sábado, 22 de outubro de 2016

Quem se humilha será exaltado




DOMINGO XXX DO TEMPO COMUM

Deus transforma em justo quem o busca com fé

Todos os homens participam da mesma impotência e são solidários no mesmo estado de ruptura com Deus; não podem salvar-se por si mesmos, isto é, não podem entrar sozinhos na amizade de Deus. O primeiro acto de verdade que o homem deve fazer é reconhecer-se pecador, impotente para se salvar, e abrir-se, pois, à acção de Deus.

O fariseu e o publicano: dois modos de dialogar com Deus
Vemos, na parábola, dois modos de conceber o homem e a sua relação com Deus. A oração do fariseu é uma acção de graças a Deus. Mas só aparentemente. Na realidade é um pretexto para se louvar a si mesmo e não a Deus, comprazer-se em si por não ter pecado algum e pelo mérito das boas obras; diante disso considera-se justificado e “exige” de Deus a recompensa. A oração do fariseu não é oração, é o seu oposto. O publicano, pelo contrário, está “na verdade”: consciente da sua culpa e de não ter méritos diante de Deus. Pede misericórdia. A sua é a verdadeira oração.
Assim, pode-se perceber por trás das duas personagens da parábola a oposição entre os dois tipos de justiça: a do homem que pensa poder realizá-la pelo cumprimento perfeito da lei, e a que Deus concede ao pecador, que se reconhece como tal e se converte. O tema paulino da justificação mediante a fé já se encontra delineado nesta parábola.

Por que a fé em Cristo “justifica” o homem
O cristão é realmente o homem justificado pela fé em Jesus Cristo, naquele que é, ao mesmo tempo, dom substancial do Pai e homem entre os homens, e que pôde dar a única resposta agradável a Deus. É este o motivo pelo qual a fé em Jesus salva. De facto, Jesus inaugura na sua pessoa o reino do Pai, no qual se realiza o destino do homem. De si, como dos seus irmãos, Jesus exige a renúncia absoluta, que implica a fidelidade à condição de criatura: renúncia até à morte e, se necessário, até à morte na cruz. É o salvador do mundo que fala assim.
Como pode esse homem, que levou até as últimas consequências a revelação da condição humana, proclamar-se ao mesmo tempo salvador da humanidade? A esta pergunta há uma só resposta: verdadeiramente, este homem é o Filho de Deus; Deus amou tanto o mundo que, por isso, lhe deu seu Filho único; e ao mesmo tempo, ele é homem entre os homens; a sua fidelidade de criatura é, por identidade, uma fidelidade filial. A resposta activa deste homem encontra-se perfeitamente com a iniciativa divina da salvação.

A fé, fonte de vida nova – vida de filho
A união a Cristo torna-nos capazes da mesma “fidelidade filial” até à cruz. O homem é “justificado” porque a fé em Cristo lhe dá acesso ao Pai na qualidade de filho adoptivo.
A salvação é o dom divino; torna-se, no homem, fonte de uma actividade filial, em que se realiza, ilimitadamente, a fidelidade à nova lei do amor. Paulo, o arauto da justificação pela fé, é também a grande testemunha da vida nova que vem da fé em Cristo. Agora, velho, no cárcere, na expectativa da condenação à morte, reflecte sobre sua vida (2ª leitura). A sua experiência de Cristo termina por um malogro humano: todos o abandonaram, nenhum o defendeu em juízo. Mas ele “conservou a fé”, combateu por Cristo e permaneceu fiel até a meta final. A sua esperança leva-o à certeza da “recompensa” que receberá de Cristo pela sua vida de dedicação e amor a exemplo de Jesus.

Hoje a suficiência farisaica não é mais a observância de uma lei: toma outro nome.
Em muita gente ela é a convicção de que o homem pode salvar-se como homem, apelando unicamente para os seus recursos. O homem salva o homem mediante a ciência, a política, a arte...
É, por isso, mais do que nunca necessário que os cristãos anunciem ao mundo Cristo como salvador. A salvação que ele traz não se opõe à salvação humana. Mas, conduz essa mesma salvação à plenitude. Com a celebração dos sacramentos, especialmente da eucaristia, os cristãos dão testemunho da necessidade da intervenção divina na vida do homem, põem-se sob a acção de Deus presente, com seu espírito, e fazem a experiência privilegiada da justificação obtida mediante a fé em Jesus Cristo. Devem, por isso, estar continuamente vigilantes para não participarem dos sacramentos com espírito farisaico.

LEITURA I – Sir 35, 15b-17.20-22a

«A oração do humilde atravessa as nuvens»

Deus é a própria Verdade; diante d’Ele o homem deve agir com toda a verdade, sob pena de não ser acolhido por Ele. A oração deve ser o momento mais verdadeiro diante de Deus. E a oração humilde será sempre escutada por Deus.

Leitura do Livro de Ben-Sirá
O Senhor é um juiz que não faz acepção de pessoas. Não favorece ninguém em prejuízo do pobre e atende a prece do oprimido. Não despreza a súplica do órfão, nem os gemidos da viúva. Quem adora a Deus será bem acolhido e a sua prece sobe até às nuvens. A oração do humilde atravessa as nuvens e não descansa enquanto não chega ao seu destino. Não desiste, até que o Altíssimo o atenda, para estabelecer o direito dos justos e fazer justiça.”
Palavra do Senhor

LEITURA II – 2 Tim 4, 6-8.16-18

Já me está preparada a coroa da justiça

A leitura faz-nos escutar a última mensagem de S. Paulo antes de sofrer o martírio: abandonado dos homens, ele sente-se plenamente confiante na justiça de Deus que nunca o abandonou nem abandonará.

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
“Caríssimo: Eu já estou oferecido em libação e o tempo da minha partida está iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há-de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda. Na minha primeira defesa, ninguém esteve a meu lado: todos me abandonaram. Queira Deus que esta falta não lhes seja imputada. O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todas as nações a ouvissem; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste. Glória a Ele pelos séculos dos séculos. Ámen.”
Palavra do Senhor

EVANGELHO – Lc 18, 9-14

O publicano desceu justificado para sua casa e o fariseu não

Jesus ensina, por meio de uma parábola, como devemos orar. Este ensinamento não se aplica somente à oração individual, mas também à oração da assembleia litúrgica, onde os sinais de festa hão-de proceder sempre de um coração humilde e consciente do dom de Deus, que comunitariamente celebramos.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Naquele tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros: «Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava assim: ‘Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’. O publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; mas batia no peito e dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador’. Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».”
Palavra da Salvação



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