho Único: pelo Baptismo, incorpora-nos no corpo do seu Cristo;
e pela Unção do seu Espírito, que da Cabeça se derrama pelos membros, faz de
nós «cristos»:
«Deus, que nos predestinou para a adopção de filhos, tornou-nos
conformes ao corpo glorioso de Cristo. Doravante, pois, participantes de
Cristo, sois com todo o direito chamados “cristos”».
«O homem novo, que renasceu e foi restituído ao seu Deus pela graça,
começa por dizer, “Pai!”, porque se tornou filho».
2783 Deste modo, pela
oração do Senhor, nós somos revelados a nós próprios, ao mesmo tempo que
nos é revelado o Pai:
«Ó homem, tu não ousavas levantar o teu rosto para o céu, baixavas os
teus olhos para a terra, e de repente recebeste a graça de Cristo: todos os
pecados te foram perdoados, de mau servo tornaste-te bom filho [...]. Portanto,
ergue os olhos para o Pai que te resgatou pelo seu Filho e diz: Pai nosso
[...]. Mas não reivindiques para ti algo de especial. Só de Cristo é que Ele é
Pai de modo especial, de todos nós é Pai em comum; porque só a Ele gerou, ao passo
que a nós, criou-nos. Portanto, por graça, diz também tu “Pai nosso”, para mereceres
ser filho».
2784 Este dom gratuito
da adopção exige da nossa parte uma conversão contínua e uma vida nova.
Orar ao nosso Pai deve desenvolver em nós duas disposições fundamentais:
O desejo e a vontade de nos parecermos com Ele. Criados à sua
imagem, é pela graça que a semelhança nos é restituída e a ela devemos
corresponder.
«Devemos lembrar-nos de que, quando chamamos a Deus «Pai nosso», temos
de nos comportar como filhos de Deus».
«Vós não podeis chamar vosso Pai ao Deus de toda a bondade se conservardes
um coração cruel e desumano; porque, nesse caso, já não tendes a marca da
bondade do Pai celeste».
«Devemos contemplar incessantemente a beleza do Pai e impregnar dela a
nossa alma».
2785 Um coração humilde
e confiante que nos faça «voltar ao estado de crianças» (Mt 18, 3): porque é
aos «pequeninos» que o Pai Se revela (Mt 11, 25):
É um estado «que se forma contemplando a Deus somente, com o ardor da
caridade. Nele, a alma funde-se e abisma-se em santa dilecção e trata com Deus
como com o seu próprio Pai, muito familiarmente, numa ternura de piedade muito
particular».
«Pai nosso: este nome suscita em nós ao mesmo tempo o amor, o afecto na
oração, [...] e também a esperança de obter o que vamos pedir [...]. De facto,
que pode Ele recusar à súplica dos seus filhos, quando já previamente lhes
permitiu que fossem filhos seus?».
[LITURGIA DA PALAVRA]
LEITURA I – Gen 18, 20-32
“Se
o meu Senhor não levar a mal, falarei”
Abraão
era um homem profundamente solidário com aqueles que viviam a seu lado. Não se
valeu da sua condição de justo para desprezar os que não o eram. Procurou antes
obter de Deus o perdão para aqueles que mereciam per castigados. Alguém, por
isso, lhe chamou “cristão antes de Cristo”. Mas maior do que a fé de Abraão é a
santidade e a misericórdia de Deus, que, não suportando o pecado dos homens,
está sempre pronto a ouvi-los e a perdoar-lhes, sempre que estes saibam
voltar-se para Ele.
Leitura do
Livro do Génesis
“Naqueles
dias, disse o Senhor: «O clamor contra Sodoma e Gomorra é tão forte, o seu
pecado é tão grave que Eu vou descer para verificar se o clamor que chegou até
Mim corresponde inteiramente às suas obras. Se sim ou não, hei-de sabê-lo». Os
homens que tinham vindo à residência de Abraão dirigiram-se então para Sodoma,
enquanto o Senhor continuava junto de Abraão. Este aproximou-se e disse: «Irás
destruir o justo com o pecador? Talvez haja cinquenta justos na cidade.
Matá-los-ás a todos? Não perdoarás a essa cidade, por causa dos cinquenta
justos que nela residem? Longe de Ti fazer tal coisa: dar a morte ao justo e ao
pecador, de modo que o justo e o pecador tenham a mesma sorte! Longe de Ti! O
juiz de toda a terra não fará justiça?». O Senhor respondeu-lhe: «Se encontrar
em Sodoma cinquenta justos, perdoarei a toda a cidade por causa deles». Abraão
insistiu: «Atrevo-me a falar ao meu Senhor, eu que não passo de pó e cinza:
talvez para cinquenta justos faltem cinco. Por causa de cinco, destruirás toda
a cidade?». O Senhor respondeu: «Não a destruirei se lá encontrar quarenta e
cinco justos». Abraão insistiu mais uma vez: «Talvez não se encontrem nela mais
de quarenta». O Senhor respondeu: «Não a destruirei em atenção a esses
quarenta». Abraão disse ainda: «Se o meu Senhor não levar a mal, falarei mais
uma vez: talvez haja lá trinta justos». O Senhor respondeu: «Não farei a
destruição, se lá encontrar esses trinta». Abraão insistiu novamente:
«Atrevo-me ainda a falar ao meu Senhor: talvez não se encontrem lá mais de
vinte justos». O Senhor respondeu: «Não destruirei a cidade em atenção a esses
vinte». Abraão prosseguiu: «Se o meu Senhor não levar a mal, falarei ainda esta
vez: talvez lá não se encontrem senão dez». O Senhor respondeu: «Em atenção a
esses dez, não destruirei a cidade».”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Col 2, 12-14
“Deus
fez que, unidos a Cristo, voltásseis à vida e perdoou todas as faltas”
No
baptismo, os cristãos são associados à morte e à ressurreição de Cristo; por
isso, nenhum poder do mal triunfará deles, se guardarem sempre a sua condição
de baptizados e, como tais, chamados à santidade. Foi para nos tornar
participantes da santidade de Deus, que o Senhor Jesus Cristo Se entregou à
morte sobre a cruz e nos libertou da morte eterna.
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
“Irmãos:
Sepultados com Cristo no baptismo, também com Ele fostes ressuscitados pela fé
que tivestes no poder de Deus que O ressuscitou dos mortos. Quando estáveis
mortos nos vossos pecados e na incircuncisão da vossa carne, Deus fez que
voltásseis à vida com Cristo e perdoou-nos todas as nossas faltas. Anulou o
documento da nossa dívida, com as suas disposições contra nós; suprimiu-o,
cravando-o na cruz.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 11, 1-13
“Pedi e dar-se-vos-á”
Jesus
dá vários ensinamentos aos discípulos sobre a oração: ensina-lhes o
“Pai-Nosso”, que é o modelo de toda a oração; convida-os a implorar de Deus,
com persistência, o auxílio para as suas necessidades; exorta-os a dirigirem-se
ao Pai com toda a confiança.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, estava Jesus em oração em certo lugar. Ao terminar, disse-Lhe um dos
discípulos: «Senhor, ensina-nos a orar, como João Baptista ensinou também os
seus discípulos». Disse-lhes Jesus: «Quando orardes, dizei: ‘Pai, santificado
seja o vosso nome; venha o vosso reino; dai-nos em cada dia o pão da nossa
subsistência; perdoai-nos os nossos pecados, porque também nós perdoamos a todo
aquele que nos ofende; e não nos deixeis cair em tentação’». Disse-lhes ainda:
«Se algum de vós tiver um amigo, poderá ter de ir a sua casa à meia-noite, para
lhe dizer: ‘Amigo, empresta-me três pães, porque chegou de viagem um dos meus
amigos e não tenho nada para lhe dar’. Ele poderá responder lá de dentro: ‘Não
me incomodes; a porta está fechada, eu e os meus filhos estamos deitados e não
posso levantar-me para te dar os pães’. Eu vos digo: Se ele não se levantar por
ser amigo, ao menos, por causa da sua insistência, levantar-se-á para lhe dar
tudo aquilo de que precisa. Também vos digo: Pedi e dar-se-vos-á; procurai e
encontrareis; batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque quem pede recebe; quem
procura encontra e a quem bate à porta, abrir-se-á. Se um de vós for pai e um
filho lhe pedir peixe, em vez de peixe dar-lhe-á uma serpente? E se lhe pedir
um ovo, dar-lhe-á um escorpião? Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas
aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que
Lho pedem!».”
Palavra da Salvação
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