DOMINGO XXIX DO TEMPO COMUM
O CLAMOR DO POBRE
Insistência e perseverança só existem naqueles que estão insatisfeitos
com a situação presente e, por isso, não desanimam; pelo contrário, jamais
conseguiriam alguma coisa. Deus atende àqueles que, através da oração,
testemunham o desejo e a esperança de que se faça justiça. Jesus ilustrou o seu
ensinamento, a respeito do dever de orar sem jamais desanimar, com a parábola
da pobre viúva às voltas com um juiz iníquo. A Sua doutrina tem como pano de
fundo um tema frequente na literatura sapiencial do Antigo Testamento: a
predisposição divina em ouvir e atender o clamor dos pobres. Pode-se falar em
parcialidade de Deus a favor dos seus preferidos. Ele ouve a prece de quem é
tratado injustamente e jamais rejeita a súplica do órfão e da viúva, quando
extravasam as suas queixas. O grito dos pobres atravessa as nuvens e o
Altíssimo não descansa enquanto não intervém a favor deles. Deus está sempre
pronto para defender a causa do humilde e indefeso. Em suma, coloca-se a favor
dos fracos e assume a causa deles. Pelo contrário, ele rejeita a oração dos
injustos e prepotentes, cujas mãos estão manchadas de sangue e só são usadas
para oprimir e massacrar. E, se se voltam para Deus, é só para falar com
soberba e arrogância. Resultado: a sua oração jamais obterá o beneplácito
divino! A oração do discípulo do Reino deve ser a do pobre que só conta com a protecção
divina, pois, fora de Deus, não tem a quem recorrer. A sua oração será
perseverante, uma vez que está sempre seguro de ser atendido, mesmo que isso
possa demorar. Se um Juiz iníquo acabou sendo movido pela insistência de uma
pobre viúva, quando mais o Pai misericordioso se deixará mover pelo clamor de
seus filhos queridos. Lucas, em seu evangelho, dá grande destaque à oração.
Nesta parábola, a viúva, que é uma das categorias de extrema exclusão na
Bíblia, representa o povo oprimido. O juiz é a expressão da classe dirigente,
elitista e opressora. A insistência e a perseverança da viúva vencem a
indiferença e a omissão do juiz iníquo. Se o pedido insistente da viúva demoveu
o juiz iníquo da sua posição omissa, com maior razão Deus fará justiça aos seus,
que a ele clamam dia e noite. É o clamor do seu povo, oprimido por um poder
injusto, opressor e idólatra do dinheiro. Este poder acumula as riquezas que
deveriam ser destinadas à promoção da vida no mundo e aplica-as nas fabulosas e
sofisticadas armas de destruição. É o clamor que exprime o desejo de uma nova
sociedade, com a restauração da justiça e da vida plena para todos.
LEITURA I – Ex 17,
8-13
«Quando
Moisés erguia as mãos, Israel ganhava vantagem»
O
episódio de Moisés de braços erguidos em oração pela vitória do seu povo no
combate contra os Amalecitas é-nos hoje lido em relação com a leitura do
Evangelho, em que se nos fala da perseverança na oração. Seremos capazes de
acreditar que Deus tem os ouvidos atentos à oração dos pobres e dos humildes
que sabem confiar-se a Ele?
Leitura do
Livro do Êxodo
Naqueles dias,
Amalec veio a Refidim atacar Israel. Moisés disse a Josué: «Escolhe alguns homens
e amanhã sai a combater Amalec. Eu irei colocar-me no cimo da colina, com a
vara de Deus na mão». Josué fez o que Moisés lhe ordenara e atacou Amalec,
enquanto Moisés, Aarão e Hur subiram ao cimo da colina. Quando Moisés tinha as
mãos levantadas, Israel ganhava vantagem; mas quando as deixava cair, tinha
vantagem Amalec. Como as mãos de Moisés se iam tornando pesadas, trouxeram uma
pedra e colocaram-na por debaixo para que ele se sentasse, enquanto Aarão e
Hur, um de cada lado, lhe seguravam as mãos. Assim se mantiveram firmes as suas
mãos até ao pôr do sol e Josué desbaratou Amalec e o seu povo ao fio da espada.”
Palavra do Senhor
LEITURA II – 2 Tim 3, 14 –
4, 2
“O
homem de Deus será perfeito, bem preparado para todas as boas obras”
Ao
procurar a formação do seu discípulo Timóteo, S. Paulo incute-lhe o amor à
palavra de Deus, contida na Sagrada Escritura. A leitura assídua que dela
fazemos, ao menos, mas sobretudo na celebração da liturgia, é a melhor escola
de formação no serviço de Deus, e sempre alimento que fortifica no crescimento
da vida em Cristo, pois que ela continua a ser criadora.
Leitura da
Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
“Caríssimo:
Permanece firme no que aprendeste e aceitaste como certo, sabendo de quem o
aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras; elas podem dar-te
a sabedoria que leva à salvação, pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura,
inspirada por Deus, é útil para ensinar, persuadir, corrigir e formar segundo a
justiça. Assim o homem de Deus será perfeito, bem preparado para todas as boas
obras. Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo, que há-de julgar os vivos e
os mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: Proclama a palavra, insiste
a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a
paciência e doutrina.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Lc 18, 1-8
“Deus fará justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam”
No
princípio da leitura desta passagem do Evangelho explica-se a intenção de Jesus
ao pronunciar esta parábola: “Sobre a necessidade de orar sempre, sem
desanimar”. A maior penúria do homem não será não possuir, mas não ter coragem
de sentir a necessidade de pedir! Não queremos ser certamente dos que vão
desanimar na sua fé antes da vinda do Senhor! Para isso, oramos sem cessar.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele
tempo, Jesus disse aos seus discípulos uma parábola sobre a necessidade de orar
sempre sem desanimar: «Em certa cidade vivia um juiz que não temia a Deus nem
respeitava os homens. Havia naquela cidade uma viúva que vinha ter com ele e
lhe dizia: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário’. Durante muito tempo ele
não quis atendê-la. Mas depois disse consigo: ‘É certo que eu não temo a Deus
nem respeito os homens; mas, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe
justiça, para que não venha incomodar-me indefinidamente’». E o Senhor
acrescentou: «Escutai o que diz o juiz iníquo!... E Deus não havia de fazer
justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los
esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa. Mas quando
voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre a terra?».”
Palavra da Salvação
Sem comentários:
Enviar um comentário