A GLÓRIA
DO FILHO DE DEUS
Lucas apresenta Jesus rezando continuamente (5,16; 6,12;
9,18). Com isso o evangelista mostra que Jesus, através da sua palavra e acção,
está a realizar a vontade do Pai. Na transfiguração aparece claramente esse
sentido da oração (v.35). É vontade do Pai que Jesus realize o êxodo (v.31),
isto é, que ele realize, mediante a sua morte, ressurreição e ascensão, o acto
supremo de libertação do povo, acabando com a opressão exercida pelo sistema
implantado em Jerusalém. A transfiguração forma um fascinante contraste com a
mensagem de sofrimentos e humilhação. Como sempre acontece na tradição
evangélica, é preciso manter unidos os dois extremos a fim de aceitar Jesus
como ele é, Filho do Homem e Filho de Deus. Diversos detalhes lembram a
experiência de Deus no Sinai: Moisés, o topo da montanha, a nuvem (Ex 24,9-19).
Jesus é visto como Filho de Deus na sua glória celestial. O “aspecto do seu
rosto mudou”, como ele mudará no seu corpo glorificado pela ressurreição (Mc
16,12). Com ele aparecem duas importantes figuras do Antigo Testamento, Moisés,
o Legislador, e Elias, o Profeta. Eles são um sinal de que Jesus satisfará as
expectativas do povo hebreu. De facto, falam com ele sobre o seu êxodo, a sua
morte, a ressurreição e, na teologia de Lucas, em especial a sua ascensão, que
ia “realizar-se” em Jerusalém. O comportamento dos três discípulos íntimos
desaponta-nos. Eles adormecem, como fará mais tarde num momento decisivo.
Confrontando com a glória divina, Pedro não chama Jesus pelo título de
“Senhor”, que o identifica adequadamente como o Salvador, a fala sem coerência
sobre erguer tendas terrenas para os seres celestiais. A revelação culmina com
a voz proveniente das nuvens, como no baptismo de Jesus. Ele é o Filho de Deus,
escolhido por Deus (Sl 2,7; Is 42,1). A admoestação “ouvi-o!” salienta a
importância daquilo que Jesus tem dito sobre a sua missão e a natureza dos discípulos.
A cena da Transfiguração é narrada pelos três evangelistas. A narrativa é feita
num estilo apocalíptico, também presente nas narrativas do baptismo e da
crucificação de Jesus. Este estilo caracteriza-se por fenómenos espantosos,
abalos da natureza, nuvens e voz celestial, que indicam a presença e
comunicação de Deus. Com isso, na Transfiguração fica confirmada a filiação
divina de Jesus e o seu carácter de enviado para anunciar e instruir a todos.
Moisés, representante da Lei, e Elias, representante do profetismo, haviam
subido à montanha ao encontro de Deus. Agora, estando Jesus no alto da montanha
a orar, Moisés e Elias vão a ele. O ponto alto é a voz que proclama: “Este é o
meu filho, o Eleito. Escutai-o”. Do ponto de vista de uma interpretação
messiânica escatológica, a Transfiguração seria o prenúncio da ressurreição,
como coroação dos sofrimentos de Jesus na sua Paixão. Sob outro ponto de vista,
a Transfiguração revela a condição divina de Jesus de Nazaré, filho de Maria,
na simplicidade de seu convívio entre nós. Os discípulos devem ver em Jesus a
nova condição humana glorificada pela encarnação do Filho de Deus. Não se trata
de esperar um messias poderoso, mas, sim, de reencontrar a dignidade e a
grandeza da condição humana, em tudo que ela tem de justo, bom e verdadeiro. Ao
entrarmos em comunhão de amor com Jesus e com o próximo, Deus é glorificado e é-nos
comunicada a sua vida divina e eterna.
MISSA
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ANTÍFONA DE
ENTRADA – Salmo 26, 8-9
Diz-me o coração: «Procurai a face do Senhor».
A vossa face, Senhor, eu procuro;
não escondais de mim o vosso rosto.
ORAÇÃO COLECTA
Deus de infinita bondade, que nos mandais ouvir o vosso
amado Filho, fortalecei-nos com o alimento interior da vossa palavra, de modo
que, purificado o nosso olhar espiritual, possamos alegrar-nos um dia na visão
da vossa glória.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
Liturgia da Palavra
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LEITURA I – Gen
15, 5-12.17-18
«Deus
estabelece a aliança com Abraão»
Toda a história
da salvação, desde o princípio até ao fim dos tempos, não é outra coisa senão o
estabelecimento de uma aliança entre Deus e os homens, aliança que é oferta
gratuita de Deus e que há-de ser aceitação humilde e agradecida da parte do
homem. Mas há momentos mais significativos no estabelecimento desta aliança. Um
deles, que é o seu ponto de partida mais explícito, é o da Aliança com Abraão,
o crente por excelência, que, pela fé, se entrega totalmente à palavra de Deus.
Nesta leitura, a aliança é significada por meio de um antigo rito: os animais
oferecidos e esquartejados são o gesto do homem e o fogo que passa pelo meio
deles é sinal da presença de Deus. Assim, de aliança em aliança, nos
encaminhamos para a celebração da nova e eterna aliança na Páscoa do Senhor.
Leitura
do Livro do Génesis
Naqueles
dias, Deus levou Abrão para fora de casa e disse-lhe: «Olha para o céu e conta
as estrelas, se as puderes contar». E acrescentou: «Assim será a tua
descendência». Abraão acreditou no Senhor, o que lhe foi atribuído como
justiça. Disse-lhe Deus: «Eu sou o Senhor que te mandou sair de Ur dos caldeus,
para te dar a posse desta terra». Abraão perguntou: «Senhor, meu Deus, como
saberei que a vou possuir?». O Senhor respondeu-lhe: «Toma uma vitela de três
anos, uma cabra de três anos e um carneiro de três anos, uma rola e um
pombinho». Abraão foi buscar todos esses animais, cortou-os ao meio e pôs cada
metade em frente da outra metade; mas não cortou as aves. Os abutres desceram
sobre os cadáveres, mas Abraão pô-los em fuga. Ao pôr do sol, apoderou-se de Abraão
um sono profundo, enquanto o assaltava um grande e escuro terror. Quando o sol
desapareceu e caíram as trevas, um brasido fumegante e um archote de fogo
passaram entre os animais cortados. Nesse dia, o Senhor estabeleceu com Abraão
uma aliança, dizendo: «Aos teus descendentes darei esta terra, desde o rio do
Egipto até ao grande rio Eufrates».
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL
– Salmo 26 (27), 1.7-8.9abc.13-14 (R. 1a)
Refrão: O Senhor é a
minha luz e a minha salvação. (Repete-se).
O Senhor é minha luz e salvação:
a quem hei-de temer?
O Senhor é protector da minha vida:
de quem hei-de ter medo? (Refrão)
Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica,
tende compaixão de mim e atendei-me.
Diz-me o coração: «Procurai a sua face».
A vossa face, Senhor, eu procuro. (Refrão)
Não escondais de mim o vosso rosto,
nem afasteis com ira o vosso servo.
Não me rejeiteis nem me abandoneis,
meu Deus e meu Salvador. (Refrão)
Espero vir a contemplar a bondade do Senhor
na terra dos vivos.
Confia no Senhor, sê forte.
Tem coragem e confia no Senhor. (Refrão)
LEITURA II – Filip 3, 17 – 4,1
«Cristo nos
transformará à imagem do seu corpo glorioso»
Cristo glorioso
é o termo de toda a história humana, o objecto da esperança de toda a nossa
vida e a meta para onde se orienta o nosso itinerário quaresmal. Ao tempo da
ascese difícil e dolorosa na subida, que acompanha a vida que vivemos neste
corpo mortal, responde a vida gloriosa, que já se manifesta no Corpo do Senhor
transfigurado. Mas o caminho e a porta da glória passa pela Cruz.
Leitura
da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
Irmãos:
Sede meus imitadores e ponde os olhos naqueles que procedem segundo o modelo
que tendes em nós. Porque há muitos, de quem tenho falado várias vezes e agora
falo a chorar, que procedem como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a
perdição: têm por deus o ventre, orgulham-se da sua vergonha e só apreciam as
coisas terrenas. Mas a nossa pátria está nos Céus, donde esperamos, como
Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo miserável, para
o tornar semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder que Ele tem de sujeitar a
Si todo o universo. Portanto, meus amados e queridos irmãos, minha alegria e
minha coroa, permanecei firmes no Senhor.
Palavra do Senhor
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Mt 4, 4b
Refrão: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor. (Repete-se)
No meio da nuvem luminosa, ouviu-se a voz do Pai:
«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». (Refrão)
EVANGELHO – Lc 9,
28b-36
«Enquanto orava,
alterou-se o aspecto do seu rosto»
A
Transfiguração aparece todos os anos no Segundo Domingo da Quaresma, como
anúncio da Ressurreição, de modo que, ao longo deste tempo de preparação
pascal, estejamos bem conscientes de que o termo, para onde caminhamos, é Jesus
ressuscitado. A Transfiguração, lida neste Domingo depois do Domingo da
Tentação, faz com ela uma espécie de preâmbulo, antes de chegarmos à parte
central da Quaresma. Mortificação e glorificação, tentação e glória, morte e
ressurreição, são de facto, a síntese do mistério pascal que vamos celebrar.
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele
tempo, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar.
Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de
uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que,
tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em
Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando,
viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se
iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos
três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Não sabia o
que estava a dizer. Enquanto assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a
sua sombra; e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu
uma voz, que dizia: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». Quando a voz
se fez ouvir, Jesus ficou sozinho. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles
dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS
OBLATAS
Esta oblação, Senhor, lave os nossos pecados e santifique o corpo e o
espírito dos vossos fiéis, para celebrarmos dignamente as festas pascais.
Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA
COMUNHÃO – Mt 17, 5
Este é o meu Filho muito amado,
no qual pus as minhas complacências.
Escutai-O.
ORAÇÃO DEPOIS DA
COMUNHÃO
Alimentados nestes gloriosos mistérios, nós Vos damos
graças, Senhor, porque, vivendo ainda na terra, nos fazeis participantes dos
bens do Céu.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
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