DOMINGO XXVII DO TEMPO COMUM
A força de quem tem fé
Cristianismo é fé. Esta é sua característica específica. “Nós afirmamos
muito facilmente, como pressuposto, que religião e fé são a mesma coisa. Mas
isso só é verdade até certo ponto...
Por exemplo, o Antigo Testamento apresentou-se, no seu conjunto, não sob
o conceito de fé, mas de lei.
Encarna primariamente um género de vida, no âmbito do qual o acto de fé
vai continuamente adquirindo maior importância.
Mais tarde, para a religiosidade romana não é realmente decisivo que se
emita um acto de fé no sobrenatural; ele pode, decerto, faltar sem, por isso,
diminuir a religião. Sendo a religião essencialmente um sistema de ritos, o
elemento determinante é representado a seus olhos pela minuciosa observância
das cerimónias”. (J. Ratzinger).
O justo viverá
pela fé
A história da fé começa com Abraão. A sua atitude diante de Deus é de fé.
Ainda que o nosso pai na fé não tenha percebido distintamente o objecto da sua
fé, teve, entretanto, todas as condições pessoais necessárias à fé. Respondeu
prontamente sim ao chamado de Deus que derruba os seus planos, disposto a
dar-lhe tudo, até o filho, desprezando todo o cálculo humano.
Superou as aparentes contradições para se entregar somente à palavra de
Deus, e nela viu a verdade que salva.
Durante toda a história do povo de Deus, os profetas foram os arautos da
fé; convidaram a superar as seguranças e alianças humanas para se apegar com
confiança à palavra dada por Deus.
Crer é dar-se a Deus. Vemo-lo na primeira leitura: Deus “parece” ausente
da história. O profeta o interroga sobre o enigma da opressão e da injustiça
que invadem a sociedade em que vive, tanto dentro de Israel como entre as
nações pelas quais os fracos são esmagados. Deus responde que a fé é o único
caminho para compreender o mistério da história.
A resposta de Deus, porém, não é fácil consolação: fala de espera ainda
longa. O que importa é permanecer firmemente ancorados só em Deus; crer no seu
amor apesar de todas as aparências contrárias, porque a sua palavra não nos
pode enganar.
A fé é adesão
incondicional à pessoa de Jesus
No Novo Testamento, o objecto da fé atinge a plenitude: o Filho de Deus manifesta-se
e o seu reino é constituído. Mas a atitude pessoal continua a mesma; uma
decisão da vontade que ama, move a inteligência a superar os cálculos humanos
para se entregar a Deus com toda fidelidade.
A fé não consiste, pois, somente numa adesão intelectual a uma série de
verdades abstractas, mas é a adesão incondicional a uma pessoa, a Deus, que nos
propõe o seu amor em Cristo morto e ressuscitado. A fé é, portanto, obediência
a Deus, comunhão com ele, vitória sobre a solidão.
É dom de Deus, mas dom que espera a nossa livre resposta, que quer
tornar-se a alma da nossa vida quotidiana e da comunidade cristã.
Fé como
libertação de todos os Ídolos
É também conhecimento novo, modo de ler a realidade com o olhar de
Cristo. “A fé é virtude, atitude habitual da alma, inclinação permanente a
julgar e agir segundo o pensamento de Cristo com espontaneidade e vigor”.
O cristão animado pela fé, nela encontra a crítica permanente a todas as
ideologias e a libertação de todos os ídolos. “Esta é a vitória que venceu o
mundo, a nossa fé” (1Jo 5,4).
O cristão vive hoje num mundo secularizado, do qual Deus está ausente,
que vive e se organiza sem ele. Com a sua fé, tem o cristão neste mundo a
tarefa de destruir as falsas seguranças propondo-lhe as questões fundamentais e
oferecendo a todos a sua grande esperança. A fé cristã é posta diante de um
desafio: tomar-se propugnadora de problemas que nenhum laboratório, experiência
ou computador electrónico podem resolver, e que, no entanto, decidem o destino
do homem e do mundo.
Portanto, é mais do que actual para os cristãos a invocação dos
discípulos: “Senhor, aumentai a nossa fé”.
LEITURA I – Hab 1,
2-3; 2, 2-4
«O justo
viverá pela sua fé»
A
grande provação do exílio de Babilónia pôde fazer nascer no espírito de muitos
de entre o povo de Deus interrogações e dúvidas, que vieram perturbar a sua fé:
“Até quando Senhor...? Porquê ?” Mas a provação é purificação para a fé, e “o
justo viverá pela sua fidelidade”. Sendo fiel até ao fim, viverá para sempre em
Deus, a quem nenhum acontecimento do mundo poderá afectar.
Leitura da
Profecia de Habacuc
“«Até quando,
Senhor, chamarei por Vós e não me ouvis? Até quando clamarei contra a violência
e não me enviais a salvação? Porque me deixais ver a iniquidade e contemplar a
injustiça? Diante de mim está a opressão e a violência, levantam-se contendas e
reina a discórdia?» O Senhor respondeu-me: «Põe por escrito esta visão e
grava-a em tábuas com toda a clareza, de modo que a possam ler facilmente.
Embora esta visão só se realize na devida altura, ela há-de cumprir-se com
certeza e não falhará. Se parece demorar, deves esperá-la, porque ela há-de vir
e não tardará. Vede como sucumbe aquele que não tem alma recta; mas o justo
viverá pela sua fidelidade».”
Palavra do Senhor
LEITURA II – 2 Tim 1,
6-8.13-14
“Não
te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor”
A
imposição das mãos, que foi certamente para Timóteo o momento da sua ordenação,
é fonte do dom de Deus orientado para o apostolado. Este é uma obra difícil. É
necessário, por isso, recorrer constantemente a essa fonte, donde brota a graça
do Espírito Santo, que é a “força de Deus”.
Leitura da
Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
“Caríssimo:
Exorto-te a que reanimes o dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas
mãos. Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade e
moderação. Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem te
envergonhes de mim, seu prisioneiro. Mas sofre comigo pelo Evangelho, confiando
no poder de Deus. Toma como norma as sãs palavras que me ouviste, segundo a fé
e a caridade que temos em Jesus Cristo. Guarda a boa doutrina que nos foi
confiada, com o auxílio do Espírito Santo, que habita em nós.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 17, 5-10
“Se tivésseis fé!”
A
fé é a raiz de toda a vida do cristão. A fé é que nos há-de predispor a fazer,
com simplicidade e generosidade, tudo o que o Senhor nos mandar. Por isso, no
cristão, todo o serviço do reino de Deus é exercício da fé, e, no fim de tudo,
realização da sua própria vocação cristã.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé». O Senhor
respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira:
‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia. Quem de vós,
tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele voltar do campo:
‘Vem depressa sentar-te à mesa’? Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me o jantar e
cinge-te para me servires, até que eu tenha comido e bebido. Depois comerás e
beberás tu’? Terá de agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou? Assim
também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos
inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer’.”
Palavra da Salvação
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