DOMINGO XV
DO TEMPO COMUM
[CATECISMO]
O HOMEM É CRIADO À IMAGEM DE DEUS; O
PRIMOGÉNITO [356-361, 381]
356 De todas as criaturas visíveis, só o homem é «capaz de conhecer e amar o
seu Criador»; é a «única criatura sobre a terra que Deus quis por si mesma»; só
ele é chamado a partilhar, pelo conhecimento e pelo amor, a vida de Deus. Com este
fim foi criado, e tal é a razão fundamental da sua dignidade:
«Qual foi a razão de terdes elevado o homem a tão alta dignidade? Foi
certamente o incomparável amor com que Vos contemplastes a Vós mesmo na vossa
criatura e Vos enamorastes dela; porque foi por amor que a criastes, foi por
amor que lhe destes um ser capaz de apreciar o vosso bem eterno».
357 Porque é «à imagem de Deus», o indivíduo humano possui a dignidade de pessoa:
ele não é somente alguma coisa, mas alguém. É capaz de se conhecer, de se
possuir e de livremente se dar e entrar em comunhão com outras pessoas. E é chamado,
pela graça, a uma Aliança com o seu Criador, a dar-Lhe uma resposta de fé e
amor que mais ninguém pode dar em seu lugar.
358 Deus tudo criou para o homem4, mas o homem foi criado para servir e amar a Deus,
e para Lhe oferecer toda a criação:
«Qual é, pois, o ser que vai chegar à existência rodeado de tal
consideração? É o homem, grande e admirável figura vivente, mais precioso aos
olhos de Deus que toda a criação; é o homem, para quem existem o céu e a terra
e o mar e a totalidade da criação, e a cuja salvação Deus deu tanta importância,
que, por ele, nem ao seu próprio Filho poupou. Porque Deus não desiste de tudo
realizar, para fazer subir o homem até Si e fazê-lo sentar à sua direita».
359 «Na realidade, só no mistério do Verbo Encarnado é que verdadeiramente
se esclarece o mistério do homem»:
«São Paulo ensina-nos que dois homens estão na origem do género humano:
Adão e Cristo… O primeiro Adão, diz ele, foi criado como um ser humano que
recebeu a vida; o segundo é um ser espiritual que dá a vida. O primeiro foi
criado pelo segundo, de Quem recebeu a alma que o faz viver… O segundo Adão
gravou a sua imagem no primeiro, quando o modelou. Por isso, veio a assumir a
sua função e o seu nome, para que não se perdesse aquele que fizera à sua
imagem. Primeiro e último Adão: o primeiro teve princípio; o último não terá
fim. Por isso é que o último é verdadeiramente o primeiro, como Ele mesmo diz:
“Eu sou o Primeiro e o Último”».
360 Graças à comunidade de origem, o género humano forma uma unidade. Deus
«fez, a partir de um só homem, todo o género humano» (Act 17, 26):
«Maravilhosa visão, que nos faz contemplar o género humano na unidade da
sua origem em Deus […]; na unidade da sua natureza, em todos igualmente
integrada dum corpo material e duma alma espiritual; na unidade do seu fim imediato
e da sua missão no mundo; na unidade da sua habitação, a terra, de cujos bens
todos os homens, por direito natural, podem servir-se para sustentar e
desenvolver a vida; na unidade do seu fim sobrenatural, Deus, para o Qual todos
devem tender; na unidade dos meios para atingir este fim; … na unidade da
Redenção, para todos levada a cabo por Cristo».
361 «Esta lei de solidariedade humana e de caridade», sem excluir a rica
variedade das pessoas, das culturas e dos povos, assegura-nos que todos os
homens são verdadeiramente irmãos.
381 O homem foi predestinado para reproduzir a imagem do Filho de Deus feito
homem – «imagem do Deus invisível» (Cl 1, 15) –, para que Cristo seja o primogénito
duma multidão de irmãos e irmãs.
O PRÓXIMO DEVE SER CONSIDERADO COMO “UM
OUTRO ELE MESMO [1931-1933]
1931 O respeito pela pessoa humana passa pelo respeito pelo princípio: «Que
cada um considere o seu próximo, sem qualquer excepção, como «outro ele mesmo»,
e zele, antes de mais, pela sua existência e pelos meios que lhe são
necessários para viver dignamente». Nenhuma legislação será capaz, por si
mesma, de fazer desaparecer os temores, os preconceitos, as atitudes de orgulho
e egoísmo que são obstáculo ao estabelecimento de sociedades verdadeiramente
fraternas. Tais atitudes só desaparecem com a caridade, que vê em cada homem um
«próximo», um irmão.
1932 O dever de nos fazermos o «próximo» do outro, e de o servirmos
activamente, é tanto mais premente quanto esse outro for mais indefeso, seja em
que domínio for. «Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais
pequeninos, a Mim o fizestes» (Mt 25, 40).
1933 Este mesmo dever é extensivo a todos os que pensam ou se comportam de
modo diferente de nós. A doutrina de Cristo chega a exigir o perdão das
ofensas. Ele estende o mandamento do amor, que é o da nova Lei, a todos os
inimigos. A libertação, no espírito do Evangelho, é incompatível com o ódio ao
inimigo, enquanto pessoa; embora não o seja com o ódio ao mal, que ele pode
praticar enquanto inimigo.
AS OBRAS DE MISERICÓRDIA CORPORAIS [2447]
2447 As obras de misericórdia são as acções caridosas pelas quais
vamos em ajuda do nosso próximo, nas suas necessidades corporais e espirituais.
Instruir, aconselhar, consolar, confortar, são obras de misericórdia
espirituais, como perdoar e suportar com paciência. As obras de misericórdia
corporais consistem nomeadamente em dar de comer a quem tem fome, albergar quem
não tem tecto, vestir os nus, visitar os doentes e os presos, sepultar os
mortos. Entre estes gestos, a esmola dada aos pobres16 é um dos
principais testemunhos da caridade fraterna e também uma prática de justiça que
agrada a Deus:
«Quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, e quem tem
mantimentos, faça o mesmo» (Lc 3, 11). «Dai antes de esmola do que
possuis, e tudo para vós ficará limpo» (Lc 11, 41). «Se um irmão ou uma
irmã estiverem nus e precisarem do alimento quotidiano, e um de vós lhe disser:
“Ide em paz; tratai de vos aquecer e de matar a fome”, mas não lhes der o que é
necessário para o corpo, de que lhes aproveitará?» (Tg 2, 15-16).
NA CELEBRAÇÃO DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA, O
SACERDOTE É COMO O BOM SAMARITANO [1465]
1465 Ao celebrar o sacramento da Penitência, o sacerdote exerce o ministério
do bom Pastor que procura a ovelha perdida; do bom Samaritano que cura as feridas;
do Pai que espera pelo filho pródigo e o acolhe no seu regresso; do justo juiz
que não faz acepção de pessoas e cujo juízo é, ao mesmo tempo, justo e
misericordioso. Em resumo, o sacerdote é sinal e instrumento do amor misericordioso
de Deus para com o pecador.
O VERBO E A CRIAÇÃO, VISÍVEL E INVISÍVEL [203,
291, 331, 703]
203 Deus revelou-Se ao seu povo Israel, dando-lhe a conhecer o seu nome. O
nome exprime a essência, a identidade da pessoa e o sentido da sua vida. Deus
tem um nome. Não é uma força anónima. Dizer o seu nome é dar-Se a conhecer aos outros;
é, de certo modo, entregar-Se a Si próprio, tornando-Se acessível, capaz de ser
conhecido mais intimamente e de ser invocado pessoalmente.
291 «No princípio era o Verbo… e o Verbo era Deus… Tudo se fez por meio
d’Ele e, sem Ele, nada se fez» (Jo 1, 1-3). O Novo Testamento revela que
Deus tudo criou por meio do Verbo eterno, seu Filho muito-amado. Foi n’Ele «que
foram criados todos os seres que há nos céus e na terra […]. Tudo foi criado
por seu intermédio e para Ele. Ele é anterior a todas as coisas, e todas se
mantêm por Ele» (Cl 1, 16-17). A fé da Igreja afirma igualmente a acção
criadora do Espírito Santo: Ele é Aquele «que dá a vida», «o Espírito Criador»
(Veni, Creator Spiritus), a «Fonte de todo o bem».
331 Cristo é o centro do mundo dos anjos (angélico). Estes pertencem-Lhe: «Quando
o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os [seus] anjos…» (Mt
25, 31). Pertencem‑Lhe, porque
criados por e para Ele: «em vista d’Ele é que foram criados todos os seres, que
há nos céus e na terra, os seres visíveis e os invisíveis, os anjos que são os
tronos, senhorias, principados e dominações. Tudo foi criado por seu intermédio
e para Ele» (Cl. 1, 16). E são d’Ele mais ainda porque Ele os fez
mensageiros do seu plano salvador: «Não são eles todos espíritos ao serviço de
Deus, enviados a fim de exercerem um ministério a favor daqueles que hão-de
herdar a salvação?» (Heb 1, 14).
703 A Palavra de Deus e o seu Sopro estão na origem do ser e da vida de
todas as criaturas.
«É próprio do Espírito Santo reinar, santificar e animar a criação,
porque Ele é Deus consubstancial ao Pai e ao Filho [...]. Pertence-Lhe o poder
sobre a vida, porque, sendo Deus, guarda a criação no Pai pelo Filho.»
[LITURGIA DA PALAVRA]
LEITURA I – Deut 30, 10-14
“Esta
palavra está perto de ti, para que a possas pôr em prática”
Esta
leitura prepara-nos para melhor compreendermos a do Evangelho: a palavra de
Deus que há-de nortear toda a nossa vida não está longe do nosso alcance. E nós
escutamo-la e cumprimo-la na vida concreta do dia a dia. Ela vem aliás ao
encontro dos anseios mais profundos do nosso coração. É que é o mesmo Deus que
nos fala na palavra e que já nos falou no coração.
Leitura do
Livro do Deuteronómio
“Moisés falou
ao povo, dizendo: «Escutarás a voz do Senhor teu Deus, cumprindo os seus
preceitos e mandamentos que estão escritos no Livro da Lei, e converter-te-ás
ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma. Este
mandamento que hoje te imponho não está acima das tuas forças nem fora do teu
alcance. Não está no céu, para que precises de dizer: ‘Quem irá por nós subir
ao céu, para no-lo buscar e fazer ouvir, a fim de o pormos em prática?’. Não
está para além dos mares, para que precises de dizer: ‘Quem irá por nós
transpor os mares, para no-lo buscar e fazer ouvir, a fim de o pormos em
prática?’. Esta palavra está perto de ti, está na tua boca e no teu coração,
para que a possas pôr em prática».”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Col 1, 15-20
“Por
Ele e para Ele tudo foi criado”
Nesta
leitura como que se faz a apresentação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sabemos
d’Ele muitas coisas, mas, no fundo, o que é que n’Ele constitui a razão de ser
daquilo que Ele é para os cristãos? Cristo é o princípio e o Fim, Aquele por
Quem tudo foi criado, e para Quem tudo existe. Para além de tudo aquilo que os
olhos exteriormente podem observar está o campo infinito que a fé nos revela.
Ele é o Primeiro na ordem da criação e o Primeiro na ordem da ressurreição.
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
“Cristo Jesus
é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; porque n’Ele
foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, Tronos
e Dominações, Principados e Potestades: por Ele e para Ele tudo foi criado. Ele
é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo subsiste. Ele é a cabeça da Igreja,
que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo
Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e
por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo
sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 10, 25-37
“Quem é o meu próximo?”
A
parábola do bom samaritano serve a Jesus para explicar ao doutor da lei quem é
o próximo e como o amor a Deus e ao próximo são, no fundo, o mesmo e único
amor: “o amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo”.
Segundo a explicação dos antigos Padres da Igreja, o homem caído nas mãos dos
salteadores é toda a humanidade, e o bom samaritano é a imagem de Jesus, Ele
que nos encontrou feridos pelo pecado à beira do caminho aonde desceu, usou de
compaixão para connosco, e nos introduziu na estalagem da sua Igreja e assim
nos salvou.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, levantou-se um doutor da lei e perguntou a Jesus para O experimentar:
«Mestre, que hei-de fazer para receber como herança a vida eterna?». Jesus
disse-lhe: «Que está escrito na Lei? Como lês tu?». Ele respondeu: «Amarás o
Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, com todas as tuas
forças e com todo o teu entendimento; e ao próximo como a ti mesmo». Disse-lhe
Jesus: «Respondeste bem. Faz isso e viverás». Mas ele, querendo justificar-se,
perguntou a Jesus: «E quem é o meu próximo?». Jesus, tomando a palavra, disse:
«Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores.
Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o
meio- morto. Por coincidência, descia pelo mesmo caminho um sacerdote; viu-o e
passou adiante. Do mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e
passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele
e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando
azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma
estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas, deu-as ao
estalajadeiro e disse: ‘Trata bem dele; e o que gastares a mais eu to pagarei
quando voltar’. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que
caiu nas mãos dos salteadores?». O doutor da lei respondeu: «O que teve
compaixão dele». Disse-lhe Jesus: Então vai e faz o mesmo».”
Palavra da Salvação
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