(6º Domingo da Páscoa)
Amar e observar os mandamentos
Advogado é alguém que defende uma
causa. Jesus envia o Espírito Santo como advogado da comunidade cristã. O
Espírito é a memória de Jesus que continua sempre viva e presente na
comunidade. Ele ajuda a comunidade a manter e interpretar a acção de Jesus em
qualquer tempo e lugar. O Espírito também leva a comunidade a discernir os
acontecimentos para continuar o processo de libertação, distinguindo o que é
vida e o que é morte, e realizando novos actos de Jesus na história. O discurso
de despedida de Jesus visava suscitar sentimentos positivos no coração dos
discípulos, num momento de desespero e angústia. E o Mestre fá-lo apelando à
importância de amá-lo de facto, pautando a vida pelos seus ensinamentos. Jesus
percebia a fragilidade do amor dos discípulos, e a não adesão radical à sua
pessoa. Sem esta adesão amorosa, qualquer acção futura ficaria impossibilitada.
Seria inútil contar com eles! Isto poderia comprometer o projecto de construção
do Reino que lhes fora entregue como missão. As palavras de Jesus são um apelo
aos discípulos para uma vida de comunhão com ele. Daí a sua insistência no tema
do amar e pôr em prática os mandamentos. O amor supõe vínculos tão estreitos de
relação com o Mestre, a ponto de permear e transformar a vida do discípulo.
Porque quem ama Jesus, recusa-se a dar guarida ao egoísmo e ao pecado que
rompem a comunhão. O discípulo que ama é fiel aos mandamentos do Mestre.
Portanto, o amor não se reduz a teorias. É uma contínua busca em conformidade
com o modo de ser e o querer de Jesus. Os seus mandamentos são uma expressão do
seu modo de ser. Por isso, Jesus ordenou que os discípulos fizessem o mesmo que
ele fez, propondo-lhes o seu próprio projecto de vida. Assim, a melhor escola
de amor é o testemunho da vida de Jesus. Jesus afirmara que iria para o Pai afim
de preparar uma morada para os discípulos. Agora fica esclarecido que esta
morada não é noutro lugar distante, no céu, mas sim no próprio discípulo que
guarda a sua palavra, o que significa a comunhão com a vida divina e eterna,
já. Jesus fala também de paz e alegria no momento em que a sua morte está para
acontecer. Paz é a plena realização humana. Ela só é possível se aquele que
rege uma sociedade desumana for destituído do poder. A morte de Jesus realiza a
paz. Todo o martírio é participação nessa luta vitoriosa de Jesus e, portanto,
causa de paz e alegria. Jesus é, por natureza, comunicador de paz. Sem dúvida,
não estamos às voltas com uma espécie de paz intimista e sentimental. A paz de
Jesus é muito mais do que isto! A paz é um dom de Jesus para os seus
discípulos, com vista ao testemunho que são chamados a dar. Ela visa a acção.
Por isso, não pode reduzir-se ao nível do sentimento. A paz de Jesus tem como
efeito banir do coração dos discípulos todo e qualquer resquício de perturbação
ou de temor que leva ao imobilismo. Possuindo o dom da paz, eles deveriam
manter-se imperturbáveis, sem se deixar intimidar diante das dificuldades.
Assim pensada, a paz de Jesus consiste numa força divina que não deixa que os
discípulos rompam a comunhão com o Mestre. É Jesus mesmo, presente na vida dos
discípulos, sustentando-lhes a caminhada, sempre dispostos a seguir adiante com
alegria, rumo à casa do Pai, apesar das adversidades que deverão enfrentar. A
paz do mundo é bem outra coisa. Encontra-se na fuga e na alienação dos
problemas da vida. Leva o discípulo a cruzar os braços, numa confiança ingénua
em Deus do qual tudo espera, sem exigir colaboração. É uma paz que conduz à
morte! O discípulo sensato rejeita a paz oferecida pelo mundo para acolher
aquela que Jesus oferece. De posse dela, estará preparado para enfrentar todos
os contratempos da vida, sem se deixar abater. A paz de Jesus é a paz que é
fruto da prática libertadora, fraterna, solidária, restauradora da vida e da
dignidade dos homens e mulheres. É a paz do reencontrar a vida na união da
vontade com o Pai. É o empenho na construção de um mundo novo unido pelo amor
que gera a vida eterna.
LEITURA I – Actos 15,
1-2.22-29
“O
Espírito Santo e nós decidimos não vos impor mais nenhuma obrigação, além
destas que são necessárias”
Em
Jerusalém, no seu primeiro Concílio, a Igreja, assistida do Espírito Santo,
reafirma a liberdade, que Cristo nos trouxe, ao decidir admitir no seu seio os
convertidos do paganismo, sem terem de se sujeitar às prescrições da lei
mosaica.
Animada
pelo Espírito Santo, que inspira as suas decisões e sustenta a sua actividade
missionária, a Igreja aparece-nos assim, desde os seus primeiros dias, como uma
comunidade sem fronteiras, aberta a todos os homens, de qualquer raça ou
cultura unida no amor e na fidelidade ao Colégio Apostólico.
Leitura dos
Actos dos Apóstolos
“Naqueles
dias, alguns homens que desceram da Judeia ensinavam aos irmãos de Antioquia:
«Se não receberdes a circuncisão, segundo a Lei de Moisés, não podereis
salvar-vos». Isto provocou muita agitação e uma discussão intensa que Paulo e
Barnabé tiveram com eles. Então decidiram que Paulo e Barnabé e mais alguns
discípulos subissem a Jerusalém, para tratarem dessa questão com os Apóstolos e
os anciãos. Os Apóstolos e os anciãos, de acordo com toda a Igreja, decidiram
escolher alguns irmãos e mandá-los a Antioquia com Barnabé e Paulo. Eram Judas,
a quem chamavam Barsabás, e Silas, homens de autoridade entre os irmãos.
Mandaram por eles esta carta: «Os Apóstolos e os anciãos, irmãos vossos, saúdam
os irmãos de origem pagã residentes em Antioquia, na Síria e na Cilícia. Tendo
sabido que, sem nossa autorização, alguns dos nossos vos foram inquietar,
perturbando as vossas almas com as suas palavras, resolvemos, de comum acordo,
escolher delegados para vo-los enviarmos, juntamente com os nossos queridos
Barnabé e Paulo, homens que expuseram a sua vida pelo nome de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Por isso vos mandamos Judas e Silas, que vos transmitirão de viva voz
as nossas decisões. O Espírito Santo e nós decidimos não vos impor mais nenhuma
obrigação, além destas que são indispensáveis: abster-vos da carne imolada aos
ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e das relações imorais. Procedereis
bem, evitando tudo isso. Adeus».”
Palavra do Senhor
LEITURA II – Ap 21,
10-14.22-23
“Mostrou-me
a cidade santa, que descia do Céu”
A
Igreja é a nova Jerusalém, alicerçada sobre a fé dos Apóstolos, na qual se
reunirão, chamados por Cristo Ressuscitado, os homens dos quatro cantos da
terra, para viverem em comunhão perfeita com Deus e com os irmãos.
S.
João contemplou-a em todo o seu esplendor e perfeição. Contudo, ela está ainda
a caminhar, na humildade e na dor ao longo dos séculos, na esperança de
resplandecer de glória, quando chegar a plenitude dos tempos. A nova Jerusalém
está ainda em construção e cada um de nós é uma pedra viva dessa morada de
Deus, pedra trabalhada pelo Espírito Santo, recebido no Baptismo e no Crisma.
Leitura do
Livro do Apocalipse
“Um Anjo
transportou-me em espírito ao cimo de uma alta montanha e mostrou-me a cidade
santa de Jerusalém, que descia do Céu, da presença de Deus, resplandecente da
glória de Deus. O seu esplendor era como o de uma pedra preciosíssima, como uma
pedra de jaspe cristalino. Tinha uma grande e alta muralha, com doze portas e,
junto delas, doze Anjos; tinha também nomes gravados, os nomes das doze tribos
dos filhos de Israel: três portas a nascente, três portas ao norte, três portas
ao sul e três portas a poente. A muralha da cidade tinha na base doze reforços
salientes e neles doze nomes: os dos doze Apóstolos do Cordeiro. Na cidade não
vi nenhum templo, porque o seu templo é o Senhor Deus omnipotente e o Cordeiro.
A cidade não precisa da luz do sol nem da lua, porque a glória de Deus a
ilumina e a sua lâmpada é o Cordeiro.”
Palavra do Senhor
EVANGELHO – Jo 14, 23-29
“O Espírito Santo vos recordará tudo o que Eu vos disse”
Ao
terminar o primeiro discurso de despedida, após a Ceia, Jesus promete aos Seus
discípulos o Espírito Santo, que lhes fará compreender, perfeitamente, a Sua
mensagem, os ajudará a viver o Evangelho em todas as circunstâncias e os
manterá em comunhão com Deus e os irmãos, de modo a gozarem sempre aquela paz,
que em si encerra todos os bens messiânicos.
Seguros
da presença do Espírito Santo na Igreja e nas suas almas, os cristãos podem,
portanto, manter-se confiantes e alegres, por maiores que sejam as
transformações por que passe a sociedade e por maiores que sejam as
dificuldades que a Igreja conheça.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
“Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quem Me ama guardará a minha palavra e
meu Pai o amará; Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada. Quem Me não
ama não guarda a minha palavra. Ora a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai
que Me enviou. Disse-vos estas coisas, estando ainda convosco. Mas o Paráclito,
o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e
vos recordará tudo o que Eu vos disse. Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz.
Não vo-la dou como a dá o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso
coração. Ouvistes que Eu vos disse: Vou partir, mas voltarei para junto de vós.
Se Me amásseis, ficaríeis contentes por Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior
do que Eu. Disse-vo-lo agora, antes de acontecer, para que, quando acontecer,
acrediteis».”
Palavra da Salvação
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