3.º Domingo da Páscoa
“Jesus
ressuscitado manifesta-se na Eucaristia”
“Eles reconheceram o Senhor ao partir o pão”. Esta observação, de carácter
litúrgico, ritualiza para nós a experiência da primeira comunidade cristã, das
refeições fraternas nas casas dos cristãos, lembrando o Senhor Jesus, as suas
palavras e os seus gestos de salvação, o seu sacrifício supremo. Só pode
reconhecer o Senhor quem percorreu o caminho dos problemas do homem, deles
participando plenamente: o fracasso, a solidão, a busca de justiça e verdade, a
coerência em direcção a um mundo melhor, a solidariedade. Então o Cristo, anónimo
e misterioso companheiro, testemunha e interlocutor das hesitações e dúvidas,
revela-se não como aquele que tem solução para todas as questões, mas como
alguém que, tendo aceitado entrar no plano de Deus, tornou-se o primogénito de
uma nova humanidade.
Em memória de
mim
Reconhecemos o Senhor por meio de um rito, que é memorial da sua
morte-ressurreição. Nesse rito, os acontecimentos históricos da vida de Jesus e
os da sua Igreja hoje, como os de toda a humanidade, se revelam como
pertencendo ao mesmo plano de Deus; e a Igreja, que celebra a Páscoa do Senhor,
confirma-se na esperança de um igual cumprimento do seu destino. “Não devia o
Cristo sofrer tais coisas para entrar na sua glória?”. Assim como a catequese
primitiva (cf evangelho e 1ª leitura) se apoiava no testemunho da Escritura (a
Lei, os Profetas, os Salmos) para interpretar o Cristo, também a nossa
comunidade lê a Palavra de Deus para compreender a sua vida de hoje, para
antecipar, na esperança, a sua glória com Cristo.
Por isso, “as duas partes que constituem a missa, isto é, a liturgia da
Palavra e a liturgia eucarística, são tão estreitamente unidas entre si que
formam um só acto de culto” (SC 56). Só quem partilha a mesma história pode
partilhar o mesmo pão que é memorial, presença, profecia do Senhor
ressuscitado.
Partilhar a
eucaristia, partilhar o pão
A eucaristia, diz-nos o Concílio, e “ápice e fonte de toda a vida cristã”.
A comunidade cristã não é um grupo reunido em torno de um interesse
humanitário, um ideal filantrópico, um código moral, mas em torno de uma
pessoa. Cristo ressuscitado presente na eucaristia, força unificadora da
comunidade, força propulsora de seu desenvolvimento.
Como os discípulos de Emaús, desanimados e desiludidos, cépticos e
desconfiados, o mundo de hoje reconhece Cristo quando os cristãos sabem
verdadeiramente “partir o pão”.
A eucaristia não tem um sentido e um valor individualista; tem um alcance
profundamente social. Como cristãos, partilhar o pão eucarístico implica um
compromisso a partilhar o outro pão, um compromisso de justiça, de
solidariedade, de defesa daqueles cujo pão é roubado pelas injustiças dos
homens e dos sistemas sociais errados. Se faltarmos a esse compromisso, a
participação do pão eucarístico não só perderá todo seu sentido revolucionário,
mas tornar-se-á num fenómeno alienante para a nossa consciência.
A participação do pão eucarístico obriga-nos, por coerência, a uma
distribuição mais equânime dos bens terrestres, a lutar contra toda a desigualdade
económica, para que a ninguém falte o “pão quotidiano”. E isso em nível de
classes, de nações, de continentes. Se não soubermos repartir nosso pão com as
populações e regiões de subnutridos, nossa credibilidade cristã estará comprometida
e o mundo do subdesenvolvimento procurará outros caminhos para obter justiça,
impelido pela “ira dos pobres”.
“O meu e vosso sacrifício”
“De que serve ornar de vasos de ouro a mesa do Cristo, se ele mesmo morre
de fome? Começa por alimentá-lo quando está faminto, e então poderás decorar a sua
mesa com o supérfluo. Diz-me: se, vendo alguém privado do sustento
indispensável, o deixasses em jejum e fosses enfeitar a sua mesa com vasos de
ouro, achas que ele te ficaria agradecido? Ou não ficaria indignado? Ou ainda,
se, vendo-o vestido de andrajos e trémulo de frio, o deixasses sem roupa para
erigir-lhe monumentos de ouro, pretendendo assim honrá-lo, não diria ele que
estarias zombando dele com a mais refinada ironia? Confessa a ti mesmo que ages
assim com o Cristo, quando ele é peregrino, estrangeiro e está sem abrigo, e
tu, em lugar de recebê-lo, decoras os pavimentos, as paredes e os capitéis das
colunas. Suspendes candelabros com correntes de prata, e quando ele está
acorrentado, não vais consolá-lo. Não digo isto para reprovar esses ornamentos,
mas afirmo que é necessário fazer uma coisa sem omitir a outra; ou melhor, que
se deve começar por esta, isto é, por socorrer o pobre” (S. João Crisóstomo).
MISSA
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ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 65, 1-2
Aclamai a Deus, terra inteira, cantai a
glória do seu nome, celebrai os seus louvores. Aleluia.
Diz-se o Glória.
ORAÇÃO COLECTA
Exulte sempre o
vosso povo, Senhor, com a renovada juventude da alma, de modo que, alegrando-se
agora por se ver restituído à glória da adopção divina, aguarde o dia da
ressurreição na esperança da felicidade eterna.
Por Nosso Senhor
Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LEITURA I – Actos 2, 14.22-33
“Não era possível que Ele
ficasse sob o domínio da morte”
Esta leitura é uma passagem
da primeira pregação de S. Pedro. Na longa citação do salmo 15 o Apóstolo
entrevê o anúncio da Ressurreição do Senhor. De facto, é à luz da Ressurreição
que toda a palavra da Sagrada Escritura encontra a sua completa significação,
particularmente a do Antigo Testamento. A palavra dos Salmos foi directamente
referida pelo Senhor, no próprio dia da Ressurreição, ao aparecer aos
discípulos no Cenáculo, como estando escrita a seu respeito (Lc 24, 44).
Leitura dos Actos dos Apóstolos
“No dia de Pentecostes, Pedro,
de pé, com os onze Apóstolos, ergueu a voz e falou ao povo: «Homens da Judeia e
vós todos que habitais em Jerusalém, compreendei o que está a acontecer e ouvi
as minhas palavras: Jesus de Nazaré foi um homem acreditado por Deus junto de
vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus realizou no meio de vós, por seu
intermédio, como sabeis. Depois de entregue, segundo o desígnio imutável e a
previsão de Deus, vós destes-Lhe a morte, cravando-O na cruz pela mão de gente
perversa. Mas Deus ressuscitou-O, livrando-O dos laços da morte, porque não era
possível que Ele ficasse sob o seu domínio. Diz David a seu respeito: ‘O Senhor
está sempre na minha presença, com Ele a meu lado não vacilarei. Por isso o meu
coração se alegra e a minha alma exulta e até o meu corpo descansa tranquilo.
Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos mortos, nem deixareis o vosso
Santo sofrer a corrupção. Destes-me a conhecer os caminhos da vida, a alegria
plena em vossa presença’. Irmãos, seja-me permitido falar-vos com toda a
liberdade: o patriarca David morreu e foi sepultado e o seu túmulo encontra-se
ainda hoje entre nós. Mas, como era profeta e sabia que Deus lhe prometera sob
juramento que um descendente do seu sangue havia de sentar-se no seu trono, viu
e proclamou antecipadamente a ressurreição de Cristo, dizendo que Ele não O
abandonou na mansão dos mortos, nem a sua carne conheceu a corrupção. Foi este
Jesus que Deus ressuscitou e disso todos nós somos testemunhas. Tendo sido exaltado
pelo poder de Deus, recebeu do Pai a promessa do Espírito Santo, que Ele
derramou, como vedes e ouvis».”
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 15 (16),
1-2a.5.7-8.9-10.11
Refrão: Mostrai-me, Senhor, o caminho da vida. (Repete-se)
Ou: Aleluia (Repete-se)
Defendei-me, Senhor; Vós sois o meu refúgio.
Digo ao Senhor: Vós sois o meu Deus.
Senhor, porção da minha herança e do meu
cálice,
está nas vossas mãos o meu destino. (Refrão)
Bendigo o Senhor
por me ter aconselhado,
até de noite me
inspira interiormente.
O Senhor está
sempre na minha presença,
com Ele a meu lado
não vacilarei. (Refrão)
Por isso o meu
coração se alegra
e a minha alma
exulta
e até o meu corpo
descansa tranquilo.
Vós não
abandonareis a minha alma
na mansão dos
mortos,
nem deixareis o
vosso fiel conhecer a corrupção. (Refrão)
Dar-me-eis a
conhecer os caminhos da vida,
alegria plena em
vossa presença,
delícias eternas à
vossa direita. (Refrão)
LEITURA II – 1 Pedro 1, 17-21
“Fostes
resgatados pelo sangue precioso de Cristo, Cordeiro sem mancha”
O que S. Pedro
pregou logo no dia de Pentecostes foi o mesmo que ele escreveu depois às
Igrejas. Nós somos hoje essas Igrejas de Cristo, espalhadas por todo o mundo,
mas todas radicadas na mesma fé em Cristo Jesus, o nosso Cordeiro pascal. A
nós, pois, se dirige hoje a pregação do Apóstolo.
Leitura da Primeira Epístola de
São Pedro
“Caríssimos: Se invocais como
Pai Aquele que, sem acepção de pessoas, julga cada um segundo as suas obras,
vivei com temor, durante o tempo de exílio neste mundo. Lembrai-vos que não foi
por coisas corruptíveis, como prata e oiro, que fostes resgatados da vã maneira
de viver, herdada dos vossos pais, mas pelo sangue precioso de Cristo, Cordeiro
sem defeito e sem mancha, predestinado antes da criação do mundo e manifestado nos
últimos tempos por vossa causa. Por Ele acreditais em Deus, que O ressuscitou
dos mortos e Lhe deu a glória, para que a vossa fé e a vossa esperança estejam
em Deus.”
Palavra do Senhor
ALELUIA – cf. Lc 24, 32
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
Senhor Jesus,
abri-nos as Escrituras,
falai-nos e
inflamai o nosso coração. (Refrão)
EVANGELHO – Lc 24, 13-35
“Conheceram-n’O
ao partir o pão”
Tal como na aparição
aos discípulos de Emaús, em cada celebração eucarística Jesus está connosco,
explica-nos as Escrituras e faz-nos ver o que nelas se refere a Ele, preside à
fracção do pão, que é a Eucaristia, e nela Se nos dá a conhecer e nos enche de
alegria pascal. Na verdade, a viagem de Jesus com os dois discípulos, estrada
abaixo a caminho de Emaús, é como uma verdadeira Missa ambulante, modelo de
todas as celebrações eucarísticas.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo segundo São Lucas
“Dois dos discípulos de Jesus
iam a caminho duma povoação chamada Emaús, que ficava a duas léguas de
Jerusalém. Conversavam entre si sobre tudo o que tinha sucedido. Enquanto
falavam e discutiam, Jesus aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a caminho. Mas
os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem. Ele perguntou-lhes: «Que
palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?». Pararam, com ar muito
triste, e um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Tu és o único habitante de
Jerusalém a ignorar o que lá se passou estes dias». E Ele perguntou: «Que
foi?». Responderam-Lhe: «O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso em
obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; e como os príncipes dos
sacerdotes e os nossos chefes O entregaram para ser condenado à morte e
crucificado. Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de libertar Israel. Mas,
afinal, é já o terceiro dia depois que isto aconteceu. É verdade que algumas
mulheres do nosso grupo nos sobressaltaram: foram de madrugada ao sepulcro, não
encontraram o corpo de Jesus e vieram dizer que lhes tinham aparecido uns Anjos
a anunciar que Ele estava vivo. Alguns dos nossos foram ao sepulcro e
encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas a Ele não O viram». Então
Jesus disse-lhes: «Homens sem inteligência e lentos de espírito para acreditar
em tudo o que os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de sofrer tudo isso
para entrar na sua glória?». Depois, começando por Moisés e passando pelos
Profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras o que Lhe dizia respeito. Ao
chegarem perto da povoação para onde iam, Jesus fez menção de ir para diante.
Mas eles convenceram-n’O a ficar, dizendo: «Ficai connosco, porque o dia está a
terminar e vem caindo a noite». Jesus entrou e ficou com eles. E quando Se pôs
à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento
abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O. Mas Ele desapareceu da sua
presença. Disseram então um para o outro: «Não ardia cá dentro o nosso coração,
quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?». Partiram
imediatamente de regresso a Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os que
estavam com eles, que diziam: «Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a
Simão». E eles contaram o que tinha acontecido no caminho e como O tinham reconhecido
ao partir o pão.”
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai, Senhor, os dons da vossa Igreja em
festa.
Vós que lhe destes tão grande felicidade,
fazei-a tomar parte na alegria eterna.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO – cf. Lc
24, 35
Os
discípulos reconheceram o Senhor Jesus
ao partir
o pão. Aleluia.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Olhai com bondade, Senhor, para o vosso povo
e fazei chegar
à gloriosa ressurreição da carne aqueles que
renovastes com os sacramentos de vida eterna.
Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
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