JESUS
SUPERA AS TENTAÇÕES
A tentação no deserto resume os conflitos que Jesus vai
experimentar em toda a sua vida. Deverá enfrentar o representante das forças do
mal que escravizam os homens. E Deus o sustentará nessa luta. Mateus
pormenoriza, salientando três tentações. Nelas, Jesus é tentado a falsificar a
própria missão, realizando uma actividade que só se preocupe em satisfazer às
necessidades imediatas, buscar o prestígio, ambicionar o poder e as riquezas.
Jesus, porém, resiste a essas tentações. Seu projecto de justiça é transformar
as estruturas segundo a vontade de Deus (palavra que sai da boca de Deus), não
pondo Deus ao seu próprio serviço ou interesse (Não tentes o Senhor teu Deus),
e não generalizando coisas que geram opressão e exploração sobre os homens,
criando ídolos (adorarás ao Senhor teu Deus...). Lucas inverte a ordem das duas
últimas tentações, porque em Jerusalém (Templo) é que acontecerá a suprema
tentação e a vitória final sobre ela. Na tradição do Êxodo, no Antigo
Testamento, o deserto é o lugar de purificação e definição, num processo de
mudança de vida. As condições ambientais de despojamento, próprias do deserto,
são propícias à reformulação de valores pessoais ou comunitários, previamente
assumidos. Assim, o povo hebreu, conforme a tradição, ao sair do Egipto,
permaneceu quarenta anos no deserto, que serviram como preparação para as novas
condições de vida na “terra prometida”, que invadiram. Os três evangelistas sinópticos
narram que Jesus, após receber o baptismo de João, passou também “quarenta dias”
no deserto, como um tempo de provação. O agente da provação é o diabo, que
propõe a Jesus, sucessivamente, que transforme pedras em pães, que se prostre
diante dele e que se lance do alto do Templo. Estas tentações delineiam o
perfil do messias glorioso: promessa demagógica de pão para todos, assumir o
poder sobre todos os reinos do mundo e ostentar-se como o protegido pelo poder
divino. Assim, o evangelista associa tal messias ao projecto do diabo. E a “tentação”
de Jesus exprime um momento de decisão pelo início de seu ministério, optando pelas
suas linhas mestras: Jesus vem para instaurar o Reino da partilha, da humildade
e do serviço, com a comunicação do amor de Deus a todos os povos, sem
exclusões. A Quaresma é o tempo propício a um maior amadurecimento da fé em
Jesus, que toca os corações com a sua palavra. É a palavra humilde e amorosa
que tem a força transformadora, revelando o “Senhor, que é generoso para com
todos os que o invocam” e renovando a vida no mundo.
MISSA
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ANTÍFONA DE
ENTRADA – Salmo 90, 15-16
Quando me invocar, hei-de atendê-lo; hei-de libertá-lo
e dar-lhe glória. Favorecê-lo-ei com longa vida
e lhe mostrarei a minha salvação.
ORAÇÃO COLECTA
Concedei-nos, Deus omnipotente, que, pela observância
quaresmal, alcancemos maior compreensão do mistério de Cristo e a nossa vida
seja dele um digno testemunho.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
Liturgia da Palavra
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LEITURA I – Deut
26, 4-10
« A profissão de fé do povo eleito »
Através da
oferta dos primeiros frutos da terra, o Povo eleito reconhece que tudo vem de
Deus: a terra que cultiva, assim como a energia para a cultivar. Com este
gesto, o homem vencia a tentação de se encerrar no mundo material, afirmando o
primado do espiritual: «nem só de pão vive o homem».
Mas este gesto
tem uma dimensão religiosa mais profunda. Na verdade, a oferta das primícias a
Deus, por intermédio do sacerdote, era acompanhada duma autêntica profissão de
fé, em que se recapitulavam os acontecimentos mais importantes da História da
Salvação.
Leitura
do Livro do Deuteronómio
Moisés
falou ao povo, dizendo: «O sacerdote receberá da tua mão as primícias dos
frutos da terra e colocá-las-á diante do altar do Senhor teu Deus. E diante do Senhor
teu Deus, dirás as seguintes palavras: ‘Meu pai era um arameu errante, que
desceu ao Egipto com poucas pessoas, e aí viveu como estrangeiro até se tornar
uma nação grande, forte e numerosa. Mas os egípcios maltrataram-nos,
oprimiram-nos e sujeitaram-nos a dura escravidão. Então invocámos o Senhor Deus
dos nossos pais e o Senhor ouviu a nossa voz, viu a nossa miséria, o nosso
sofrimento e a opressão que nos dominava. O Senhor fez-nos sair do Egipto com
mão poderosa e braço estendido, espalhando um grande terror e realizando sinais
e prodígios. Conduziu-nos a este lugar e deu-nos esta terra, uma terra onde
corre leite e mel. E agora venho trazer-Vos as primícias dos frutos da terra
que me destes, Senhor’. Então colocarás diante do Senhor teu Deus as primícias
dos frutos da terra e te prostrarás diante do Senhor teu Deus».
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL
– Salmo 90 (91), 1-2.10-15 (R. cf. 15b
Refrão: Estai comigo,
Senhor, no meio da adversidade. (Repete-se).
Tu que habitas sob a protecção do Altíssimo
e moras à sombra do Omnipotente,
diz ao Senhor:
«Sois o meu refúgio e a minha cidadela:
meu Deus, em Vós confio». (Refrão)
Nenhum mal te acontecerá,
nem a desgraça se aproximará da tua tenda,
porque Ele mandará aos seus Anjos
que te guardem em todos os teus caminhos. (Refrão)
Na palma das mãos te levarão,
para que não tropeces em alguma pedra.
Poderás andar sobre víboras e serpentes,
calcar aos pés o leão e o dragão. (Refrão)
Porque em Mim confiou, hei-de salvá-lo;
hei-de protegê-lo, pois conheceu o meu nome.
Quando Me invocar, hei-de atendê-lo,
estarei com ele na tribulação,
hei-de libertá-lo e dar-lhe glória. (Refrão)
LEITURA II – Rom 10, 8-13
« Profissão de fé dos que crêem em Cristo »
A fé do Povo
Eleito baseava-se em factos concretos, pelos quais Deus manifestava o Seu amor
e a Sua fidelidade.
A fé cristã
consiste na adesão a uma pessoa, Jesus Cristo, Ressuscitado, e, por isso,
Senhor. Com efeito, todas as maravilhosas intervenções salvíficas de Deus têm o
seu ponto culminante no Mistério Pascal de Cristo.
Deste modo, «a
fé é crer em Alguém e não em alguma coisa, o que significa abrir um crédito,
que me põe à disposição do Único, em quem creio» (Gabriel Marcel).
Só esta fé em Cristo
Ressuscitado, proclamada com alegria e vivida até às últimas consequências, nos
dá a salvação.
Leitura
da primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Romanos
Irmãos:
Que diz a Escritura? «A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu
coração». Esta é a palavra da fé que nós pregamos. Se confessares com a tua
boca que Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O
ressuscitou dos mortos, serás salvo. Pois com o coração se acredita para obter
a justiça e com a boca se professa a fé para alcançar a salvação. Na verdade, a
Escritura diz: «Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido». Não
há diferença entre judeu e grego: todos têm o mesmo Senhor, rico para com todos
os que O invocam. Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será
salvo.
Palavra do Senhor
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Mt 4, 4b
Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.. (Repete-se)
Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. (Refrão)
EVANGELHO – Lc 4,
1-13
«Esteve no
deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado»
A
tentação no Deserto não foi um acontecimento isolado. Foi o começo duma luta
contra o «príncipe deste mundo», que se prolongará por toda a vida, atingindo o
auge com a Morte em Jerusalém.
Como
a de Jesus, a vida do cristão conhece também a prova da tentação. O Baptismo,
que nos faz filhos de Deus, não nos introduz num estado de segurança. É antes o
começo de dura caminhada, no decorrer da qual a nossa fidelidade a Deus é,
muitas vezes, posta à prova.
Em
todas as circunstâncias, porém, o cristão poderá ser invencível. Cristo
Ressuscitado, que venceu, definitivamente, o mal, ficou na Eucaristia, para nos
comunicar esse poder.
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele
tempo, Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão.
Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi
tentado pelo Diabo. Nesses dias não comeu nada e, passado esse tempo, sentiu
fome. O Diabo disse-lhe: «Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se
transforme em pão». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o
homem’». O Diabo levou-O a um lugar alto e mostrou-Lhe num instante todos os
reinos da terra e disse-Lhe: «Eu Te darei todo este poder e a glória destes
reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares
diante de mim, tudo será teu». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Ao Senhor
teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto’». Então o Diabo levou-O a
Jerusalém, colocou-O sobre o pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és Filho de
Deus, atira-Te daqui abaixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus
Anjos a teu respeito, para que Te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te
levarão, para que não tropeces em alguma pedra’». Jesus respondeu-lhe: «Está
mandado: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». Então o Diabo, tendo terminado toda
a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo.
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS
OBLATAS
Fazei que a nossa vida, Senhor, corresponda à oferta das nossas mãos,
com a qual damos início à celebração do tempo santo da Quaresma.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA
COMUNHÃO – Mt 4, 4
Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que vem da boca de Deus.
Ou – Salmo 90, 4
O Senhor te cobrirá com as suas penas,
debaixo das suas asas encontrarás abrigo.
ORAÇÃO DEPOIS DA
COMUNHÃO
Saciados com o pão do Céu, que alimenta a fé, confirma a
esperança e fortalece a caridade, nós Vos pedimos, Senhor: ensinai-nos a ter
fome de Cristo, o verdadeiro pão da vida, e a alimentar-nos de toda a palavra
que da vossa boca nos vem.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
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