3.º Domingo da
Quaresma
“Cristo, água para nossa sede”
O tema da água que salva volta com frequência na liturgia quaresmal. A
Igreja oferece à comunidade cristã que revive o seu baptismo uma síntese da
história da salvação, servindo-se do rico simbolismo da água.
A água tem sua
linguagem
Necessária para a existência de todos os seres vivos, a água é um
elemento “natural” que nos é dado, não é fruto de trabalho: a água viva de uma
fonte exprime também o milagre renovado da vida. Fazendo brotar água da rocha,
Deus manifesta-se salvador do seu povo e põe-no em condições de prosseguir a
viagem até à terra prometida. Repensando essas maravilhas de Deus nos momentos
mais obscuros e difíceis de sua história, Israel projecta para um futuro mais
ou menos distante a posse de uma terra de águas abundantes, na qual o deserto
se transformará em viçoso pomar. A abundância de água torna-se símbolo da
abundante salvação que virá unicamente de Deus: um rio que brota do templo
purificará o povo, saciará a sua sede, fecundará a terra.
No Novo Testamento, a água exprime simbolicamente o dom do Espírito para
a geração de uma humanidade nova. Cristo, sobre quem desceu o Espírito no
momento do baptismo, anuncia um renascimento na água e no Espírito, promete uma
abundância de água-Espírito para os que crêem. A sua pessoa identifica-se,
pois, com a Rocha (como observava são Paulo, recapitulando os “sinais” do
deserto, 1Cor 10,4), o novo Templo, a fonte que mata a sede na vida eterna.
João vê o cumprimento do sinal na hora da morte-glorificação de Jesus, quando
ele “entrega o espírito” e do seu lado traspassado correm sangue e água.
A água do nosso baptismo
A água do baptismo pode, portanto, lavar os pecados e fazer renascer os
filhos de Deus em virtude do sangue de Cristo, fonte de todo perdão. Quem
confessa que Cristo é o Messias, o enviado de Deus, aceita que a salvação se
faça da maneira e no momento querido por Deus; compreende que a sua sede
profunda só é saciada pelo dom de Cristo; toma-se, para os que o cercam como a
mulher samaritana, revelador da presença que tudo transforma.
No momento do baptismo, a Igreja, que através da catequese preparou a
profissão de fé no Filho de Deus, recapitula na sua oração os acontecimentos
salvíficos relacionados com a água e cumpre a ordem de Cristo: baptizai em nome
da Trindade. Assim, como gostava de repetir Agostinho, “pela união da palavra
(da fé) com o elemento (água) realiza-se o sacramento”, dom de Deus e livre
resposta do homem.
Sede de valores
numa sociedade de consumo
Encontramo-nos diante da sede de um povo no deserto, da sede de uma
mulher no poço. A sede é símbolo de uma necessidade íntima, vital, torturante.
Além da sede fisiológica, há uma sede mais profunda em todo o homem, em toda a sociedade,
em toda a comunidade do nosso tempo: procuramos cada vez mais “coisas para
saciá-la; nada nos basta, nada nos satisfaz”. A nossa civilização só nos
oferece “bens de consumo”, não valores espirituais. Convida-nos ao oportunismo,
ao mais fácil, ao mais seguro, ao mais cómodo. Os ideais de coerência, de
sinceridade, de amor, que existem em todos os homens, são em geral frustrados,
traídos por quem os defende ou pelo indivíduo incapaz de resistir à pressão dos
que o cercam. Todos falam do valor da colaboração, todos reconhecem que somos
globalmente responsáveis pelo caminho da humanidade; no entanto, o que
encontramos é insensatez, orgulho, instintos de domínio, de grandeza,
inclinação para a agressividade, para um prazer ás vezes exacerbado,
incontrolado e irracional. Mas, muitas vezes renunciamos e justificamos a
renúncia definindo os valores como “sonhos de adolescente”.
A revolta dos jovens tem a sua raiz nessa sede não aplacada, nessa
decepção por tudo que lhes é oferecido, tão distante das verdadeiras e
profundas exigências do homem, que tem hoje maior consciência dos valores de
fraternidade, justiça, amor, solidariedade.
Não é a primeira vez que, no decorrer da história, o homem enfrenta
desafios que põem em discussão modos de pensar e pedem soluções inéditas.
Continuamente o homem faz a experiência de que aquilo que conquistou nunca é
uma conquista definitiva. A técnica, as descobertas científicas não matam a
sede de segurança, de esperança, de felicidade que todo o homem sente.
Lentamente, descobre ou tem a intuição de que só um “homem-infinito” pode
dar-lhe o que busca no meio da confusão.
ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo
24, 15-16
Os meus olhos estão voltados para o Senhor,
porque Ele livra os meus pés da armadilha.
Olhai para mim, Senhor, e tende compaixão
porque estou só e desamparado.
Ou
Ez 36, 23-26
Quando Eu manifestar em vós a minha santidade,
reunir-vos-ei de todos os povos;
derramarei sobre vós água pura,
e ficareis limpos de toda a iniquidade.
Eu vos darei um espírito novo, diz o Senhor.
Não se diz o Glória.
ORAÇÃO COLECTA
Deus,
Pai de misericórdia e fonte de toda a bondade,
que
nos fizestes encontrar no jejum,
na
oração e no amor fraterno
os
remédios do pecado,
olhai
benigno para a confissão da nossa humildade,
de
modo que, abatidos pela consciência da culpa,
sejamos
confortados pela vossa misericórdia.
Por
Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que
é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I – Ex 17,
3-7
“Dá-nos
água para beber”
O Evangelho domina toda a
celebração deste Domingo; é o Evangelho da Samaritana. A liturgia deste dia
abre a parte central da Quaresma no aspecto litúrgico, ligada à preparação para
os sacramentos da iniciação cristã na Vigília Pascal e igualmente para a renovação
da consciência da vida cristã para os que já são baptizados. Caminhamos para o
Rochedo da água viva, que é Cristo, para d’Ele bebermos, como do rochedo batido
pela vara de Moisés bebeu o antigo povo na travessia do deserto.
Leitura do
Livro do Êxodo
“Naqueles
dias, o povo israelita, atormentado pela sede, começou a altercar com Moisés,
dizendo: «Porque nos tiraste do Egipto? Para nos deixares morrer à sede, a nós,
aos nossos filhos e aos nossos rebanhos?». Então Moisés clamou ao Senhor,
dizendo: «Que hei-de fazer a este povo? Pouco falta para me apedrejarem». O
Senhor respondeu a Moisés: «Passa para a frente do povo e leva contigo alguns
anciãos de Israel. Toma na mão a vara com que fustigaste o Rio e põe-te a
caminho. Eu estarei diante de ti, sobre o rochedo, no monte Horeb. Baterás no
rochedo e dele sairá água; então o povo poderá beber». Moisés assim fez à vista
dos anciãos de Israel. E chamou àquele lugar Massa e Meriba, por causa da
altercação dos filhos de Israel e por terem tentado o Senhor, ao dizerem: «O
Senhor está ou não no meio de nós?».”
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL – Salmo
94 (95), 1-2.6-7.8-9 (R. cf. 8)
Refrão: Se hoje ouvirdes a voz do
Senhor,
não fecheis os vossos corações. (Repete-se)
Vinde, exultemos de alegria
no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso
salvador.
Vamos à sua presença e dêmos
graças,
ao som de cânticos aclamemos
o Senhor. (Refrão)
Vinde,
prostremo-nos em terra,
adoremos
o Senhor que nos criou.
Pois
Ele é o nosso Deus
e
nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho. (Refrão)
Quem
dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não
endureçais os vossos corações,
como
em Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde
vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar
de terem visto as minhas obras. (Refrão)
LEITURA II – Rom 5, 1-2.5-8
“O
amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi
dado”
O
Baptismo é nascimento pela água e pelo Espírito Santo. Disse-o Jesus. Que a
água é tomada como sinal do Espírito Santo, disse-o também o Senhor noutra
ocasião. E o Espírito Santo, derramado em nossos corações, é a fonte da vida de
Cristo sempre a cantar em nós.
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
“Irmãos: Tendo
sido justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus
Cristo, pelo qual temos acesso, na fé, a esta graça em que permanecemos e nos
gloriamos, apoiados na esperança da glória de Deus. Ora, a esperança não
engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito
Santo que nos foi dado. Quando ainda éramos fracos, Cristo morreu pelos ímpios
no tempo determinado. Dificilmente alguém morre por um justo; por um homem bom,
talvez alguém tivesse a coragem de morrer. Mas Deus prova assim o seu amor para
connosco: Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores.”
Palavra do Senhor
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO
– Mt 4, 4b
Refrão: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso
Senhor. (Repete-se)
Senhor, Vós sois o Salvador
do mundo:
dai-nos a água viva, para
não termos sede. (Refrão)
EVANGELHO – Jo 4, 5-42
“Fonte da água que jorra para a vida eterna”
Tanto
nesta Missa, como no Ritual da iniciação Cristã dos Adultos, esta passagem do
Evangelho ocupa lugar de primeira importância juntamente com os Evangelhos dos
dois domingos seguintes. A Samaritana é o tipo daqueles que, vindo de longe, ao
escutarem a palavra do Senhor, sentem nascer dentro de si a sede nunca antes
experimentada do dom de Deus, sede que só Jesus pode saciar. É Ele a fonte de
água viva.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
“Naquele
tempo, chegou Jesus a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, junto da
propriedade que Jacob tinha dado a seu filho José, onde estava o poço de Jacob.
Jesus, cansado da caminhada, sentou-Se à beira do poço. Era por volta do
meio-dia. Veio uma mulher da Samaria para tirar água. Disse-lhe Jesus: «Dá-Me
de beber». Os discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos. Respondeu-Lhe a
samaritana: «Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber, sendo eu
samaritana?». De facto, os judeus não se dão com os samaritanos. Disse-lhe
Jesus: «Se conhecesses o dom de Deus e quem é Aquele que te diz: ‘Dá-Me de
beber’, tu é que Lhe pedirias e Ele te daria água viva». Respondeu-Lhe a
mulher: «Senhor, Tu nem sequer tens um balde, e o poço é fundo: donde Te vem a
água viva? Serás Tu maior do que o nosso pai Jacob, que nos deu este poço, do
qual ele mesmo bebeu, com os seus filhos e os seus rebanhos?». Disse-Lhe Jesus:
«Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da
água que Eu lhe der nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der tornar-se-á
nele uma nascente que jorra para a vida eterna». «Senhor, – suplicou a mulher –
dá-me dessa água, para que eu não sinta mais sede e não tenha de vir aqui
buscá-la». Disse-lhe Jesus: «Vai chamar o teu marido e volta aqui».
Respondeu-lhe a mulher: «Não tenho marido». Jesus replicou: «Disseste bem que
não tens marido, pois tiveste cinco e aquele que tens agora não é teu marido.
Neste ponto falaste verdade». Disse-lhe a mulher: «Senhor, vejo que és profeta.
Os nossos antepassados adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém
que se deve adorar». Disse-lhe Jesus: «Mulher, acredita em Mim: Vai chegar a
hora em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que
não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus.
Mas vai chegar a hora – e já chegou – em que os verdadeiros adoradores hão-de
adorar o Pai em espírito e verdade, pois são esses os adoradores que o Pai
deseja. Deus é espírito e os seus adoradores devem adorá-l’O em espírito e
verdade». Disse-Lhe a mulher: «Eu sei que há-de vir o Messias, isto é, Aquele
que chamam Cristo. Quando vier, há-de anunciar-nos todas as coisas».
Respondeu-lhe Jesus: «Sou Eu, que estou a falar contigo». Nisto, chegaram os
discípulos e ficaram admirados por Ele estar a falar com aquela mulher, mas
nenhum deles Lhe perguntou: «Que pretendes?», ou então: «Porque falas com ela?».
A mulher deixou a bilha, correu à cidade e falou a todos: «Vinde ver um homem
que me disse tudo o que eu fiz. Não será Ele o Messias?». Eles saíram da cidade
e vieram ter com Jesus. Entretanto, os discípulos insistiam com Ele, dizendo:
«Mestre, come». Mas Ele respondeu-lhes: «Eu tenho um alimento para comer que
vós não conheceis». Os discípulos perguntavam uns aos outros: «Porventura
alguém Lhe trouxe de comer?». Disse-lhes Jesus: «O meu alimento é fazer a
vontade d’Aquele que Me enviou e realizar a sua obra. Não dizeis vós que dentro
de quatro meses chegará o tempo da colheita? Pois bem, Eu digo-vos: Erguei os
olhos e vede os campos, que já estão loiros para a ceifa. Já o ceifeiro recebe
o salário e recolhe o fruto para a vida eterna e, deste modo, se alegra o
semeador juntamente com o ceifeiro. Nisto se verifica o ditado: ‘Um é o que
semeia e outro o que ceifa’. Eu mandei-vos ceifar o que não trabalhastes.
Outros trabalharam e vós aproveitais-vos do seu trabalho». Muitos samaritanos
daquela cidade acreditaram em Jesus, por causa da palavra da mulher, que
testemunhava: «Ele disse-me tudo o que eu fiz». Por isso os samaritanos, quando
vieram ao encontro de Jesus, pediram-Lhe que ficasse com eles. E ficou lá dois
dias. Ao ouvi-l’O, muitos acreditaram e diziam à mulher: «Já não é por causa
das tuas palavras que acreditamos. Nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é
realmente o Salvador do mundo».”
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Concedei, Senhor, por este
sacrifício,
que, ao pedirmos o perdão
dos nossos pecados,
perdoemos também aos nossos
irmãos.
Por
Nosso Senhor Jesus Cristo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Jo 4,
13-14
Quem beber da água que Eu lhe der, diz o Senhor,
terá em seu coração a fonte da vida eterna.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Recebemos, Senhor nosso
Deus,
o penhor da glória eterna
e, vivendo ainda na terra,
fomos saciados com o pão do Céu.
Nós Vos pedimos humildemente
a graça de manifestar na vida
o que celebramos neste
sacramento.
Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
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