DOMINGO DA
SANTÍSSIMA TRINDADE
DEUS É COMUNIDADE DE AMOR
Quando o homem olha para dentro de si, a fim de analisar a sua
experiência religiosa, tem a sensação de um abismo sem fundo, uma profundeza
infinita. A essa profundeza inatingível do nosso ser refere-se a palavra “Deus”.
Deus significa isto: a profundeza última da nossa vida, a fonte do nosso ser, a
meta de todos os nossos esforços. Esse fundo íntimo do nosso ser manifesta-se
na abertura do nosso “‘eu ‘para um’ tu’”, e na seriedade dessa inclinação.
Vemos assim impressa no nosso ser a realidade profunda e grandiosa do Deus
cristão, a Trindade. Isto é, o mistério de um Deus que é comunidade e
comunhão de vida. Um Deus que é Pai, Filho, Espírito Santo.
A comunhão com Deus, fim do homem
O próprio Deus vem ao homem, manifesta-se-lhe como “Senhor”,
mas cheio de bondade e misericórdia, rico em graça e fidelidade. Na exuberância
do seu amor pelo mundo, manifestado no dom do seu Filho único para salvá-lo, o
Deus do amor e da paz derrama sobre os homens a sua graça em Cristo e chama-os
à comunhão com ele no Espírito Santo.
A Comunidade Trinitária é verdadeiramente o valor último e
supremo, o único verdadeiro fim último do homem, uma vez que Deus, e somente
Deus, é a plenitude de toda perfeição.
A Comunidade Trinitária é verdadeiramente mistério,
realidade que supera absolutamente toda compreensão humana. Deus jamais deixará
de causar a admiração do homem e nunca homem algum penetrará na terra de Deus
se não estiver disposto a se desarraigar, como Abraão (Gn 12,1), das fronteiras
das suas limitações e da estreiteza das suas seguranças. A oração não deve
reduzir Deus aos limites do homem; mas deve dilatar o homem aos horizontes de
Deus. O silêncio, que o Pai parece opor, em muitos casos, aos pedidos humanos,
nasce da autenticidade da sua paternidade, da sua firmeza em não condescender
com a mesquinhez dos planos humanos, para poder substitui-los por planos bem
maiores, nascidos do seu amor.
A Comunidade Trinitária é o verdadeiro futuro do homem, só
ela pode assegurar ao homem um plano de vida sem limites, porque é capaz de
superar até a morte. Diz, eficazmente, santo Agostinho: “Deus é tão
inexaurível que quando encontrado ainda falta tudo para encontrá-lo”.
Isso significa que o dinamismo e a criatividade humana encontram nele um
horizonte sem limites; portanto, um futuro total.
Um só Deus em três pessoas
Esta revelação não vem simplesmente satisfazer a nossa
necessidade de conhecer Deus; concerne directamente ao destino do homem e da
criação. De facto, a salvação, como comunhão do amor entre Deus e o homem, reflecte
as características dos dois interlocutores que a constituem: Deus e o homem.
Ora, o homem só pode ser compreendido a partir de Deus: feito à imagem de Deus,
é plasmado conforme o Cristo, que é a imagem perfeita de Deus. Portanto, as
perguntas e respostas sobre Deus são de uma importância fundamental para
compreender o homem. Concretamente, a vida humana, de um ponto de vista
religioso, desenvolve-se e expande-se proporcionalmente ao “conhecimento” do
mistério de Deus (Jo 17,3). Se o homem é destinado à comunhão com Deus Pai, é
claro que a sua vida tem tanto mais valor quanto mais ele consegue seguir o
movimento da “subida aos céus” inaugurado pela ascensão de Jesus (Jo 12,32),
até se-sentar à direita do Pai para vê-lo face a face. O padre Faber escreveu
que “todo o aprofundamento da ideia sobre Deus equivale a um novo nascimento”.
O mistério do amor Trinitário revela algo do mistério mais profundo do homem;
por sermos como somos, criaturas capazes de conhecer, amar, gerar, só podemos
exprimir-nos em termos humanos, mas chegamos com a mais profunda admiração ao
último porquê: como pôde ter nascido a ideia de “conhecer”, “amar”, “gerar”?
Não nasceu. Ela é. Porque Deus é amor. O mistério de Deus não é um mistério de
solidão, mas de convivência, criatividade, conhecimento, amor, de dar e
receber; e por isso, somos como somos.
Buscar Deus
Na nossa vida quotidiana, às vezes sombria, às vezes trágica
ou muito complicada, em que devemos cuidar de mil coisas que nos pressionam de
toda parte, a luz de Deus é o amor. Devemos voltar-nos para esta luz se não nos
quisermos desviar do verdadeiro fim de nossa existência. Gostaríamos de poder
dizer: “Aqui está Deus; Deus é assim…” Mas não é possível. O próprio Deus sai
dos quadros e das imagens, oculta-se naqueles que precisam de nós e diz: “Aqui
estou!” Esconde-se nos pequeninos da terra e diz: “Buscai-me aqui!”
Quem quer viver com Deus não se encontra diante de uma
conclusão, mas sempre diante de um início novo como cada novo dia.
MISSA
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ANTÍFONA DE
ENTRADA
Bendito seja Deus Pai,
bendito o Filho Unigénito,
bendito o Espírito Santo,
pela sua infinita misericórdia.
ORAÇÃO COLECTA
Deus Pai, que revelastes aos homens o vosso admirável
mistério, enviando ao mundo a Palavra da verdade e o Espírito da santidade,
concedei-nos que, na profissão da verdadeira fé, reconheçamos
a glória da eterna Trindade e adoremos a Unidade na sua omnipotência.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
Liturgia da Palavra
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LEITURA I – Deut
4, 32-34.39-40
«O Senhor é Deus, no alto dos céus e cá em baixo na
terra,
e não há outro»
Manifestando-Se
a Moisés, Deus dá-Se a conhecer como criador, como Aquele que é o Santíssimo.
Mas, ao mesmo tempo, este Deus, criador e transcendente, revela-Se como muito
próximo do homem, a quem dirige a Sua palavra e por quem se interessa. Sem
renunciar à Sua infinita grandeza, Ele procura, incessantemente, estabelecer
relações de amizade com o homem, de tal modo que a história das relações entre
Deus e a humanidade é um contínuo convite ao diálogo.
Tomar
consciência deste amor de Deus, viver segundo as suas exigências é encontrar a
verdadeira felicidade e aquela vida que não morre.
Leitura
do Livro do Deuteronómio
Moisés
falou ao povo, dizendo: «Interroga os tempos antigos que te precederam, desde o
dia em que Deus criou o homem sobre a terra. Dum extremo ao outro dos céus,
sucedeu alguma vez coisa tão prodigiosa? Ouviu-se porventura palavra
semelhante? Que povo escutou como tu a voz de Deus a falar do meio do fogo e
continuou a viver? Qual foi o deus que formou para si uma nação no seio de
outra nação, por meio de provas, sinais, prodígios e combates, com mão forte e
braço estendido, juntamente com tremendas maravilhas, como fez por vós o Senhor
vosso Deus no Egipto, diante dos vossos olhos? Considera hoje e medita em teu
coração que o Senhor é o único Deus, no alto dos céus e cá em baixo na terra, e
não há outro. Cumprirás as suas leis e os seus mandamentos, que hoje te
prescrevo, para seres feliz, tu e os teus filhos depois de ti, e tenhas longa
vida na terra que o Senhor teu Deus te vai dar para sempre».
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL
– Salmo 32 (33), 4-5.6.9.18.19.20.22 (R. 12b)
Refrão: Feliz o povo que
o Senhor escolheu para sua herança. (Repete-se)
A palavra do Senhor é recta,
da fidelidade nascem as suas obras.
Ele ama a justiça e a rectidão:
a terra está cheia da bondade do Senhor. (Refrão)
A palavra do Senhor criou os céus,
o sopro da sua boca os adornou.
Ele disse e tudo foi feito,
Ele mandou e tudo foi criado. (Refrão)
Os olhos do Senhor estão voltados
para os que O temem,
para os que esperam na sua bondade,
para libertar da morte as suas almas
e os alimentar no tempo da fome. (Refrão)
A nossa alma espera o Senhor:
Ele é o nosso amparo e protector.
Venha sobre nós a vossa bondade,
porque em Vós esperamos, Senhor. (Refrão)
LEITURA II – Rom
8, 14-17
«Recebestes o
Espírito de adopção filial,
pelo qual
exclamamos: “Abá, Pai”»
O homem nunca
teria a ousadia de chamar a Deus seu Pai se Jesus o Filho de Deus feito Homem,
nos não tivesse ensinado a tratá-l’O assim tão familiarmente. Foi, na verdade,
Jesus que, depois de nos ter revelado a bondade de Deus, nos tornou Seus
filhos, ao dar-nos o Seu Espírito, pelo Qual nos unimos, vitalmente, a Deus.
Filhos de Deus,
em Jesus Cristo, herdeiros, com Ele, do mundo novo, em que Deus será tudo em
todos, somos, realmente, homens livres! O temor, que caracterizava as relações
entre Deus e o homem, foi substituído em nós pelo amor filial.
Leitura
da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos:
Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Vós não
recebestes um espírito de escravidão para recair no temor, mas o Espírito de
adopção filial, pelo qual exclamamos: «Abá, Pai». O próprio Espírito dá
testemunho, em união com o nosso espírito, de que somos filhos de Deus. Se
somos filhos, também somos herdeiros, herdeiros de Deus e herdeiros com Cristo;
se sofrermos com Ele, também com Ele seremos glorificados.
Palavra do Senhor
ALELUIA – Ap 1, 8
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo,
ao Deus que é, que era e que há-de vir. (Refrão)
EVANGELHO – Mt 28,
16-20
«Baptizando-as em
nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo»
Antes
de voltar para o Pai, Cristo Ressuscitado transmite à Sua Igreja, representada
pelos Apóstolos, os Seus mesmos poderes tornando-a assim continuadora da Sua
missão.
Enviados
para todos os povos do mundo, os Apóstolos anunciarão, por toda a parte, que
Jesus continua vivo e deseja que todos os homens participem da vida do Pai, do
Filho e do Espírito Santo, mediante a fé e o Baptismo. Assistidos por Jesus,
presente na Sua Igreja, ao longo da história, ensinarão os homens a amar a Deus
e os irmãos, mostrando-se, desse modo, discípulos de Jesus.
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele
tempo, os Onze discípulos partiram para a Galileia, em direcção ao monte que
Jesus lhes indicara. Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram.
Jesus aproximou-Se e disse-lhes: «Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra.
Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre
convosco até ao fim dos tempos».
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS
OBLATAS
Santificai, Senhor, os dons sobre os quais invocamos o vosso santo nome e,
por este divino sacramento, fazei de nós mesmos uma oblação eterna para vossa
glória.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA
COMUNHÃO – Gal 4, 6
Porque somos filhos de Deus,
Ele enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho,
que clama: Abba, Pai.
ORAÇÃO DEPOIS DA
COMUNHÃO
Ao professarmos a nossa fé na Trindade Santíssima e na sua
indivisível Unidade, concedei-nos, Senhor nosso Deus, que a participação neste
divino sacramento nos alcance a saúde do corpo e da alma.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
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