sábado, 29 de abril de 2017

CONHECERAM-N’O AO PARTIR O PÃO




3.º Domingo da Páscoa

Jesus ressuscitado manifesta-se na Eucaristia

“Eles reconheceram o Senhor ao partir o pão”. Esta observação, de carácter litúrgico, ritualiza para nós a experiência da primeira comunidade cristã, das refeições fraternas nas casas dos cristãos, lembrando o Senhor Jesus, as suas palavras e os seus gestos de salvação, o seu sacrifício supremo. Só pode reconhecer o Senhor quem percorreu o caminho dos problemas do homem, deles participando plenamente: o fracasso, a solidão, a busca de justiça e verdade, a coerência em direcção a um mundo melhor, a solidariedade. Então o Cristo, anónimo e misterioso companheiro, testemunha e interlocutor das hesitações e dúvidas, revela-se não como aquele que tem solução para todas as questões, mas como alguém que, tendo aceitado entrar no plano de Deus, tornou-se o primogénito de uma nova humanidade.

Em memória de mim
Reconhecemos o Senhor por meio de um rito, que é memorial da sua morte-ressurreição. Nesse rito, os acontecimentos históricos da vida de Jesus e os da sua Igreja hoje, como os de toda a humanidade, se revelam como pertencendo ao mesmo plano de Deus; e a Igreja, que celebra a Páscoa do Senhor, confirma-se na esperança de um igual cumprimento do seu destino. “Não devia o Cristo sofrer tais coisas para entrar na sua glória?”. Assim como a catequese primitiva (cf evangelho e 1ª leitura) se apoiava no testemunho da Escritura (a Lei, os Profetas, os Salmos) para interpretar o Cristo, também a nossa comunidade lê a Palavra de Deus para compreender a sua vida de hoje, para antecipar, na esperança, a sua glória com Cristo.
Por isso, “as duas partes que constituem a missa, isto é, a liturgia da Palavra e a liturgia eucarística, são tão estreitamente unidas entre si que formam um só acto de culto” (SC 56). Só quem partilha a mesma história pode partilhar o mesmo pão que é memorial, presença, profecia do Senhor ressuscitado.

Partilhar a eucaristia, partilhar o pão
A eucaristia, diz-nos o Concílio, e “ápice e fonte de toda a vida cristã”. A comunidade cristã não é um grupo reunido em torno de um interesse humanitário, um ideal filantrópico, um código moral, mas em torno de uma pessoa. Cristo ressuscitado presente na eucaristia, força unificadora da comunidade, força propulsora de seu desenvolvimento.
Como os discípulos de Emaús, desanimados e desiludidos, cépticos e desconfiados, o mundo de hoje reconhece Cristo quando os cristãos sabem verdadeiramente “partir o pão”.
A eucaristia não tem um sentido e um valor individualista; tem um alcance profundamente social. Como cristãos, partilhar o pão eucarístico implica um compromisso a partilhar o outro pão, um compromisso de justiça, de solidariedade, de defesa daqueles cujo pão é roubado pelas injustiças dos homens e dos sistemas sociais errados. Se faltarmos a esse compromisso, a participação do pão eucarístico não só perderá todo seu sentido revolucionário, mas tornar-se-á num fenómeno alienante para a nossa consciência.
A participação do pão eucarístico obriga-nos, por coerência, a uma distribuição mais equânime dos bens terrestres, a lutar contra toda a desigualdade económica, para que a ninguém falte o “pão quotidiano”. E isso em nível de classes, de nações, de continentes. Se não soubermos repartir nosso pão com as populações e regiões de subnutridos, nossa credibilidade cristã estará comprometida e o mundo do subdesenvolvimento procurará outros caminhos para obter justiça, impelido pela “ira dos pobres”.

O meu e vosso sacrifício
“De que serve ornar de vasos de ouro a mesa do Cristo, se ele mesmo morre de fome? Começa por alimentá-lo quando está faminto, e então poderás decorar a sua mesa com o supérfluo. Diz-me: se, vendo alguém privado do sustento indispensável, o deixasses em jejum e fosses enfeitar a sua mesa com vasos de ouro, achas que ele te ficaria agradecido? Ou não ficaria indignado? Ou ainda, se, vendo-o vestido de andrajos e trémulo de frio, o deixasses sem roupa para erigir-lhe monumentos de ouro, pretendendo assim honrá-lo, não diria ele que estarias zombando dele com a mais refinada ironia? Confessa a ti mesmo que ages assim com o Cristo, quando ele é peregrino, estrangeiro e está sem abrigo, e tu, em lugar de recebê-lo, decoras os pavimentos, as paredes e os capitéis das colunas. Suspendes candelabros com correntes de prata, e quando ele está acorrentado, não vais consolá-lo. Não digo isto para reprovar esses ornamentos, mas afirmo que é necessário fazer uma coisa sem omitir a outra; ou melhor, que se deve começar por esta, isto é, por socorrer o pobre” (S. João Crisóstomo).


MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 65, 1-2
Aclamai a Deus, terra inteira, cantai a glória do seu nome, celebrai os seus louvores. Aleluia.

Diz-se o Glória.

ORAÇÃO COLECTA
Exulte sempre o vosso povo, Senhor, com a renovada juventude da alma, de modo que, alegrando-se agora por se ver restituído à glória da adopção divina, aguarde o dia da ressurreição na esperança da felicidade eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Actos 2, 14.22-33

Não era possível que Ele ficasse sob o domínio da morte

Esta leitura é uma passagem da primeira pregação de S. Pedro. Na longa citação do salmo 15 o Apóstolo entrevê o anúncio da Ressurreição do Senhor. De facto, é à luz da Ressurreição que toda a palavra da Sagrada Escritura encontra a sua completa significação, particularmente a do Antigo Testamento. A palavra dos Salmos foi directamente referida pelo Senhor, no próprio dia da Ressurreição, ao aparecer aos discípulos no Cenáculo, como estando escrita a seu respeito (Lc 24, 44).

Leitura dos Actos dos Apóstolos
“No dia de Pentecostes, Pedro, de pé, com os onze Apóstolos, ergueu a voz e falou ao povo: «Homens da Judeia e vós todos que habitais em Jerusalém, compreendei o que está a acontecer e ouvi as minhas palavras: Jesus de Nazaré foi um homem acreditado por Deus junto de vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus realizou no meio de vós, por seu intermédio, como sabeis. Depois de entregue, segundo o desígnio imutável e a previsão de Deus, vós destes-Lhe a morte, cravando-O na cruz pela mão de gente perversa. Mas Deus ressuscitou-O, livrando-O dos laços da morte, porque não era possível que Ele ficasse sob o seu domínio. Diz David a seu respeito: ‘O Senhor está sempre na minha presença, com Ele a meu lado não vacilarei. Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta e até o meu corpo descansa tranquilo. Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos mortos, nem deixareis o vosso Santo sofrer a corrupção. Destes-me a conhecer os caminhos da vida, a alegria plena em vossa presença’. Irmãos, seja-me permitido falar-vos com toda a liberdade: o patriarca David morreu e foi sepultado e o seu túmulo encontra-se ainda hoje entre nós. Mas, como era profeta e sabia que Deus lhe prometera sob juramento que um descendente do seu sangue havia de sentar-se no seu trono, viu e proclamou antecipadamente a ressurreição de Cristo, dizendo que Ele não O abandonou na mansão dos mortos, nem a sua carne conheceu a corrupção. Foi este Jesus que Deus ressuscitou e disso todos nós somos testemunhas. Tendo sido exaltado pelo poder de Deus, recebeu do Pai a promessa do Espírito Santo, que Ele derramou, como vedes e ouvis».”
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 15 (16), 1-2a.5.7-8.9-10.11
Refrão: Mostrai-me, Senhor, o caminho da vida. (Repete-se)

Ou: Aleluia (Repete-se)

Defendei-me, Senhor; Vós sois o meu refúgio.
Digo ao Senhor: Vós sois o meu Deus.
Senhor, porção da minha herança e do meu cálice,
está nas vossas mãos o meu destino. (Refrão)

Bendigo o Senhor por me ter aconselhado,
até de noite me inspira interiormente.
O Senhor está sempre na minha presença,
com Ele a meu lado não vacilarei. (Refrão)

Por isso o meu coração se alegra
e a minha alma exulta
e até o meu corpo descansa tranquilo.
Vós não abandonareis a minha alma
na mansão dos mortos,
nem deixareis o vosso fiel conhecer a corrupção. (Refrão)

Dar-me-eis a conhecer os caminhos da vida,
alegria plena em vossa presença,
delícias eternas à vossa direita. (Refrão)

LEITURA II – 1 Pedro 1, 17-21

Fostes resgatados pelo sangue precioso de Cristo, Cordeiro sem mancha

O que S. Pedro pregou logo no dia de Pentecostes foi o mesmo que ele escreveu depois às Igrejas. Nós somos hoje essas Igrejas de Cristo, espalhadas por todo o mundo, mas todas radicadas na mesma fé em Cristo Jesus, o nosso Cordeiro pascal. A nós, pois, se dirige hoje a pregação do Apóstolo.

Leitura da Primeira Epístola de São Pedro
“Caríssimos: Se invocais como Pai Aquele que, sem acepção de pessoas, julga cada um segundo as suas obras, vivei com temor, durante o tempo de exílio neste mundo. Lembrai-vos que não foi por coisas corruptíveis, como prata e oiro, que fostes resgatados da vã maneira de viver, herdada dos vossos pais, mas pelo sangue precioso de Cristo, Cordeiro sem defeito e sem mancha, predestinado antes da criação do mundo e manifestado nos últimos tempos por vossa causa. Por Ele acreditais em Deus, que O ressuscitou dos mortos e Lhe deu a glória, para que a vossa fé e a vossa esperança estejam em Deus.”
Palavra do Senhor

ALELUIA – cf. Lc 24, 32
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Senhor Jesus, abri-nos as Escrituras,
falai-nos e inflamai o nosso coração. (Refrão)

EVANGELHO – Lc 24, 13-35

Conheceram-n’O ao partir o pão

Tal como na aparição aos discípulos de Emaús, em cada celebração eucarística Jesus está connosco, explica-nos as Escrituras e faz-nos ver o que nelas se refere a Ele, preside à fracção do pão, que é a Eucaristia, e nela Se nos dá a conhecer e nos enche de alegria pascal. Na verdade, a viagem de Jesus com os dois discípulos, estrada abaixo a caminho de Emaús, é como uma verdadeira Missa ambulante, modelo de todas as celebrações eucarísticas.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
“Dois dos discípulos de Jesus iam a caminho duma povoação chamada Emaús, que ficava a duas léguas de Jerusalém. Conversavam entre si sobre tudo o que tinha sucedido. Enquanto falavam e discutiam, Jesus aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a caminho. Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem. Ele perguntou-lhes: «Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?». Pararam, com ar muito triste, e um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Tu és o único habitante de Jerusalém a ignorar o que lá se passou estes dias». E Ele perguntou: «Que foi?». Responderam-Lhe: «O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; e como os príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes O entregaram para ser condenado à morte e crucificado. Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de libertar Israel. Mas, afinal, é já o terceiro dia depois que isto aconteceu. É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos sobressaltaram: foram de madrugada ao sepulcro, não encontraram o corpo de Jesus e vieram dizer que lhes tinham aparecido uns Anjos a anunciar que Ele estava vivo. Alguns dos nossos foram ao sepulcro e encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas a Ele não O viram». Então Jesus disse-lhes: «Homens sem inteligência e lentos de espírito para acreditar em tudo o que os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de sofrer tudo isso para entrar na sua glória?». Depois, começando por Moisés e passando pelos Profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras o que Lhe dizia respeito. Ao chegarem perto da povoação para onde iam, Jesus fez menção de ir para diante. Mas eles convenceram-n’O a ficar, dizendo: «Ficai connosco, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite». Jesus entrou e ficou com eles. E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O. Mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram então um para o outro: «Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?». Partiram imediatamente de regresso a Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os que estavam com eles, que diziam: «Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão». E eles contaram o que tinha acontecido no caminho e como O tinham reconhecido ao partir o pão.”
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai, Senhor, os dons da vossa Igreja em festa.
Vós que lhe destes tão grande felicidade, fazei-a tomar parte na alegria eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – cf. Lc 24, 35
Os discípulos reconheceram o Senhor Jesus
ao partir o pão. Aleluia.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Olhai com bondade, Senhor, para o vosso povo e fazei chegar
à gloriosa ressurreição da carne aqueles que renovastes com os sacramentos de vida eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



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