sábado, 23 de março de 2019

PREPARAR A MISSA DO DOMINGO III DA QUARESMA – ano C – 24MAR2019




DEUS NÃO NOS SALVA SEM NÓS PARTICIPARMOS

A notícia de dois factos (algumas mortes numa revolta contra os romanos e o desmoronamento de uma torre que sepulta algumas pessoas) dão a Cristo ocasião de falar que o juízo de Deus virá repentinamente. Não só será imprevisto, mas cairá sobre quem menos o espera.
Às vezes admiramo-nos do lugar que a morte ocupa no anúncio do Reino; muitos ateus, e até mesmo cristãos, censuram a Igreja por essa espécie de complacência ao servir-se do pavor da morte para levar os homens à conversão.
No entanto, a morte não deveria ser causa de pavor; é, antes, um “sinal” que todo homem deve forçosamente interpretar. O convite do Cristão a fazer penitência não é um convite a preparar-se à pressa para entrar na outra vida. A penitência consiste exactamente consentir em morrer, e isto é, para todos os homens, a prova mais decisiva da sua condição de criatura.

A conversão, acto livre do homem
A urgência da conversão por causa da proximidade do juízo de Deus, que os sinais dos tempos continuamente nos evocam, é a nossa resposta à experiência do Deus que vem fazer-nos sair do Egipto, que vem ajudar-nos a encontrar a nossa identidade de homens. Ele ouve o clamor do seu povo e manda Moisés “libertá-lo das mãos dos egípcios e fazê-lo sair daquele país para uma terra boa e espaçosa” (1.ª leitura). Um povo libertado é um povo em conversão. Uma conversão contínua. Assim como não foi suficiente ao povo de Israel, para ser fiel a Deus, passar o mar Vermelho, alimentar-se do maná e matar a sede com a água do rochedo (de facto, insurgiram-se contra Deus e foram castigados), também a nós, novo povo de Deus, não basta sermos baptizados e termos participado da mesa do corpo e sangue de Cristo, para entrarmos no reino da promessa (2.ª leitura). A vida do povo no deserto, no tempo de Moisés, admoesta Paulo, foi escrita para nossa correcção. A palavra de Deus quer, portanto, provocar-nos à conversão, e a urgência desse apelo assume em Cristo uma tonalidade particular: Ele é a misericórdia do Pai; é mais uma ocasião oferecida ao homem para fazer penitência. O tempo de Cristo é o tempo da paciência do Pai. Deus não impõe prazo fixo. Um longo passado de esterilidade não impede, pois, a Deus, de dar mais uma oportunidade à figueira. Não se trata de fraqueza, mas de amor.

A conversão, acto comprometedor
O risco é de subestimar as exigências desse acto e limitá-lo a gestos que só nos atingem superficialmente, deixando intacto o nosso íntimo. Conversão é um exame profundo de si mesmo e da direcção que tem tomado a própria vida. Implica numa “mudança de direcção". É uma passagem da fé aceite passivamente, fé herdada, a uma fé activamente conquistada, como resposta ao dom de Deus e à intervenção do Espírito na nossa vida. É ruptura com uma mentalidade voltada para o pecado, para valores puramente humanos, para a auto-suficiência e o orgulho, a fim de aderir aos sinais de penitência não apenas rituais. Conversão é, sobretudo, adesão ao Reino que vem e compromisso com ele; é atitude de pobre, de pequenino, de servo, de filho; é autenticidade de comportamento contra qualquer desacordo entre fé e vida. Deus espera-nos nesse instante decisivo. Espera da nossa fé um acto forte, a plena e consciente aceitação do nosso destino: pede-nos que o assumamos livremente. Ninguém pode fazê-lo em nosso lugar, nem mesmo Deus.

A conversão, acto que custa
O caminho da conversão pode levar a opções dilacerantes e que transtornam. Há situações em que não é fácil agir ou é impossível voltar atrás. Há opções, como a de quem se divorciou, ou de quem rompeu com a Igreja ou com a vida religiosa, que não podem ser facilmente modificadas; um concubinato com filhos, que não se pode solucionar com o matrimónio; uma inesperada e não desejada maternidade; o não estar psicologicamente preparado para aceitar um filho; um viciado em drogas; uma grande injustiça sofrida; um comportamento habitual de desconfiança entre marido e mulher, entre país e filhos; o conflito entre famílias, uma vingança levada além das próprias intenções. No entanto, sempre e em todos os casos, é válido o apelo à conversão. É um caminho longo e difícil. Caminho que dilacera o coração e exige o respeito e o auxilio de toda a comunidade. Exige a compreensão dos que sabem que essas opções nem sempre dependem das pessoas, e que certas situações podem vir a ser a de qualquer um de nós. Cristo não permitiu que se arrancasse uma árvore aparentemente estéril. Um germe de vida nova é possível em toda Primavera.

MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 24, 15-16
Os meus olhos estão voltados para o Senhor,
porque Ele livra os meus pés da armadilha.
Olhai para mim, Senhor, e tende compaixão
porque estou só e desamparado.

Ou – Ez 36, 23-26
Quando Eu manifestar em vós a minha santidade,
reunir-vos-ei de todos os povos;
derramarei sobre vós água pura,
e ficareis limpos de toda a iniquidade.
Eu vos darei um espírito novo, diz o Senhor.

ORAÇÃO COLECTA
Deus, Pai de misericórdia e fonte de toda a bondade, que nos fizestes encontrar no jejum, na oração e no amor fraterno os remédios do pecado, olhai benigno para a confissão da nossa humildade, de modo que, abatidos pela consciência da culpa, sejamos confortados pela vossa misericórdia.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Liturgia da Palavra

LEITURA I – Ex 3, 1-8a.13-15
«O que Se chama ‘Eu sou’ enviou-me a vós»

TContinuando a apresentar, nesta subida quaresmal a caminho da Páscoa, certos momentos mais significativos da história da salvação, a primeira leitura deste domingo, em seguimento da dos domingos anteriores, dá-nos a célebre revelação de Deus a Moisés, a revelação do seu Nome, que define, tanto quanto isso é possível, Quem é Deus. Ao mesmo tempo, e na continuação dessa revelação, Deus chama Moisés e envia-o como instrumento de salvação para o seu povo escravizado no Egipto. Moisés será o chefe desse povo, o seu condutor através do deserto, e, como tal, figura de Cristo, o verdadeiro Pastor, guia e salvador do seu povo.

Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias, Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Ao levar o rebanho para além do deserto, chegou ao monte de Deus, o Horeb. Apareceu-lhe então o Anjo do Senhor numa chama ardente, do meio de uma sarça. Moisés olhou para a sarça, que estava a arder, e viu que a sarça não se consumia. Então disse Moisés: «Vou aproximar-me, para ver tão assombroso espectáculo: por que motivo não se consome a sarça?». O Senhor viu que ele se aproximava para ver. Então Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés, Moisés!». Ele respondeu: «Aqui estou!» Continuou o Senhor: «Não te aproximes. Tira as sandálias dos pés, porque o lugar que pisas é terra sagrada». E acrescentou: «Eu sou o Deus de teus pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob». Então Moisés cobriu o rosto, com receio de olhar para Deus. Disse-lhe o Senhor: «Eu vi a situação miserável do meu povo no Egipto; escutei o seu clamor provocado pelos opressores. Conheço, pois, as suas angústias. Desci para o libertar das mãos dos egípcios e o levar deste país para uma terra boa e espaçosa, onde corre leite e mel». Moisés disse a Deus: «Vou procurar os filhos de Israel e dizer-lhes: ‘O Deus de vossos pais enviou-me a vós’. Mas se me perguntarem qual é o seu nome, que hei-de responder-lhes?». Disse Deus a Moisés: «Eu sou ‘Aquele que sou’». E prosseguiu: «Assim falarás aos filhos de Israel: O que Se chama ‘Eu sou’ enviou-me a vós». Deus disse ainda a Moisés: «Assim falarás aos filhos de Israel: ‘O Senhor, Deus de vossos pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob, enviou-me a vós. Este é o meu nome para sempre, assim Me invocareis de geração em geração’».
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 102 (103), 1-4.6-8.11 (R. 8a)

Refrão: O Senhor é clemente e cheio de compaixão. (Repete-se).

Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios. (Refrão)

Ele perdoa todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades.
Salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia. (Refrão)

O Senhor faz justiça
e defende o direito de todos os oprimidos.
Revelou a Moisés os seus caminhos
e aos filhos de Israel os seus prodígios. (Refrão)

O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
Como a distância da terra aos céus,
assim é grande a sua misericórdia
para os que O temem. (Refrão)


LEITURA II – 1 Cor 10, 1-6.10-12

«A vida do povo com Moisés no deserto foi escrita para nos servir de exemplo»

É o próprio Apóstolo que nos ensina a ler o Antigo Testamento: este anuncia as realidades do Novo Testamento, e serve, ao mesmo tempo, de exemplo e de guia ao povo da Nova Aliança, que já chegou “aos últimos tempos”, os tempos do Senhor Jesus Cristo, mas que ainda peregrina no deserto deste mundo a caminho da Terra Prometida. Não venha a suceder-nos a nós o que a muitos deles aconteceu: terem ficado pelo caminho.


Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Não quero que ignoreis que os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, passaram todos através do mar e na nuvem e no mar, receberam todos o baptismo de Moisés. Todos comeram o mesmo alimento espiritual e todos beberam a mesma bebida espiritual. Bebiam de um rochedo espiritual que os acompanhava: esse rochedo era Cristo. Mas a maioria deles não agradou a Deus, pois caíram mortos no deserto. Esses factos aconteceram para nos servir de exemplo, a fim de não cobiçarmos o mal, como eles cobiçaram. Não murmureis, como alguns deles murmuraram, tendo perecido às mãos do Anjo exterminador. Tudo isto lhes sucedia para servir de exemplo e foi escrito para nos advertir, a nós que chegámos ao fim dos tempos. Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair.
Palavra do Senhor


ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Mt 4, 17

Refrão: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor. (Repete-se)

Arrependei-vos, diz o Senhor;
está próximo o reino dos Céus. (Refrão)


EVANGELHO – Lc 13, 1-9

«Se não vos arrependerdes, morrereis do mesmo modo»

A primeira mensagem da Boa Nova que Jesus nos traz é o anúncio da aproximação do reino dos Céus, e consequentemente o convite a acolhê-lo com o coração voltado para ele e afastado do que lhe é contrário. Esta atitude é assim uma conversão, um regresso dos caminhos do pecado, uma atitude de arrependimento em relação ao passado, uma atitude penitencial. E esta atitude do coração é fundamental na Quaresma.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, vieram contar a Jesus que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus, juntamente com o das vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes: «Julgais que, por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito homens, que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante. Jesus disse então a seguinte parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou. Disse então ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há-de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’. Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano».
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Concedei, Senhor, por este sacrifício, que, ao pedirmos o perdão dos nossos pecados, perdoemos também aos nossos irmãos.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 83, 4-5
As aves do céu encontram abrigo e as andorinhas um ninho para os seus filhos, junto dos vossos altares, Senhor dos Exércitos, meu Rei e meu Deus. Felizes os que moram em vossa casa e a toda a hora cantam os vossos louvores.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Recebemos, Senhor nosso Deus, o penhor da glória eterna e, vivendo ainda na terra, fomos saciados com o pão do Céu. Nós Vos pedimos humildemente a graça de manifestar na vida o que celebramos neste sacramento.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



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