Santíssima
Trindade
Quando ouvimos falar de alguém como de grande personalidade, temos desejo
de conhecê-lo.
A festa da Santíssima Trindade desperta em nós este desejo e a ele
responde, porque Deus dá sempre o primeiro passo em direcção a nós. Neste ano,
é acentuado particularmente o facto de que Deus se manifesta, se revela, se nos
dá a conhecer e nos oferece um conhecimento “pessoal”, um face a face com cada
um de nós, para que nos abramos ao grande frente a frente de Deus.
A “Sabedoria” de Deus é a alegria do
amar aos homens
A página sobre a “Sabedoria de Deus” (1ª leitura) fala do Filho, “Palavra
viva de Deus”. É a Sabedoria que fala, mas é a Sabedoria de Deus, o “Verbo”,
que manifesta o seu papel não só no tempo e no espaço do universo, mas nos faz
entrever um além infinitamente mais vasto, um antes, no qual tudo realmente
encontra a sua razão de ser e a sua concreta origem. Esta revelação faz-nos conhecer
que Deus, na sua eternidade, pensou sempre no universo, e particularmente, com
infinita predilecção, nos homens.
E assim, enquanto Deus se revela a si mesmo, revela-se-nos também.
Faz-nos saber que os homens são uma obra verdadeiramente sábia, verdadeiramente
amável; que neles, ao pensá-los e ao criá-los, aplicou toda a sua sabedoria,
todo o seu amor. Assim nos é revelado que tudo tem um significado segundo Deus.
“Tudo foi criado em Cristo, por meio de Cristo, em vista de Cristo. Portanto,
todo aspecto de verdade, beleza, bondade, dinamismo, que se encontra nas coisas
e em todo o universo, nas instituições humanas, nas ciências, nas artes, em
todas as realidades terrenas e particularmente no homem e na história, tudo
isto é sinal e caminho para anunciar o mistério do Cristo. Talvez se tenha
perdido hoje a capacidade de reconhecer Deus na natureza; a ciência e a técnica
parecem explicar tudo e resolver tudo; não nos lembramos de que a própria
ciência e a técnica só se tornaram possíveis pelo dom de Deus. O Concílio
lembrou a necessidade de desenvolver as faculdades de admiração e de
contemplação e de cultivar o senso religioso”. É este senso religioso da
natureza que cantamos no salmo responsorial.
O Pai se revela e se comunica por
meio do Cristo, no Espírito
As breves linhas de São Paulo (2ª leitura) são extraídas de contexto mais
amplo, que resume o que o Apóstolo escreveu antes e introduz ao que escreverá
depois. Não só os romanos de então, entre injustiças sociais e perseguições
religiosas, mas os homens todos têm sempre, antes de tudo, necessidade de
esperança. Essa esperança, os homens a têm concretizada no Cristo. Deus, pelo
seu Filho realizou essa obra de libertação, de restauração, de “rectificação”,
que nós chamamos “redenção”. Tudo isso, por sua vez, produz uma esperança nova,
e é a esperança da libertação total e definitiva. Esperança certa, da qual Deus
nos deu a garantia, e essa garantia é o amor que foi derramado nos nossos
corações por obra do Espírito de Deus.
O dinamismo desta revelação de Deus está no seguinte: na obra da salvação
estão empenhadas as três pessoas divinas, com aspectos e modalidades pessoais
distintos. Pai, Filho e Espírito Santo revelam-se precisamente fazendo-nos
conhecer o que cada um faz por nós.
“O Espírito de Amor vos revelará
todas as coisas”
A Trindade manifesta-se do modo máximo na comunicação do Espírito de amor
aos homens, para que os homens, amando-se como Cristo os amou, amem a Deus e
entrem em intimidade com a divina Comunidade de amor.
Ainda sobre a Santíssima Trindade
“Ele me
glorificará porque receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer”.
Na mensagem de Jesus nem tudo é explícito. Ela é como uma semente. Está
cheia de potencialidades, muitas vezes, insuspeitadas. Vendo-se a semente não
se adverte da grandiosidade da árvore contida germinalmente nela. Cabe ao
Espírito conduzir os discípulos na descoberta das riquezas da prática de Jesus
e do seu evangelho. Ele regista o que é de Jesus e abre os horizontes de sua
compreensão que poderá vir séculos depois.
Demos apenas um exemplo. Jesus fala no evangelho: eu e o Pai somos um só;
noutro lugar diz-se que uma energia saía de Jesus que até o surpreendia e que
curava as pessoas, como a mulher do fluxo de sangue. A comunidade dos
discípulos, especialmente nos séculos III e IV, compreendeu claramente que aqui
se tratava da SS. Trindade. Na figura de Jesus se encontra revelado esse
mistério frontal do cristianismo. Ele dirige-se sempre a Deus como a seu pai.
Quem diz Pai se sente Filho. Essa é a consciência de Jesus. Da vida, da palavra
e da prática de Jesus se irradia uma força que transforma as pessoas. Era a
presença do Espírito nele. Só depois de muita reflexão e discussão os cristãos
conseguiram formular correctamente o mistério da SS. Trindade: três Pessoas
divinas, distintas, mas unidas pelo amor e pela interpenetração de umas com as
outras a ponto de se unificarem e ficar um só Deus-comunhão e um só Deus-amor.
Eis a obra do Espírito: receber o que é de Jesus e dá-lo a conhecer nos seus
desdobramentos ainda abertos para o futuro.
LEITURA I – Prov 8, 22-31
“Antes
das origens da terra, já existia a Sabedoria”
A
Sabedoria não é só um bem muito desejável. É mais do que isso.
É
uma pessoa viva, cuja origem é anterior à criação de todas as coisas.
Intimamente unida a Deus, mas, ao mesmo tempo, distinta d’Ele, assiste-O na
obra da criação, manifestando-se activamente criadora. Proveniente de Deus,
pertence ao âmbito divino. Contudo, ela vem ao encontro dos homens, no desejo
profundo de com eles estabelecer relações de amizade.
Nesta
Sabedoria de Deus, assim descrita no Antigo Testamento (o qual, sem nos dar uma
revelação precisa do mistério trinitário, nos vai introduzindo, pouco a pouco,
nos segredos da vida íntima de Deus), vê a tradição patrística, a partir de S.
Justino, o Verbo de Deus, Jesus Cristo, Sabedoria e Palavra criadora de Deus,
pelo Qual «tudo foi criado» (Jo. 1, 3).
Leitura do
Livro dos Provérbios
“Eis o que diz
a Sabedoria de Deus: «O Senhor me criou como primícias da sua actividade, antes
das suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui formada, desde o princípio,
antes das origens da terra. Antes de existirem os abismos e de brotarem as
fontes das águas, já eu tinha sido concebida. Antes de se implantarem as
montanhas e as colinas, já eu tinha nascido; ainda o Senhor não tinha feito a
terra e os campos, nem os primeiros elementos do mundo. Quando Ele consolidava
os céus, eu estava presente; quando traçava sobre o abismo a linha do
horizonte, quando condensava as nuvens nas alturas, quando fortalecia as fontes
dos abismos, quando impunha ao mar os seus limites para que as águas não
ultrapassassem o seu termo, quando lançava os fundamentos da terra, eu estava a
seu lado como arquitecto, cheia de júbilo, dia após dia, deleitando-me
continuamente na sua presença. Deleitava-me sobre a face da terra e as minhas
delícias eram estar com os filhos dos homens».”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Rom 5, 1-5
“Para
Deus, por Cristo, na caridade que recebemos do Espírito”
A
vida cristã mergulha as suas raízes no mistério de um Deus uno, Sua essência e
trino em Pessoas, tal como se revelou em Jesus Cristo. Pelo Sacrifício de
Jesus, nós fomos, na verdade, introduzidos nessa comunhão de vida e amor, que é
a Trindade Santíssima.
Reconciliados
com o Pai, justificados mediante a fé, passámos de um estado de inimizade com
Deus à posse de uma amizade, que nos transforma em imagens e filhos de Deus.
Começámos a viver da própria vida de Deus. E embora entre a justificação e a
salvação medeie o espaço da nossa vida terrena, tão fértil em tribulações,
estamos seguros de que viremos a gozar, de modo perfeito, das riquezas de Deus,
pois o Espírito Santo nos foi dado como penhor do amor do Pai por nós.
Em
paz com Deus e os irmãos, o cristão vai-se divinizando e divinizando a sua vida
quotidiana. Vai impregnando de amor as suas relações humanas, procurando
reproduzir na vida de cada dia o amor que se revelou no mistério da Trindade.
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
“Irmãos: Tendo
sido justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus
Cristo, pelo qual temos acesso, na fé, a esta graça em que permanecemos e nos
gloriamos, apoiados na esperança da glória de Deus. Mais ainda, gloriamo-nos
nas nossas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz a constância, a
constância a virtude sólida, a virtude sólida a esperança. Ora a esperança não
engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito
Santo que nos foi dado.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Jo 16, 12-15
“Tudo o que o Pai tem é meu.
O Espírito
receberá do que é meu, para vo-lo anunciar”
No
decorrer de toda a Sua vida, Jesus foi dando a conhecer aos Apóstolos, de
maneira progressiva, mas muito concreta, as Suas relações com o Pai e o
Espírito Santo, introduzindo-os assim no mistério de Deus uno e trino. Ao
terminar a Sua missão, promete-lhes o Espírito Santo, como guia seguro, no
tempo da Sua ausência. Espírito de verdade, Ele manterá vivo o ensinamento de
Jesus, através dos séculos; Ele ajudará os discípulos a aprofundar a Revelação
de Jesus, Palavra definitiva do Pai (Jo. 1, 12; 18).
Aceitando
este dom de Deus, o Espírito enviado por Cristo, para nos iluminar, vivificar e
divinizar, nós recebemos a salvação, que não é simples libertação do pecado,
mas sim inserção na vida trinitária – inserção que só será perfeita na
eternidade.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
“Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tenho ainda muitas coisas para vos
dizer, mas não as podeis compreender agora. Quando vier o Espírito da verdade,
Ele vos guiará para a verdade plena; porque não falará de Si mesmo, mas dirá
tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que está para vir. Ele Me
glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai
tem é meu. Por isso vos disse que Ele receberá do que é meu e vo-lo anunciará».”
Palavra da Salvação
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