DEUS NÃO NOS
SALVA SEM NÓS PARTICIPARMOS
A notícia de dois factos (algumas mortes numa revolta
contra os romanos e o desmoronamento de uma torre que sepulta algumas pessoas)
dão a Cristo ocasião de falar que o juízo de Deus virá repentinamente. Não só
será imprevisto, mas cairá sobre quem menos o espera.
Às vezes admiramo-nos do lugar que a morte ocupa no anúncio
do Reino; muitos ateus, e até mesmo cristãos, censuram a Igreja por essa espécie
de complacência ao servir-se do pavor da morte para levar os homens à
conversão.
No entanto, a morte não deveria ser causa de pavor; é,
antes, um “sinal” que todo homem deve forçosamente interpretar. O convite do
Cristão a fazer penitência não é um convite a preparar-se à pressa para entrar
na outra vida. A penitência consiste exactamente consentir em morrer, e isto é,
para todos os homens, a prova mais decisiva da sua condição de criatura.
A conversão, acto livre do homem
A urgência da conversão por causa da proximidade do juízo
de Deus, que os sinais dos tempos continuamente nos evocam, é a nossa resposta
à experiência do Deus que vem fazer-nos sair do Egipto, que vem ajudar-nos a
encontrar a nossa identidade de homens. Ele ouve o clamor do seu povo e manda
Moisés “libertá-lo das mãos dos egípcios e fazê-lo sair daquele país para uma
terra boa e espaçosa” (1.ª leitura). Um povo libertado é um povo em conversão.
Uma conversão contínua. Assim como não foi suficiente ao povo de Israel, para
ser fiel a Deus, passar o mar Vermelho, alimentar-se do maná e matar a sede com
a água do rochedo (de facto, insurgiram-se contra Deus e foram castigados),
também a nós, novo povo de Deus, não basta sermos baptizados e termos
participado da mesa do corpo e sangue de Cristo, para entrarmos no reino da
promessa (2.ª leitura). A vida do povo no deserto, no tempo de Moisés, admoesta
Paulo, foi escrita para nossa correcção. A palavra de Deus quer, portanto,
provocar-nos à conversão, e a urgência desse apelo assume em Cristo uma
tonalidade particular: Ele é a misericórdia do Pai; é mais uma ocasião
oferecida ao homem para fazer penitência. O tempo de Cristo é o tempo da
paciência do Pai. Deus não impõe prazo fixo. Um longo passado de esterilidade
não impede, pois, a Deus, de dar mais uma oportunidade à figueira. Não se trata
de fraqueza, mas de amor.
A conversão, acto comprometedor
O risco é de subestimar as exigências desse acto e
limitá-lo a gestos que só nos atingem superficialmente, deixando intacto o
nosso íntimo. Conversão é um exame profundo de si mesmo e da direcção que tem
tomado a própria vida. Implica numa “mudança de direcção". É uma passagem
da fé aceite passivamente, fé herdada, a uma fé activamente conquistada, como
resposta ao dom de Deus e à intervenção do Espírito na nossa vida. É ruptura
com uma mentalidade voltada para o pecado, para valores puramente humanos, para
a auto-suficiência e o orgulho, a fim de aderir aos sinais de penitência não
apenas rituais. Conversão é, sobretudo, adesão ao Reino que vem e compromisso
com ele; é atitude de pobre, de pequenino, de servo, de filho; é autenticidade
de comportamento contra qualquer desacordo entre fé e vida. Deus espera-nos
nesse instante decisivo. Espera da nossa fé um acto forte, a plena e consciente
aceitação do nosso destino: pede-nos que o assumamos livremente. Ninguém pode
fazê-lo em nosso lugar, nem mesmo Deus.
A conversão, acto que custa
O caminho da conversão pode levar a opções dilacerantes e
que transtornam. Há situações em que não é fácil agir ou é impossível voltar
atrás. Há opções, como a de quem se divorciou, ou de quem rompeu com a Igreja
ou com a vida religiosa, que não podem ser facilmente modificadas; um
concubinato com filhos, que não se pode solucionar com o matrimónio; uma
inesperada e não desejada maternidade; o não estar psicologicamente preparado
para aceitar um filho; um viciado em drogas; uma grande injustiça sofrida; um
comportamento habitual de desconfiança entre marido e mulher, entre país e
filhos; o conflito entre famílias, uma vingança levada além das próprias
intenções. No entanto, sempre e em todos os casos, é válido o apelo à
conversão. É um caminho longo e difícil. Caminho que dilacera o coração e exige
o respeito e o auxilio de toda a comunidade. Exige a compreensão dos que sabem
que essas opções nem sempre dependem das pessoas, e que certas situações podem
vir a ser a de qualquer um de nós. Cristo não permitiu que se arrancasse uma árvore
aparentemente estéril. Um germe de vida nova é possível em toda Primavera.
MISSA
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ANTÍFONA DE
ENTRADA – Salmo 24, 15-16
Os meus olhos estão voltados para o Senhor,
porque Ele livra os meus pés da armadilha.
Olhai para mim, Senhor, e tende compaixão
porque estou só e desamparado.
Ou – Ez 36, 23-26
Quando Eu manifestar em vós a minha santidade,
reunir-vos-ei de todos os povos;
derramarei sobre vós água pura,
e ficareis limpos de toda a iniquidade.
Eu vos darei um espírito novo, diz o Senhor.
ORAÇÃO COLECTA
Deus, Pai de misericórdia e fonte de toda a bondade, que nos
fizestes encontrar no jejum, na oração e no amor fraterno os remédios do
pecado, olhai benigno para a confissão da nossa humildade, de modo que,
abatidos pela consciência da culpa, sejamos confortados pela vossa
misericórdia.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
Liturgia da Palavra
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LEITURA I – Ex 3,
1-8a.13-15
«O que Se
chama ‘Eu sou’ enviou-me a vós»
TContinuando a
apresentar, nesta subida quaresmal a caminho da Páscoa, certos momentos mais
significativos da história da salvação, a primeira leitura deste domingo, em
seguimento da dos domingos anteriores, dá-nos a célebre revelação de Deus a
Moisés, a revelação do seu Nome, que define, tanto quanto isso é possível, Quem
é Deus. Ao mesmo tempo, e na continuação dessa revelação, Deus chama Moisés e
envia-o como instrumento de salvação para o seu povo escravizado no Egipto.
Moisés será o chefe desse povo, o seu condutor através do deserto, e, como tal,
figura de Cristo, o verdadeiro Pastor, guia e salvador do seu povo.
Leitura
do Livro do Êxodo
Naqueles
dias, Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Ao
levar o rebanho para além do deserto, chegou ao monte de Deus, o Horeb.
Apareceu-lhe então o Anjo do Senhor numa chama ardente, do meio de uma sarça.
Moisés olhou para a sarça, que estava a arder, e viu que a sarça não se
consumia. Então disse Moisés: «Vou aproximar-me, para ver tão assombroso
espectáculo: por que motivo não se consome a sarça?». O Senhor viu que ele se
aproximava para ver. Então Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés, Moisés!».
Ele respondeu: «Aqui estou!» Continuou o Senhor: «Não te aproximes. Tira as
sandálias dos pés, porque o lugar que pisas é terra sagrada». E acrescentou:
«Eu sou o Deus de teus pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob».
Então Moisés cobriu o rosto, com receio de olhar para Deus. Disse-lhe o Senhor:
«Eu vi a situação miserável do meu povo no Egipto; escutei o seu clamor
provocado pelos opressores. Conheço, pois, as suas angústias. Desci para o
libertar das mãos dos egípcios e o levar deste país para uma terra boa e
espaçosa, onde corre leite e mel». Moisés disse a Deus: «Vou procurar os filhos
de Israel e dizer-lhes: ‘O Deus de vossos pais enviou-me a vós’. Mas se me
perguntarem qual é o seu nome, que hei-de responder-lhes?». Disse Deus a
Moisés: «Eu sou ‘Aquele que sou’». E prosseguiu: «Assim falarás aos filhos de
Israel: O que Se chama ‘Eu sou’ enviou-me a vós». Deus disse ainda a Moisés:
«Assim falarás aos filhos de Israel: ‘O Senhor, Deus de vossos pais, Deus de
Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob, enviou-me a vós. Este é o meu nome para
sempre, assim Me invocareis de geração em geração’».
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL
– Salmo 102 (103), 1-4.6-8.11 (R. 8a)
Refrão: O Senhor é
clemente e cheio de compaixão. (Repete-se).
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios. (Refrão)
Ele perdoa todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades.
Salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia. (Refrão)
O Senhor faz justiça
e defende o direito de todos os oprimidos.
Revelou a Moisés os seus caminhos
e aos filhos de Israel os seus prodígios. (Refrão)
O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
Como a distância da terra aos céus,
assim é grande a sua misericórdia
para os que O temem. (Refrão)
LEITURA II – 1 Cor 10, 1-6.10-12
«A vida do
povo com Moisés no deserto foi escrita para nos servir de exemplo»
É o próprio
Apóstolo que nos ensina a ler o Antigo Testamento: este anuncia as realidades
do Novo Testamento, e serve, ao mesmo tempo, de exemplo e de guia ao povo da
Nova Aliança, que já chegou “aos últimos tempos”, os tempos do Senhor Jesus
Cristo, mas que ainda peregrina no deserto deste mundo a caminho da Terra
Prometida. Não venha a suceder-nos a nós o que a muitos deles aconteceu: terem
ficado pelo caminho.
Leitura
da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Não quero que ignoreis que os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem,
passaram todos através do mar e na nuvem e no mar, receberam todos o baptismo
de Moisés. Todos comeram o mesmo alimento espiritual e todos beberam a mesma
bebida espiritual. Bebiam de um rochedo espiritual que os acompanhava: esse
rochedo era Cristo. Mas a maioria deles não agradou a Deus, pois caíram mortos
no deserto. Esses factos aconteceram para nos servir de exemplo, a fim de não
cobiçarmos o mal, como eles cobiçaram. Não murmureis, como alguns deles
murmuraram, tendo perecido às mãos do Anjo exterminador. Tudo isto lhes sucedia
para servir de exemplo e foi escrito para nos advertir, a nós que chegámos ao
fim dos tempos. Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair.
Palavra do Senhor
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Mt 4, 17
Refrão: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor. (Repete-se)
Arrependei-vos, diz o Senhor;
está próximo o reino dos Céus. (Refrão)
EVANGELHO – Lc 13,
1-9
«Se não vos
arrependerdes, morrereis do mesmo modo»
A
primeira mensagem da Boa Nova que Jesus nos traz é o anúncio da aproximação do
reino dos Céus, e consequentemente o convite a acolhê-lo com o coração voltado
para ele e afastado do que lhe é contrário. Esta atitude é assim uma conversão,
um regresso dos caminhos do pecado, uma atitude de arrependimento em relação ao
passado, uma atitude penitencial. E esta atitude do coração é fundamental na
Quaresma.
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele
tempo, vieram contar a Jesus que Pilatos mandara derramar o sangue de certos
galileus, juntamente com o das vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes:
«Julgais que, por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores
do que todos os outros galileus? Eu digo-vos que não. E se não vos
arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito homens, que a
torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que
todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não. E se não vos
arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante. Jesus disse então a seguinte
parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar
os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou. Disse então ao vinhateiro:
‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves
cortá-la. Porque há-de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’. Mas o
vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu,
entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar
frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano».
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS
OBLATAS
Concedei, Senhor, por este sacrifício, que, ao pedirmos o perdão dos
nossos pecados, perdoemos também aos nossos irmãos.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA
COMUNHÃO – Salmo 83, 4-5
As aves do céu encontram abrigo e as andorinhas um ninho para os seus
filhos, junto dos vossos altares, Senhor dos Exércitos, meu Rei e meu Deus.
Felizes os que moram em vossa casa e a toda a hora cantam os vossos louvores.
ORAÇÃO DEPOIS DA
COMUNHÃO
Recebemos, Senhor nosso Deus, o penhor da glória eterna e,
vivendo ainda na terra, fomos saciados com o pão do Céu. Nós Vos pedimos
humildemente a graça de manifestar na vida o que celebramos neste sacramento.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
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