sábado, 27 de maio de 2017

TODO O PODER ME FOI DADO NO CÉU E NA TERRA




7.º Domingo da Páscoa

O destino do homem novo

Interpretando teologicamente a Ascensão de Jesus, recomendam os anjos que não se fique a olhar para o céu, mas que se espere e prepare a volta gloriosa do Senhor. Esta é, até ao fim dos tempos, a missão da Igreja, em tensão entre o visível e o invisível, entre a realidade presente e a futura cidade para a qual caminhamos.

O homem à direita de Deus
A fórmula do nosso Credo: “Ressuscitou, subiu aos céus, está sentado à direita do Pai”, exprime a fé pessoal da Igreja no destino de Jesus de Nazaré. Este homem, com o qual os apóstolos “comeram e beberam” durante a sua existência terrena, “tornou-se Senhor” depois da sua morte, porque o Pai o associou definitivamente à sua vida, ao seu poder sobre os homens e sobre o mundo. Pensando nesta realidade, podem-se compreender as expressões de entusiasmo dos antigos cristãos: “A ascensão do Cristo é a nossa ascensão; já que o Corpo é convidado a elevar-se até à glória em que o precedeu a cabeça, vamos cantar a nossa alegria, expandir em acção de graças todo o nosso júbilo. Hoje, não apenas conquistamos o paraíso, mas, em Cristo, penetramos nos mais altos céus” (S. Leão Magno).

O céu
Afirmar que a humanidade, na pessoa de Cristo, já está no céu, significa contestar as imagens espontâneas de um céu “espacial” (lá em cima, para além das estrelas) e a de uma felicidade eterna que começaria repentinamente, depois desta vida no tempo. Para Jesus, o céu é a participação plena na vida de Deus, de um homem verdadeiro, possuindo a mesma matéria e a mesma história de todos nós; uma relação nova entre o Criador e a criatura numa total transparência, livre dos limites e das dificuldades da condição terrena. Para nós será assim um dia (exceptuando o carácter único da relação entre o Pai e o Filho), quando se manifestar abertamente aquilo que já somos; quando, pelo conhecimento e o amor, o corpo não for mais obstáculo, mas meio perfeito de comunicação.
Um céu assim não é simplesmente a “recompensa” de uma vida justa e boa, porque “os sofrimentos do momento presente não são comparáveis com a glória futura que será revelada em nós” (Rm 8,18). Nem é tampouco um narcótico para pessoas passivas e resignadas, um álibi para o compromisso de trabalhar neste mundo pela realização (mesmo que imperfeita) daqueles valores de liberdade, justiça, paz, fraternidade, comunhão, vida, amor, alegria, que constituem a bem-aventurança do homem completo segundo o plano de Deus. Uma comunidade dos que crêem e caminham nesta direcção, isto é, aberta ao mundo, ao serviço de todos, torna-se testemunha da nova humanidade realizada em Cristo Jesus.

Realidade terrestre e contracto dos que crêem
A reflexão conciliar sobre a relação Igreja-mundo expressou-se na Constituição Gaudium et Spes com alguns textos fundamentais, que é bom reler: Reacção a uma apresentação alienante da religião: “Entre as formas do ateísmo hodierno não deve ser esquecida aquela que espera a libertação do homem principalmente da sua libertação económica e social. Sustenta que a religião, pela sua natureza, impede esta libertação, à medida que, estimulando a esperança do homem numa quimérica vida futura, o afastaria da construção da cidade terrestre”.
Um novo equilíbrio a ser encontrado: “Somos advertidos, com efeito de que não adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a si mesmo (cf Lc 9,25). Contudo, a esperança de uma nova terra, longe de atenuar, antes deve estimular a solicitude pelo aperfeiçoamento desta terra. Nela cresce o Corpo da nova família humana que já pode apresentar algum esboço do novo século. Por isso, ainda que o progresso terreno deva ser cuidadosamente distinguido do aumento do Reino de Cristo, é, contudo, de grande interesse para o Reino de Deus, na medida que pode contribuir para Organizar a sociedade humana”.


MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Actos 1, 11
Homens da Galileia, porque estais a olhar para o céu?
Como vistes Jesus subir ao céu, assim há-de vir na sua glória. Aleluia.

Diz-se o Glória.

ORAÇÃO COLECTA
Deus omnipotente,
fazei-nos exultar em santa alegria e em filial acção de graças, porque a ascensão de Cristo, vosso Filho, é a nossa esperança: tendo-nos precedido na glória como nossa Cabeça, para aí nos chama como membros do seu Corpo.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Actos 1, 1-11

Elevou-Se à vista deles

A Ascensão de Jesus é a última aparição do Ressuscitado que não só dá testemunho da verdade da Ressurreição, como faz compreender que Jesus vive agora na glória do Pai. A Ascensão manifesta assim o sentido pleno da Páscoa: depois de destruir o pecado e a morte com a sua Morte e Ressurreição, Jesus Cristo introduz o homem, que tinha assumido na Encarnação, na glória de seu Pai. O livro dos Actos dos Apóstolos, que apresenta a vida dos primeiros dias da Igreja, começa pela Ascensão do Senhor; assim nos é dado a compreender que a Igreja continua agora a presença de Jesus entre os homens, até que Ele venha, de novo, no fim dos tempos, para pôr o termo à história e nos sentar consigo à direita do Pai.

Leitura dos Actos dos Apóstolos
“No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar, desde o princípio até ao dia em que foi elevado ao Céu, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera. Foi também a eles que, depois da sua paixão, Se apresentou vivo com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus. Um dia em que estava com eles à mesa, mandou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, «da qual – disse Ele – Me ouvistes falar. Na verdade, João baptizou com água; vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias». Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar: «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?». Ele respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».”
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 46 (47), 2-3.6-7.8-9 (R. 6)
Refrão: Por entre aclamações e ao som da trombeta, ergue-Se Deus, o Senhor. (Repete-se)

Ou: Ergue-Se Deus, o Senhor, em júbilo e ao som da trombeta. (Repete-se)

Povos todos, batei palmas,
aclamai a Deus com brados de alegria,
porque o Senhor, o Altíssimo, é terrível,
o Rei soberano de toda a terra. (Refrão)

Deus subiu entre aclamações,
o Senhor subiu ao som da trombeta.
Cantai hinos a Deus, cantai,
cantai hinos ao nosso Rei, cantai. (Refrão)

Deus é Rei do universo:
cantai os hinos mais belos.
Deus reina sobre os povos,
Deus está sentado no seu trono sagrado. (Refrão)

LEITURA II – Ef 1, 17-23

Colocou-O à sua direita nos Céus

Sentando-se à direita do Pai, Jesus introduz a humanidade na comunhão definitiva com Deus. É este o fruto do seu sacrifício na Cruz, a comunhão com o Pai, e é a esperança de todos os que n’Ele crêem.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
“Irmãos: O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de revelação para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes. Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo, que Ele ressuscitou dos mortos e colocou à sua direita nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há-de vir. Tudo submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos.”
Palavra do Senhor

ALELUIA – Mt 28, 19a.20b
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Ide e ensinai todos os povos, diz o Senhor:
Eu estou sempre convosco
até ao fim dos tempos. (Refrão)

EVANGELHO – Mt 28, 16-20

Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra

A Ascensão não é uma ausência, mas uma plenitude. O Senhor não abandona os seus na terra. Ele é, pela Ressurreição, o “Senhor” que domina o Céu e a terra. E continua presente e activo no meio de nós pelo seu Espírito que está na Igreja: na palavra de Deus, na acção dos Sacramentos, no amor da comunidade dos crentes vindos de todas as nações e em cada baptizado. E para que a sua presença possa chegar a todos os homens, a todos o Senhor envia agora os seus Apóstolos.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, os Onze discípulos partiram para a Galileia, em direcção ao monte que Jesus lhes indicara. Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram. Jesus aproximou-Se e disse-lhes: «Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos».”
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Recebei, Senhor, o sacrifício que Vos oferecemos ao celebrar a admirável ascensão do vosso Filho e, por esta sagrada permuta de dons, fazei que nos elevemos às realidades do Céu.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Mt 28, 20
Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos. Aleluia.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus eterno e omnipotente, que durante a nossa vida sobre a terra
nos fazeis saborear os mistérios divinos, despertai em nós os desejos da pátria celeste, onde já se encontra convosco, em Cristo, a nossa natureza humana.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



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