4.º Domingo da Páscoa
“Jesus
ressuscitado manifesta-se nos pastores da Igreja”
A figura do pastor que guia as suas ovelhas era familiar a Israel, povo nómada;
alimentou em tempos sucessivos a meditação religiosa das relações pessoais com
Deus. Os seus chefes deviam ser servos do único pastor; mas, com muita
frequência, seguindo interesses egoístas e perspectivas políticas erróneas,
traíram, desviaram, depredaram o rebanho de Deus.
Jesus apresenta-se como o pastor segundo o coração de Deus, aquele que
foi anunciado pelos profetas. Conhece intimamente o Pai e transmite esse
conhecimento aos seus (evangelho). Por isto, ele é a “porta”, o mediador.
Conhece intimamente também a nossa condição, porque como “cordeiro” carregou os
pecados de todos nós (2.ª leitura). Conduz os seus com a autoridade de quem ama
e deu sua vida; e eles, na fé, escutam a sua voz e seguem as suas pegadas. Seu
sacrifício “pela multidão” exclui qualquer privilégio e abre a salvação a todos
os homens.
Em comunhão de
fé e de amor
Antes de voltar para a direita do Pai, Jesus confiou ao colégio dos
apóstolos (e particularmente a Pedro, como chefe desse colégio) o seu
ministério pastoral junto àqueles que já chegaram à porta do redil e aos que
ainda virão. Esse serviço torna efectiva a presença de Cristo ressuscitado no
meio dos seus, prolonga-a no tempo (sucessão apostólica) e no espaço
(colegialidade). Como todas as realidades que pertencem à Igreja peregrinante,
o serviço pastoral é de ordem sacramental, e remonta ao Cristo Senhor que,
invisível, leva os seus à comunhão de vida com o Pai através dos ministros da
palavra e dos sacramentos. Especialmente na eucaristia, centro da instituição
eclesial, aquele que preside à assembleia tem consciência de personificar o
Cristo enquanto, associando os baptizados ao seu sacrifício, fá-los entrar numa
fraternidade universal e os funde numa comunhão de amor. Mas também no “governo”
e na responsabilidade perante as comunidades e cada irmão individualmente, os
pastores sabem que a sua autoridade nasce da obediência a Cristo, a quem todo o
corpo da Igreja deve buscar, e cuja voz lhes compete exprimir.
Pastores, guias
dos irmãos
Falar hoje dos “pastores” da Igreja não é fácil, devido às incrustações
históricas que deformaram as perspectivas e as mentalidades, mesmo entre os
fiéis. Restituir aos pastores e às suas funções na Igreja a verdade e a
autenticidade é tarefa urgente hoje.
O papa, pastor supremo, ainda é visto em muitos ambientes como um chefe
político, um diplomata, a expressão de um monolitismo e de um absolutismo
ultrapassados. Importa apresentá-lo como o centro de unidade e coesão da
Igreja, o que realmente é.
O bispo não é um solene dignitário, um alto funcionário do espírito,
distante e separado do seu rebanho; é o centro de unidade da Igreja local, o
mestre e pai da família diocesana.
O pároco e os sacerdotes empenhados no ministério pastoral não são
burocratas e funcionários a quem nos dirigimos para pôr em dia as nossas práticas,
não são altas personagens a quem se recorre para obter cartas de recomendação,
nem distribuidores de esmolas ou de sacramentos. São, acima de tudo, pastores
totalmente dedicados a seu povo, a quem servem com amor, respeito e dedicação
total.
Delegada a alguns homens, a autoridade na Igreja não pode ser mais do que
o sinal do governo do Senhor: não é absoluta; é uma autoridade que está em
relação com o Cristo ressuscitado. A obediência do cristão é uma obediência de
fé, oferecida ao Senhor, reconhecido nos sinais vivos, isto e, nas pessoas que
dirigem a Igreja.
Cristãos dóceis
ou rebeldes?
Cabe aqui uma consideração a respeito do rebanho, isto é, da comunidade e
de cada um dos que crêem; não devem unicamente ser exigentes com os seus
pastores, como magistério, com a Igreja como instituição (o que corresponde à correcção
fraterna); devem também sentir e manifestar-lhes o seu profundo amor,
impregnado de franqueza, caridade e obediência. Ao lado do Espírito de crítica
e de rebelião, que grassa mesmo no seio da Igreja, não faltam os testemunhos. O
cardeal Newman, que se tornou católico por devoção à Igreja, vê-se, em certo
momento, impedido de trabalhar pela própria Igreja. Menosprezado pelos
protestantes, mal interpretado por muitos católicos, olhado com desconfiança
por certos bispos, suspeito de heresia, carregou a sua cruz com paciência heróica,
até ao momento em que pôde retomar a actividade apostólica que era o objectivo
da sua vida. “Será necessário superarmo-nos, morrendo como grãozinhos de trigo
no campo da Igreja, em lugar de morrermos como revolucionários diante das suas
portas” (K. Rahner).
MISSA
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ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 32, 5-6
A bondade do Senhor encheu a terra, a palavra
do Senhor criou os céus. Aleluia.
Diz-se o Glória.
ORAÇÃO COLECTA
Deus eterno e
omnipotente, conduzi-nos à posse das alegrias celestes, para que o pequenino
rebanho dos vossos fiéis chegue um dia à glória do reino onde já Se encontra o
seu poderoso Pastor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade
do Espírito Santo.
LEITURA I – Actos 2, 14a.36-41
“Deus fê-l’O Senhor e
Messias”
A grande afirmação da fé
cristã não é apenas a de que Jesus, o homem que veio de Nazaré e foi crucificado,
é mais do que um simples homem, mas antes a de que o Crucificado foi por Deus
exaltado e Se tornou, na sua Ressurreição, Senhor e Cristo, isto é, o Ungido de
Deus, o Messias, participando, como homem, na glória divina do Senhor. Esta fé
em Jesus, Senhor e Cristo, é que há-de levar os que n’Ele crêem à conversão e,
pelo Baptismo, à Igreja.
Leitura dos Actos dos Apóstolos
“No dia de Pentecostes, Pedro,
de pé, com os onze Apóstolos, ergueu a voz e falou ao povo: «Saiba com absoluta
certeza toda a casa de Israel que Deus fez Senhor e Messias esse Jesus que vós
crucificastes». Ouvindo isto, sentiram todos o coração trespassado e
perguntaram a Pedro e aos outros Apóstolos: «Que havemos de fazer, irmãos?».
Pedro respondeu-lhes: «Convertei-vos e peça cada um de vós o Baptismo em nome
de Jesus Cristo, para vos serem perdoados os pecados. Recebereis então o dom do
Espírito Santo, porque a promessa desse dom é para vós, para os vossos filhos e
para quantos, de longe, ouvirem o apelo do Senhor nosso Deus». E com muitas
outras palavras os persuadia e exortava, dizendo: «Salvai-vos desta geração
perversa». Os que aceitaram as palavras de Pedro receberam o Baptismo e naquele
dia juntaram-se aos discípulos cerca de três mil pessoas.”
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 22 (23),
1-3a.3b-4.5.6
Refrão: O Senhor é meu pastor:
nada me
faltará; (Repete-se)
Ou: Aleluia.
(Repete-se)
O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes
e reconforta a minha alma. (Refrão)
Ele me guia por
sendas direitas por amor do seu nome.
Ainda que tenha de
andar por vales tenebrosos,
não temerei nenhum
mal, porque Vós estais comigo:
o vosso cajado e o
vosso báculo; me enchem de confiança. (Refrão)
Para mim preparais
a mesa
à vista dos meus
adversários;
com óleo me perfumais
a cabeça
e o meu cálice
transborda. (Refrão)
A bondade e a graça
hão-de acompanhar-me,
todos os dias da
minha vida,
e habitarei na casa
do Senhor
para todo o sempre.
(Refrão)
LEITURA II – 1 Pedro 2, 20b-25
“Voltastes
para o pastor e guarda das vossas almas”
A contemplação do
mistério da Cruz há-de levar os homens que sabem olhar para ele a deixarem-se
dominar pelo amor de Jesus Cristo, que deu a vida para trazer à unidade os
filhos de Deus que andavam, e andam, dispersos. Jesus, pela sua Cruz, congrega
os homens como o pastor congrega as ovelhas do seu rebanho. A Ele nos
convertemos, porque nos deixámos conduzir pelo seu cajado de Bom Pastor.
Leitura da Primeira Epístola de
São Pedro
“Caríssimos: Se vós, fazendo o
bem, suportais o sofrimento com paciência, isto é uma graça aos olhos de Deus.
Para isto é que fostes chamados, porque Cristo sofreu também por vós,
deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos. Ele não cometeu pecado
algum e na sua boca não se encontrou mentira. Insultado, não pagava com
injúrias; maltratado, não respondia com ameaças; mas entregava-Se Àquele que
julga com justiça. Ele suportou os nossos pecados no seu Corpo, sobre o madeiro
da cruz, a fim de que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça: pelas suas
chagas fomos curados. Vós éreis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes
para o pastor e guarda das vossas almas.”
Palavra do Senhor
ALELUIA – cf. Jo 10, 14
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
Eu sou o bom
pastor, diz o Senhor:
conheço as minhas
ovelhas e elas conhecem-Me. (Refrão)
EVANGELHO – Jo 10, 1-10
“Eu
sou a porta das ovelhas”
A imagem do pastor é
frequente na Sagrada Escritura: ela manifesta o amor e o desvelo de Deus pelos
homens, ela ajuda-os a penetrar nos sentimentos do coração de Cristo, que Se
entregou à morte por eles, ela faz sentir a alegria da união de uns com os
outros em volta do Senhor, que não só cuida das ovelhas fiéis, mas vai à
procura da ovelha perdida.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo segundo São João
“Naquele tempo, disse Jesus:
«Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que não entra no aprisco das ovelhas
pela porta, mas entra por outro lado, é ladrão e salteador. Mas aquele que
entra pela porta é o pastor das ovelhas. O porteiro abre-lhe a porta e as
ovelhas conhecem a sua voz. Ele chama cada uma delas pelo seu nome e leva-as
para fora. Depois de ter feito sair todas as que lhe pertencem, caminha à sua
frente e as ovelhas seguem-no, porque conhecem a sua voz. Se for um estranho,
não o seguem, mas fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos». Jesus
apresentou-lhes esta comparação, mas eles não compreenderam o que queria dizer.
Jesus continuou: «Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas.
Aqueles que vieram antes de Mim são ladrões e salteadores, mas as ovelhas não
os escutaram. Eu sou a porta. Quem entrar por Mim será salvo: é como a ovelha
que entra e sai do aprisco e encontra pastagem. O ladrão não vem senão para
roubar, matar e destruir. Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a
tenham em abundância».”
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Concedei, Senhor, que em todo o tempo
possamos alegrar-nos com estes mistérios pascais, de modo que o acto sempre
renovado da nossa redenção seja para nós causa de alegria eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que
é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO
Ressuscitou
o Bom Pastor, que deu a vida pelas suas ovelhas e Se entregou à morte pelo seu
rebanho. Aleluia.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus, nosso Bom
Pastor, olhai benignamente para o vosso rebanho e conduzi às pastagens eternas as
ovelhas que remistes com o precioso Sangue do vosso Filho, que é Deus convosco
na unidade do Espírito Santo.
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