sábado, 15 de julho de 2017

SAIU O SEMEADOR A SEMEAR




15.º Domingo do tempo comum – 16 Julho 2017


A PALAVRA

“Têm boca e não falam” (Si 113 B, 5). Esta sátira dos “ídolos mudos” acentua, por contraste, um dos traços mais característicos do Deus vivo. Ele fala aos homens. Revela-se não só na linguagem silenciosa da natureza e dos sinais das criaturas; “fala” por suas intervenções históricas de salvação e misericórdia, de apelo e castigo. Fala no Antigo Testamento, através dos profetas, seus mediadores privilegiados e seus porta-vozes. Fala-lhes em sonhos e visões (Nm 16.6); revela-se nas inspirações pessoais (2Rs 3,15); a Moisés fala “face a face” (Nm 12,8).

Palavra que é experiência de vida
No Antigo Testamento, a palavra de Deus é, antes de tudo, um facto, uma experiência: Deus fala directamente a homens privilegiados e por meio deles a todo o seu povo. A centralidade da palavra de Deus no Antigo Testamento prepara o facto do Novo Testamento, que vem transformar o mundo, onde esta palavra – o Verbo – se torna carne. As leituras de hoje convidam-nos a aprofundar o tema da palavra. Na história da Igreja, as épocas sempre acarretaram uma revalorização da escuta e do confronto com a palavra de Deus. É o que está a acontecer hoje. Prova-o o fervor das obras provocadas pelo Concílio, e confirma-o a reforma litúrgica que se esforça por restituir à celebração da palavra o lugar que lhe compete. Hoje, ainda, como no tempo de Jesus, é a palavra que convoca e reúne a Igreja, em torno do Pai, e é no aprofundamento da palavra que os cristãos tomam consciência de ser família de Deus, seu novo povo de homens salvos. É também a atitude perante a palavra (indiferença, recusa, desprezo, acolhimento), que define a nossa posição no Reino de Deus (evangelho).

Indiferença e não-escuta da palavra
À atitude de “não-escuta” ou de rejeição da palavra de Deus no tempo de Jesus, corresponde nos nossos dias a de indiferença e incompreensão por parte do homem moderno. Às vezes, os pastores, os pregadores e missionários de hoje dão a impressão de estar a falar uma língua estrangeira. Os próprios cristãos têm a sensação de que há uma espécie de dissociação entre a sua vida de cada dia e a palavra que lhes é anunciada na assembleia eucarística; esta parece-lhes demasiado ligada a outros tempos, estática e sem impacto sobre a vida real. Será a palavra de Deus que está sendo questionada? Ou será o mundo e o homem moderno que ainda não conseguiram sintonizar essa palavra?

No decorrer dos séculos do cristianismo, a teologia da palavra pôs a tónica quase exclusivamente na proclamação da palavra. A palavra era objecto de uma pregação: um “dado” que deve ser fielmente entregue, transmitido como um depósito precioso. A vida do cristão, a sua experiência quotidiana só era vista como um terreno em que a palavra era posta em prática. A experiência, a vida, a existência concreta não eram vistas como “falando”, nem como reveladoras de novos aspectos e significados da palavra. Deus só falava quando a palavra era proclamada, quando as Escrituras eram lidas e comentadas.

O acontecimento como palavra
De algum tempo para cá vem-se verificando uma mudança na consideração e na compreensão da palavra de Deus. Descobre-se que o Deus da fé fala antes de tudo no acontecimento, isto é, através da história, da vida vivida pelo povo de Deus, empenhado na aventura única dos homens. Na “práxis” pastoral, e sobretudo na catequese, a experiência do homem é assumida cada vez mais completamente, não só como instrumento didáctico ou como suporte psicológico, mas realmente como o lugar privilegiado onde a palavra de Deus se manifesta em toda a sua riqueza e força. Uma catequese entendida como Deus que fala e o homem que escuta, é gradualmente substituída por uma catequese mais encarnada nas situações, mais atenta aos problemas do homem, isto é, mais “antropológica”, que poderemos exprimir do seguinte modo: O homem interroga e Deus responde. Dá-se total inversão de perspectivas, em favor de compreensão mais profunda da palavra de Deus. A mensagem deve iluminar a existência. A experiência não é posta ao serviço da mensagem para ilustrá-la, mas, antes, a mensagem é utilizada para conferir à existência toda a significação que tem na fé. Só assim a palavra é verdadeiramente anunciada, porque só assim incide profundamente na experiência do homem de hoje.



MISSA

ANTÍFONA DE ENTRADA – Salmo 16, 15
Eu venho, Senhor, à vossa presença:
ficarei saciado ao contemplar a vossa glória.

ORAÇÃO COLECTA
Senhor nosso Deus, que mostrais aos errantes a luz da vossa verdade para poderem voltar ao bom caminho, concedei a quantos se declaram cristãos que, rejeitando tudo o que é indigno deste nome, sigam fielmente as exigências da sua fé.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I – Is 55, 10-11

A chuva faz a terra produzir

Na terceira leitura deste domingo, o Senhor vai comparar a palavra de Deus à semente, que é lançada à terra. Mas, desde já, nesta primeira leitura, nos é dito, pela boca do profeta, que a semente da palavra tem em si mesma uma força divina que a torna eficaz, cheia de capacidade para que possa produzir todo o alimento de que o homem necessita para o seu espírito.

Leitura do Livro de Isaías
“Eis o que diz o Senhor: «Assim como a chuva e a neve que descem do céu não voltam para lá sem terem regado a terra, sem a terem fecundado e feito produzir, para que dê a semente ao semeador e o pão para comer, assim a palavra que sai da minha boca não volta sem ter produzido o seu efeito, sem ter cumprido a minha vontade, sem ter realizado a sua missão».”
Palavra do Senhor

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 64 (65), 10abcd.10e-11.12-13.14
Refrão: A semente caiu em boa terra e deu muito fruto. (R. Lc 8, 8) (Repete-se)

Visitastes a terra e a regastes,
enchendo-a de fertilidade.
As fontes do céu transbordam em água
e fazeis brotar o trigo. (Refrão)

Assim preparais a terra;
regais os seus sulcos e aplanais as leivas,
Vós a inundais de chuva
e abençoais as sementes. (Refrão)

Coroastes o ano com os vossos benefícios,
por onde passastes brotou a abundância.
Vicejam as pastagens do deserto
e os outeiros vestem-se de festa. (Refrão)

Os prados cobrem-se de rebanhos
e os vales enchem-se de trigo.
Tudo canta e grita de alegria. (Refrão)


LEITURA II – Rom 8, 18-23

As criaturas esperam a revelação dos filhos de Deus

O pecado do homem faz com que toda a criação, de que o homem é a cabeça, participe no estado de escravatura a que ele próprio se reduziu, mas a libertação, que de Deus nos vem por Jesus Cristo, há-de estender-se a todas as criaturas e fazer como que uma nova criação. E assim todos e tudo encontrarão a unidade em Deus, por Jesus Cristo.

Leitura da Epístola do apóstolo S. Paulo aos Romanos
“Irmãos: Eu penso que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há-de manifestar em nós. Na verdade, as criaturas esperam ansiosamente a revelação dos filhos de Deus. Elas estão sujeitas à vã situação do mundo, não por sua vontade, mas por vontade d’Aquele que as submeteu, com a esperança de que as mesmas criaturas sejam também libertadas da corrupção que escraviza, para receberem a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Sabemos que toda a criatura geme ainda agora e sofre as dores da maternidade. E não só ela, mas também nós, que possuímos as primícias do Espírito, gememos interiormente, esperando a adopção filial e a libertação do nosso corpo.”
Palavra do Senhor

ALELUIA – Mt 11, 25
Refrão: Aleluia. (Repete-se)

A semente é a palavra de Deus e o semeador é Cristo.
Quem O encontra viverá eternamente. (Refrão)


EVANGELHO – Mt 13, 1-23

Saiu o semeador a semear

Jesus fala em parábolas. Hoje apresenta a do semeador. A palavra de Deus, fonte de vida, continua a ser semeada sobre a terra imensa dos homens, e produzirá muito fruto, se essa terra for capaz de a receber. A palavra vem a nós em cada celebração litúrgica, na leitura individual da Sagrada Escritura, no eco que dentro de nós se faz ouvir a partir das vezes em que, no passado, a escutámos, desde os tempos, talvez distantes, da catequese ou da família onde crescemos, e até nos acontecimentos da vida e na própria voz da criação. Tudo nos repete a palavra de Deus.


Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
“Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar. Reuniu-se à sua volta tão grande multidão que teve de subir para um barco e sentar-Se, enquanto a multidão ficava na margem. Disse muitas coisas em parábolas, nestes termos: «Saiu o semeador a semear. Quando semeava, caíram algumas sementes ao longo do caminho: vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra, e logo nasceram, porque a terra era pouco profunda; mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram, por não terem raiz. Outras caíram entre espinhos e os espinhos cresceram e afogaram-nas. Outras caíram em boa terra e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um. Quem tem ouvidos, oiça». Os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «Porque lhes falas em parábolas?». Jesus respondeu: «Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos Céus, mas a eles não. Pois àquele que tem dar-se-á e terá em abundância; mas àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. É por isso que lhes falo em parábolas, porque vêem sem ver e ouvem sem ouvir nem entender. Neles se cumpre a profecia de Isaías que diz: ‘Ouvindo ouvireis, mas sem compreender; olhando olhareis, mas sem ver. Porque o coração deste povo tornou-se duro: endureceram os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para não acontecer que, vendo com os olhos e ouvindo com os ouvidos e compreendendo com o coração, se convertam e Eu os cure’. Quanto a vós, felizes os vossos olhos porque vêem e os vossos ouvidos porque ouvem! Em verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não viram e ouvir o que vós ouvis e não ouviram. Escutai, então, o que significa a parábola do semeador: Quando um homem ouve a palavra do reino e não a compreende, vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente ao longo do caminho. Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos é o que ouve a palavra e a acolhe de momento com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbe logo. Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, que assim não dá fruto. E aquele que recebeu a palavra em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende. Esse dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um».”
Palavra da Salvação

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Olhai, Senhor, para os dons da vossa Igreja em oração e concedei aos fiéis que os vão receber a graça de crescerem na santidade.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

ANTÍFONA DA COMUNHÃO – Salmo 83, 4-5
As aves do céu encontram abrigo e as andorinhas um ninho para os seus filhos, junto dos vossos altares, Senhor dos Exércitos, meu Rei e meu Deus.
Felizes os que moram em vossa casa e a toda a hora cantam os vossos louvores.

Ou – Jo 6, 57
Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em Mim e Eu nele, diz o Senhor.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor, que nos alimentais à vossa mesa santa, humildemente Vos suplicamos: sempre que celebramos estes mistérios, aumentai em nós os frutos da salvação.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



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