2.º Domingo da
Quaresma
Revelar-nos ao outro é um acto de confiança, porque lhe dá poder para
intervir sobre nós; partilhar a mesma vida como acontece na amizade, no matrimónio;
é deixar que seja envolvida toda nossa existência.
Um homem deixa
sua terra
A vocação de Abraão é um exemplo eficaz de resposta à proposta de Deus:
por isso ele é chamado o nosso pai na fé.
Com Abraão, Deus retoma a iniciativa do diálogo: faz as suas propostas em
termos acessíveis a esse homem, mas com uma exigência de totalidade. A resposta
de Abraão difere inteiramente do pecado de Adão: um distancia-se, o outro aproxima-se;
um quer possuir a terra, o outro desapega-se; um desconfia da palavra de Deus, o
outro tem fé nas suas promessas e troca a segurança do enraizamento numa terra,
duma família, dos próprios deuses, pelo risco generoso de seguir o Deus que
chama para uma terra “que lhe será indicada mais tarde”. Da parte de Deus, a “maldição”
destinada ao homem pecador muda-se num anúncio de “bênção” aberta a todas as
nações (1ª leitura).
Os cristãos são chamados por uma vocação santa a seguir Cristo na sua
vida de obediência a Deus, com a qual “venceu a morte e faz resplandecer a vida
e a imortalidade por meio do evangelho” (2ª leitura). O “Filho bem-amado” torna
os baptizados semelhantes a si, associando ao seu destino de sofrimento e de
glória os que ouvem com fé a sua palavra.
Ainda hoje é proposto a todos os homens, a todo grupo eclesial, partir da
sua terra e seguir a palavra que os guia, iluminando-os com a promessa – que em
Cristo já é realidade – da “bênção” como plenitude de bens. Mas nada é
definitivo na sua origem; quanto aos pormenores, é preciso ter criatividade,
humildade, coragem, aceitar os sofrimentos, para encontrar, enfim, a luz e o
repouso.
Parêntesis de
luz
O abandono das certezas e das seguranças jamais é total. Permanece
sempre, no fundo, a lembrança e a saudade da terra em que se habitava. Nos apóstolos
chamados a seguir a Cristo permanece a interrogação de quem seria realmente
aquele a quem ouviram e por quem abandonaram a sua terra. A sua vida oculta, o seu
messianismo tão diferente do que esperavam deixam algo de duvidoso. Jesus toma
a iniciativa e manifesta-se sob outra forma que revela o seu verdadeiro ser, a sua
majestade divina: concede aos apóstolos contemplarem o fim que o espera. Assim,
os discípulos podem ver que o Servo repelido e incompreendido é o Filho do
homem descrito por Daniel. A condição humana, frágil e oculta, é apenas um
tempo de passagem, um parêntesis. Com essa antecipação da glória de que se
revestirá no momento da ressurreição, a fé dos discípulos deveria sair
reanimada, confirmada (evangelho).
Ignoramos o que
será a “cidade” futura
Os futurólogos dão-nos imagens de um mundo que se assemelha a uma “cidade”
cujo crescimento demográfico é rápido, as cidades aumentam e absorvem os
povoados vizinhos. Caminhamos para “a unicidade”, para um novo mundo-cidade.
Mas, que forma deve assumir, que deve ela tornar-se para não ser um uniforme
formigueiro? A nossa liberdade de construir está realmente em condições de
construir?
Quando se propõe o problema da realização futura, as trevas caem sobre
nós. Estamos diante de um dever que é muito mais obscuro do que se pode pensar;
a nossa fé vacila. A nossa fé não nos diz nada mais do que isto: para adoptar
as opções que nos permitam obter sucesso é necessário abrangermos os dois
extremos da história e podermos concentrar num instante o passado e o futuro.
Esse é o risco que a fé comporta. O cristão que recebeu o baptismo decide viver
nesse risco. Sente a obscuridade que pesa sobre todos os homens na construção
do presente e não se assusta, não tem medo porque vê a meta, o Cristo
transfigurado, e, em Abraão, um modelo a seguir.
ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo
26, 8-9
Diz-me o coração: «Procurai a face do Senhor».
A vossa face, Senhor, eu procuro;
não escondais de mim o vosso rosto.
ORAÇÃO COLECTA
Deus
de infinita bondade,
que
nos mandais ouvir o vosso amado Filho,
fortalecei-nos
com o alimento interior da vossa palavra,
de
modo que, purificado o nosso olhar espiritual,
possamos
alegrar-nos um dia na visão da vossa glória.
Por
Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que
é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I – Gen 12,
1-4a
“Vocação de
Abraão, pai do povo de Deus”
A primeira afirmação da nossa
fé, em relação aos homens, é que Deus nos chamou para sermos o seu Povo. Este
chamamento está já nas origens, mas houve depois, ao longo da história da
salvação, momentos especialmente significativos, e, destes, o primeiro e bem
significativo foi, sem dúvida, o chamamento de Abraão. É a partir de Abraão que
aparece, no meio de todos os outros povos, o Povo de Deus. Com ele o Senhor faz
Aliança e a ele entrega a grande promessa, de que nele serão abençoados todos
os povos da Terra, promessa que se há-de realizar plenamente no Descendente de
Abraão, Jesus Cristo.
Leitura do
Livro do Génesis
“Naqueles
dias, o Senhor disse a Abraão: «Deixa a tua terra, a tua família e a casa de
teu pai e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti uma grande nação e te
abençoarei; engrandecerei o teu nome e serás uma bênção. Abençoarei a quem te
abençoar, amaldiçoarei a quem te amaldiçoar; por ti serão abençoadas todas as
nações da terra». Abraão partiu, como o Senhor lhe tinha ordenado.”
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL – Salmo
32 (33), 4-5.18-19.20.22 (R. 22)
Refrão: Esperamos, Senhor, na
vossa misericórdia. (Repete-se)
A palavra do Senhor é recta,
da fidelidade nascem as suas
obras.
Ele ama a justiça e a
rectidão:
a terra está cheia da
bondade do Senhor. (Refrão)
Os olhos do Senhor estão
voltados
para os que O temem,
para os que esperam na sua
bondade,
para libertar da morte as
suas almas
e os alimentar no tempo da
fome. (Refrão)
A nossa alma espera o
Senhor:
Ele é o nosso amparo e
protector.
Venha sobre nós a vossa
bondade,
porque em Vós esperamos,
Senhor. (Refrão)
LEITURA II – 2 Tim 1, 8b-10
“Deus
nos chama e ilumina”
O
chamamento de Deus chega até aos homens por seu Filho, Jesus Cristo, que, na
leitura do Evangelho, o próprio Pai nos apresenta para que O escutemos. Por Ele
se renova a Aliança entre Deus e os homens, e n’Ele já temos a garantia da vida
e da imortalidade. É esta a fé da Igreja desde o princípio, como o Apóstolo o
atesta.
Leitura da
Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
“Caríssimo:
Sofre comigo pelo Evangelho, apoiado na força de Deus. Ele salvou-nos e
chamou-nos à santidade, não em virtude das nossas obras, mas do seu próprio
desígnio e da sua graça. Esta graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, desde
toda a eternidade, manifestou-se agora pelo aparecimento de Cristo Jesus, nosso
Salvador, que destruiu a morte e fez brilhar a vida e a imortalidade, por meio
do Evangelho.”
Palavra do Senhor
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO
– Mt 4, 4b
Refrão: Glória a Vós, Senhor, Filho de Deus vivo. (Repete-se)
No meio da nuvem luminosa,
ouviu-se a voz do Pai:
«Este é o meu Filho muito
amado: escutai-O». (Refrão)
EVANGELHO – Mt 17, 1-9
“O seu rosto ficou resplandecente como o sol”
A
Transfiguração é a revelação antecipada de Cristo glorioso, como a sua
Ressurreição, no fim da Quaresma, O há-de manifestar. Em Cristo transfigurado
se antevê, desde já, a vida e a imortalidade a que somos chamados, reconhecemos
a glória do Filho de Deus que se há-de revelar em nós próprios e tomamos
coragem para subirmos, ao longo da Quaresma, até à transfiguração pascal, que
Deus dará a quem escutar e seguir o seu Filho.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele
tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os, em
particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou
resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E
apareceram Moisés e Elias a falar com Ele. Pedro disse a Jesus: «Senhor, como é
bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para
Moisés e outra para Elias». Ainda ele falava, quando uma nuvem luminosa os
cobriu com a sua sombra e da nuvem uma voz dizia: «Este é o meu Filho muito
amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O». Ao ouvirem estas
palavras, os discípulos caíram de rosto por terra e assustaram-se muito. Então
Jesus aproximou-Se e, tocando-os, disse: «Levantai-vos e não temais». Erguendo
os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus. Ao descerem do monte, Jesus
deu-lhes esta ordem: «Não conteis a ninguém esta visão, até o Filho do homem ressuscitar
dos mortos».”
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Esta oblação, Senhor, lave
os nossos pecados
e santifique o corpo e o
espírito dos vossos fiéis,
para celebrarmos dignamente
as festas pascais.
Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo
12, 6
Este é o meu Filho muito amado,
no qual pus as minhas complacências.
Escutai-O.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Alimentados nestes gloriosos
mistérios,
nós Vos damos graças,
Senhor,
porque, vivendo ainda na
terra,
nos fazeis participantes dos
bens do Céu.
Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
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