sábado, 22 de julho de 2017

DEIXAI-OS CRESCER AMBOS ATÉ À CEIFA




16º Domingo do tempo comum – 23 Julho 2017


A PACIÊNCIA

Uma tendência natural dos homens é a de dividir a humanidade em duas grandes categorias: os bons de um lado, os maus de outro. Esta tendência existe também no plano religioso. Invocamos bênçãos sobre nós mesmos, sobre a nossa família, a nossa nação; que as maldições caiam sobre os outros, os inimigos, os que se opõem a nós.

A paciência de Deus...
De uma leitura superficial da Bíblia (especialmente dos Salmos) poder-se-ia talvez deduzir a concepção de um Deus impaciente, que queima as “etapas”. Os apelos à vingança são bastante frequentes (1Rs 18,40; Sl 82 e 108). Mas, as passagens mais importantes da Bíblia desmentem essa impressão. Elias, cheio de zelo, compreende, às próprias custas, que Deus não está no furacão ou no terremoto; está na brisa leve, no sopro do vento mais delicado (1 Rs 19,9-13). Tiago e João são censurados por causa do seu desejo de fazer cair raios sobre os samaritanos que não acolhem Jesus (Lc 9,51-55; Mt 26,51). A Escritura é o livro da paciência divina, que sempre adia o castigo do seu povo (Ex 32,7-14). Os profetas falam de cólera de Deus. Mas a cólera não é o último e definitivo momento da manifestação divina: o perdão vence sempre. Deus é rico em graça e fidelidade e está sempre pronto a retirar as suas ameaças, quando Israel volta novamente ao caminho da conversão.
Jesus inaugura o reino dos “últimos tempos”, não como juiz que separa os bons dos maus, mas como pastor universal, vindo antes de tudo para os pecadores. Não exclui ninguém do reino; todos são a ele chamados, todos podem lá entrar. Em todas as actividades da sua vida, Jesus encarna a paciência divina. Nenhum pecado pode cortar irremediavelmente as pontes de comunicação com a força misericordiosa de Deus. A Igreja, corpo de Cristo, tem por missão encarnar entre os homens a paciência de Jesus. Seu papel é revelar ao mundo a verdadeira face do amor. Na terra, o trigo está sempre misturado com o joio, e a linha de demarcação entre um e outro não passa pelas páginas dos registos paroquiais ou pelas fronteiras dos países; está no coração e na consciência de cada homem. Deve-se sempre recordar que a separação entre os bons e os maus só será feita depois da morte.

...de um Deus misericordioso
Não há dúvida de que a ideia que cada um faz de Deus condiciona o seu comportamento diante de Deus (adoração, oração...) e nas suas relações com o próximo. Isto significa que somos levados a fazer das nossas relações com os outros um prolongamento das que temos com Deus. A palavra de Deus faz uma descrição muito clara do conceito e da imagem de Deus. Deus aceita o escândalo do homem limitado e mau, e Cristo parece até mesmo provocá-lo com o seu comportamento, tratando livremente com bons e maus, justos e pecadores. Não anuncia uma comunidade de puros e santos. É paciente com todos e deixa aos pecadores tempo para amadurecer a sua conversão.
Portanto, não nos deve perturbar o escândalo de uma Igreja medíocre, pecadora, comprometida, distante do ideal evangélico de pureza, de santidade, de desapego. Sendo feita de homens e vivendo mergulhada no mundo, a Igreja corre continuamente o risco de se contaminar com o mundo e ver crescer em suas fileiras o joio ao lado do trigo. Alguns cristãos desejariam recorrer aos meios violentos e decisivos: excomungar os membros mais fracos, queimar os hereges, lançar violentamente em face dos cristãos e não-cristãos as exigências do evangelho, com a política do “comigo ou contra mim” ...
O fundamento dessas atitudes está em duas distorções. Uma ideia errada de Deus que seria um Deus ciumento dos homens, pronto a lançar os seus raios; portanto, um Deus avarento, mesquinho, não um Deus Pai misericordioso. É uma falta de confiança em Deus e de esperança, que gera medo e insegurança.

...respeita as etapas de crescimento e amadurecimento
No entanto, o Reino de Deus tolera os maus e os pecadores, porque tem uma inabalável confiança na acção de Deus que sabe esperar a livre decisão do homem. João XXIII escreveu: “A mansidão é a plenitude da força”. Não, pois, uma aceitação passiva dos acontecimentos, nem certo desleixo, mas uma atitude construtiva de tolerância, paciência e respeito pelos tempos e pelas etapas de crescimento, tanto no interior da vida das comunidades como no de cada pessoa, e uma atenção activa aos momentos da graça e aos sinais dos tempos, que surgirão no instante preciso.



MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 53, 6.8
Deus vem em meu auxílio, o Senhor sustenta a minha vida.
De todo o coração Vos oferecerei sacrifícios, cantando a glória do vosso nome.

ORAÇÃO COLECTA
Sede propício, Senhor, aos vossos servos e multiplicai neles os dons da vossa graça, para que, fervorosos na fé, esperança e caridade, perseverem na fiel observância dos vossos mandamentos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Sab 12, 13.16-19

Após o pecado, dais lugar ao arrependimento

Esta leitura é fruto da meditação de um homem sábio ao contemplar como Deus actua em presença dos males que rodeiam os homens, que saem até das mãos deles. Deus não age como os homens; não Se vinga, não Se desilude, não desespera. Deus sabe esperar, dando tempo ao tempo, e inspirando aos homens pecadores caminhos de conversão.

Leitura do Livro da Sabedoria
“Não há Deus, além de Vós, que tenha cuidado de todas as coisas; a ninguém tendes de mostrar que não julgais injustamente. O vosso poder é o princípio da justiça e o vosso domínio soberano torna-Vos indulgente para com todos. Mostrais a vossa força aos que não acreditam na vossa omni­potência e confundis a audácia daqueles que a conhecem. Mas Vós, o Senhor da força, julgais com bondade e governais-nos com muita indulgência, porque sempre podeis usar da força quando quiserdes. Agindo deste modo, ensinastes ao vosso povo que o justo deve ser humano e aos vossos filhos destes a esperança feliz de que, após o pecado, dais lugar ao arrependimento.”
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 85 (86), 5-6.9-10.15-16a (R. 5a)
Refrão: Senhor, sois um Deus clemente e compassivo. (Repete-se)

Vós, Senhor, sois bom e indulgente,
cheio de misericórdia para com todos
os que Vos invocam.
Ouvi, Senhor, a minha oração,
atendei a voz da minha súplica. (Refrão)

Todos os povos que criastes virão adorar-Vos,
Senhor,
e glorificar o vosso nome,
porque Vós sois grande e operais maravilhas,
Vós sois o único Deus. (Refrão)

Senhor, sois um Deus bondoso e compassivo,
paciente e cheio de misericórdia e fidelidade.
Voltai para mim os vossos olhos
e tende piedade de mim. (Refrão)


LEITURA II – Rom 8, 26-27

O Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis

A acção de Deus em nós não é espectacular, não se faz sentir de maneira turbulenta e ruidosa; antes é serena, mas profunda e contínua. Deus actua, pelo seu Espírito, no mais íntimo do coração do homem, se este lho abrir e O acolher. Então, o próprio Espírito de Deus ora em nós, como só Ele sabe e pode orar.

Leitura da Epístola do apóstolo S. Paulo aos Romanos
“Irmãos: O Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza, porque não sabemos que pedir nas nossas orações; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. E Aquele que vê no íntimo dos corações conhece as aspirações do Espírito, pois é em conformidade com Deus que o Espírito intercede pelos cristãos.”
Palavra do Senhor

ALELUIA – Mt 11, 25
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque revelastes aos pequeninos
os mistérios do reino. (Refrão)


EVANGELHO – Mt 13, 24-43

Deixai-os crescer ambos até à ceifa

J O trigo e o joio, o bem e o mal, crescem neste mundo tão entrelaçados, que nunca acabaremos por ser capazes de os separar completamente. Mas, a hora de Deus chegará; justiça será feita, e da maneira mais total e completa. Entretanto, o reino de Deus vai lançando raízes e vai crescendo, sem que o joio o consiga sufocar. Mais uma razão para lhe darmos toda a atenção e a ele nos consagrarmos de alma e coração, com toda a esperança.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele tempo, Jesus disse às multidões mais esta parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a espigar, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram dizer-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem então o joio?’. Ele respondeu-lhes: ‘Foi um inimigo que fez isso’. Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’. ‘Não! – disse ele – não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer ambos até à ceifa e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar; e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’». Jesus disse-lhes outra parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Sendo a menor de todas as sementes, depois de crescer, é a maior de todas as plantas da horta e torna-se árvore, de modo que as aves do céu vêm abrigar-se nos seus ramos». Disse-lhes outra parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado». Tudo isto disse Jesus em parábolas, e sem parábolas nada lhes dizia, a fim de se cumprir o que fora anunciado pelo profeta, que disse: «Abrirei a minha boca em parábolas, proclamarei verdades ocultas desde a criação do mundo». Jesus deixou então as multidões e foi para casa. Os discípulos aproximaram-se d’Ele e disseram-Lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo». Jesus respondeu: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do homem e o campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino, o joio são os filhos do Maligno e o inimigo que o semeou é o Diabo. A ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os Anjos. Como o joio é apanhado e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do homem enviará os seus Anjos, que tirarão do seu reino todos os escandalosos e todos os que praticam a iniquidade, e hão-de lançá-los na fornalha ardente; aí haverá choro e ranger de dentes. E os justos brilharão como o sol no reino do seu Pai. Quem tem ouvidos, oiça».”
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Senhor, que levastes à plenitude os sacrifícios da Antiga Lei no único sacrifício de Cristo, aceitai e santificai esta oblação dos vossos fiéis, como outrora abençoastes a oblação de Abel; e fazei que os dons oferecidos em vossa honra por cada um de nós sirvam para a salvação de todos.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 110, 4-5
O Senhor misericordioso e compassivo instituiu o memorial das suas maravilhas, deu sustento àqueles que O temem.

Ou – Ap 3, 20
Eu estou à porta e chamo, diz o Senhor. Se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Protegei, Senhor, o vosso povo que saciastes nestes divinos mistérios e fazei-nos passar da antiga condição do pecado à vida nova da graça.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



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