sábado, 11 de março de 2017

REVELAR-SE A OUTRO – PROVA DE CONFIANÇA…


2.º Domingo da Quaresma

Revelar-se ao outro é um acto de confiança
Revelar-nos ao outro é um acto de confiança, porque lhe dá poder para intervir sobre nós; partilhar a mesma vida como acontece na amizade, no matrimónio; é deixar que seja envolvida toda nossa existência.

Um homem deixa sua terra
A vocação de Abraão é um exemplo eficaz de resposta à proposta de Deus: por isso ele é chamado o nosso pai na fé.
Com Abraão, Deus retoma a iniciativa do diálogo: faz as suas propostas em termos acessíveis a esse homem, mas com uma exigência de totalidade. A resposta de Abraão difere inteiramente do pecado de Adão: um distancia-se, o outro aproxima-se; um quer possuir a terra, o outro desapega-se; um desconfia da palavra de Deus, o outro tem fé nas suas promessas e troca a segurança do enraizamento numa terra, duma família, dos próprios deuses, pelo risco generoso de seguir o Deus que chama para uma terra “que lhe será indicada mais tarde”. Da parte de Deus, a “maldição” destinada ao homem pecador muda-se num anúncio de “bênção” aberta a todas as nações (1ª leitura).
Os cristãos são chamados por uma vocação santa a seguir Cristo na sua vida de obediência a Deus, com a qual “venceu a morte e faz resplandecer a vida e a imortalidade por meio do evangelho” (2ª leitura). O “Filho bem-amado” torna os baptizados semelhantes a si, associando ao seu destino de sofrimento e de glória os que ouvem com fé a sua palavra.
Ainda hoje é proposto a todos os homens, a todo grupo eclesial, partir da sua terra e seguir a palavra que os guia, iluminando-os com a promessa – que em Cristo já é realidade – da “bênção” como plenitude de bens. Mas nada é definitivo na sua origem; quanto aos pormenores, é preciso ter criatividade, humildade, coragem, aceitar os sofrimentos, para encontrar, enfim, a luz e o repouso.

Parêntesis de luz
O abandono das certezas e das seguranças jamais é total. Permanece sempre, no fundo, a lembrança e a saudade da terra em que se habitava. Nos apóstolos chamados a seguir a Cristo permanece a interrogação de quem seria realmente aquele a quem ouviram e por quem abandonaram a sua terra. A sua vida oculta, o seu messianismo tão diferente do que esperavam deixam algo de duvidoso. Jesus toma a iniciativa e manifesta-se sob outra forma que revela o seu verdadeiro ser, a sua majestade divina: concede aos apóstolos contemplarem o fim que o espera. Assim, os discípulos podem ver que o Servo repelido e incompreendido é o Filho do homem descrito por Daniel. A condição humana, frágil e oculta, é apenas um tempo de passagem, um parêntesis. Com essa antecipação da glória de que se revestirá no momento da ressurreição, a fé dos discípulos deveria sair reanimada, confirmada (evangelho).

Ignoramos o que será a “cidade” futura
Os futurólogos dão-nos imagens de um mundo que se assemelha a uma “cidade” cujo crescimento demográfico é rápido, as cidades aumentam e absorvem os povoados vizinhos. Caminhamos para “a unicidade”, para um novo mundo-cidade. Mas, que forma deve assumir, que deve ela tornar-se para não ser um uniforme formigueiro? A nossa liberdade de construir está realmente em condições de construir?
Quando se propõe o problema da realização futura, as trevas caem sobre nós. Estamos diante de um dever que é muito mais obscuro do que se pode pensar; a nossa fé vacila. A nossa fé não nos diz nada mais do que isto: para adoptar as opções que nos permitam obter sucesso é necessário abrangermos os dois extremos da história e podermos concentrar num instante o passado e o futuro. Esse é o risco que a fé comporta. O cristão que recebeu o baptismo decide viver nesse risco. Sente a obscuridade que pesa sobre todos os homens na construção do presente e não se assusta, não tem medo porque vê a meta, o Cristo transfigurado, e, em Abraão, um modelo a seguir.


ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 26, 8-9
Diz-me o coração: «Procurai a face do Senhor».
A vossa face, Senhor, eu procuro;
não escondais de mim o vosso rosto.

ORAÇÃO COLECTA
Deus de infinita bondade,
que nos mandais ouvir o vosso amado Filho,
fortalecei-nos com o alimento interior da vossa palavra,
de modo que, purificado o nosso olhar espiritual,
possamos alegrar-nos um dia na visão da vossa glória.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Gen 12, 1-4a

Vocação de Abraão, pai do povo de Deus

A primeira afirmação da nossa fé, em relação aos homens, é que Deus nos chamou para sermos o seu Povo. Este chamamento está já nas origens, mas houve depois, ao longo da história da salvação, momentos especialmente significativos, e, destes, o primeiro e bem significativo foi, sem dúvida, o chamamento de Abraão. É a partir de Abraão que aparece, no meio de todos os outros povos, o Povo de Deus. Com ele o Senhor faz Aliança e a ele entrega a grande promessa, de que nele serão abençoados todos os povos da Terra, promessa que se há-de realizar plenamente no Descendente de Abraão, Jesus Cristo.

Leitura do Livro do Génesis
“Naqueles dias, o Senhor disse a Abraão: «Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que Eu te indicar. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei; engrandecerei o teu nome e serás uma bênção. Abençoarei a quem te abençoar, amaldiçoarei a quem te amaldiçoar; por ti serão abençoadas todas as nações da terra». Abraão partiu, como o Senhor lhe tinha ordenado.”
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 32 (33), 4-5.18-19.20.22 (R. 22)
Refrão: Esperamos, Senhor, na vossa misericórdia. (Repete-se)

A palavra do Senhor é recta,
da fidelidade nascem as suas obras.
Ele ama a justiça e a rectidão:
a terra está cheia da bondade do Senhor. (Refrão)

Os olhos do Senhor estão voltados
para os que O temem,
para os que esperam na sua bondade,
para libertar da morte as suas almas
e os alimentar no tempo da fome. (Refrão)

A nossa alma espera o Senhor:
Ele é o nosso amparo e protector.
Venha sobre nós a vossa bondade,
porque em Vós esperamos, Senhor. (Refrão)

LEITURA II – 2 Tim 1, 8b-10

Deus nos chama e ilumina

O chamamento de Deus chega até aos homens por seu Filho, Jesus Cristo, que, na leitura do Evangelho, o próprio Pai nos apresenta para que O escutemos. Por Ele se renova a Aliança entre Deus e os homens, e n’Ele já temos a garantia da vida e da imortalidade. É esta a fé da Igreja desde o princípio, como o Apóstolo o atesta.

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
“Caríssimo: Sofre comigo pelo Evangelho, apoiado na força de Deus. Ele salvou-nos e chamou-nos à santidade, não em virtude das nossas obras, mas do seu próprio desígnio e da sua graça. Esta graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, desde toda a eternidade, manifestou-se agora pelo aparecimento de Cristo Jesus, nosso Salvador, que destruiu a morte e fez brilhar a vida e a imortalidade, por meio do Evangelho.”
Palavra do Senhor

ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Mt 4, 4b
Refrão: Glória a Vós, Senhor, Filho de Deus vivo. (Repete-se)
No meio da nuvem luminosa,
ouviu-se a voz do Pai:
«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». (Refrão)

EVANGELHO – Mt 17, 1-9

O seu rosto ficou resplandecente como o sol

A Transfiguração é a revelação antecipada de Cristo glorioso, como a sua Ressurreição, no fim da Quaresma, O há-de manifestar. Em Cristo transfigurado se antevê, desde já, a vida e a imortalidade a que somos chamados, reconhecemos a glória do Filho de Deus que se há-de revelar em nós próprios e tomamos coragem para subirmos, ao longo da Quaresma, até à transfiguração pascal, que Deus dará a quem escutar e seguir o seu Filho.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os, em particular, a um alto monte e transfigurou-Se diante deles: o seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E apareceram Moisés e Elias a falar com Ele. Pedro disse a Jesus: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Ainda ele falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e da nuvem uma voz dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O». Ao ouvirem estas palavras, os discípulos caíram de rosto por terra e assustaram-se muito. Então Jesus aproximou-Se e, tocando-os, disse: «Levantai-vos e não temais». Erguendo os olhos, eles não viram mais ninguém, senão Jesus. Ao descerem do monte, Jesus deu-lhes esta ordem: «Não conteis a ninguém esta visão, até o Filho do homem ressuscitar dos mortos».”
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Esta oblação, Senhor, lave os nossos pecados
e santifique o corpo e o espírito dos vossos fiéis,
para celebrarmos dignamente as festas pascais.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 12, 6
Este é o meu Filho muito amado,
no qual pus as minhas complacências.
Escutai-O.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Alimentados nestes gloriosos mistérios,
nós Vos damos graças, Senhor,
porque, vivendo ainda na terra,
nos fazeis participantes dos bens do Céu.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



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