2.º Domingo da Páscoa – Divina
Misericórdia
“Os poderes
do Ressuscitado”
No primeiro dia depois do sábado, Jesus ressuscitado aparece aos
Apóstolos e lhes transmite os seus poderes, fruto da sua vitória pascal sobre a
morte e o pecado. Os seus discípulos reconhecem nele o Senhor, o Kynos, Dominus.
O dia da ressurreição, dia do Senhor, assume a característica do “dia do Senhor”,
dia do juízo escatológico, com a reunião dos seus fieis, a vitória sobre os
inimigos e a instauração do seu Reino.
O Primeiro e o
Último, o Vivente
Muito sobriamente, em confronto com as descrições proféticas (conservando
apenas alguns elementos da teofania divina, como o terramoto), os relatos
evangélicos mostram a nova situação do Ressuscitado, liberto das limitações
espácio-temporais, mas presente no meio dos seus, reunidos em assembleia. Jesus
é apresentado, na óptica de João, com os atributos sacerdotais (túnica longa) e
reais (cinto de ouro), como o sentido da história (o primeiro e o último), no
seu poder sobre a morte e os infernos. É verdadeiramente o Senhor, Deus como o
Pai, aquele que é o vivente para sempre, aquele que comunica a vida de Deus aos
seus!
O grupo dos apóstolos (1ª leitura) é investido deste poder de libertação
das enfermidades, dos “espíritos impuros”, sinal da libertação do pecado. E se,
no decorrer dos séculos, este poder não se manifesta mais de modo tão
extraordinário, a Igreja sabe, entretanto, que leva ao mundo a libertação do
pecado com a força dos sacramentos, nos quais Cristo opera com o seu Espírito.
Sinais de
salvação do Ressuscitado
A Igreja faz ressurgir uma criatura nova e transfere-a do reino de
Satanás ao reino do amor de Deus (baptismo); além disso, confirma-a na missão
(confirmação); torna-a partícipe, no memorial-profecia da sua morte e
ressurreição, do mesmo dinamismo pascal (eucaristia); liberta-a ainda, no
abraço do perdão, dos laços com o pecado (penitência); torna-a semelhante a si
na situação do pobre e do sofredor que espera a restauração do corpo mortal
(unção dos enfermos); exprime, através da continuidade do serviço à comunidade,
a sua missão de serviço (ordem); apresenta no mistério das núpcias o seu amor
de esposo pela Igreja (matrimónio). Os poderes do Ressuscitado pertencem à
comunidade dos que crêem que devem fazer dele participar todos os homens.
O pecado, câncer
que corrói
“Libertação” é um dos termos que mais polarizam e fascinam os jovens, na
sua procura de um mundo desvinculado das inúmeras cadeias que ainda o oprimem.
Mas de quem nos vem esta libertação? Bastará o esforço do homem, sua luta
apaixonada por maior liberdade, dignidade, justiça? E em que nível é preciso
agir?
São as estruturas que moldam o homem, dizem alguns. Mudemos as estruturas
e mudará o homem. Lutemos por fazer com que caiam as estruturas injustas e anacrónicas
da nossa sociedade.
É certo que as estruturas têm sua importância no modelar o homem,
torná-lo livre ou escravo. Mas o cristão sabe que a raiz profunda do drama deve
ser procurada no mais íntimo do homem, lá onde estão em jogo as suas opções
fundamentais entre o egoísmo e a doação. A primeira e mais radical libertação,
pela qual são condicionadas todas as outras, é a libertação do pecado, deste cancro
que corrói o homem no seu íntimo, que ataca a contextura da vida social, que
envenena as relações e rompe a comunhão.
Cristo ressuscitado veio garantir-nos esta libertação, raiz e base de
qualquer outra libertação. Libertação do pecado significa libertação da mais
radical alienação que seduz o homem. Onde não há esta libertação, vê-se que a
destruição das estruturas injustas deu lugar muito frequentemente a outras
estruturas que não souberam respeitar o homem.
O homem “novo” é só o homem pascal, que recebeu de Cristo, num esforço de
colaboração fecunda, a sua libertação. E as comunidades dos que crêem, a
Igreja, são chamadas hoje a prolongar a obra do Cristo libertador. Uma
libertação que não pode permanecer simplesmente interior; se for autêntica, se
difunde e engloba todos os sectores, todo o homem, superando toda visão “espiritualista”
que terminaria por trair a libertação, dom do Ressuscitado.
MISSA
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ANTÍFONA DE ENTRADA – 1 Pedro 2, 2
Como crianças recém-nascidas, desejai o leite
espiritual,
que vos fará crescer
e progredir no caminho da salvação. Aleluia.
Ou – 4 Esd 2, 36-37
Exultai de alegria, cantai hinos de glória.
Dai graças a Deus, que vos chamou ao reino
eterno. Aleluia.
ORAÇÃO COLECTA
Deus de eterna
misericórdia, que reanimais a fé do vosso povo na celebração anual das festas
pascais, aumentai em nós os dons da vossa graça, para compreendermos melhor as
riquezas inesgotáveis do Baptismo com que fomos purificados, do Espírito em que
fomos renovados e do Sangue com que fomos redimidos. Por Nosso Senhor.
LEITURA I – Actos 2, 42-47
“Todos os que haviam
abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum”
No Tempo Pascal a primeira
leitura é sempre tirada dos Actos dos Apóstolos, o livro da história dos
primeiros dias da Igreja. A passagem que hoje se lê conta precisamente o
ambiente em que vivia a primeira comunidade cristã de Jerusalém. Essa
comunidade ficará para sempre o tipo exemplar de todas as comunidades cristãs,
mesmo que as circunstâncias venham a ser muito diferentes: eles eram unidos na
fé, na vida de caridade até à comunhão de bens e nas celebrações, em que, ao
lado da Palavra, tinha lugar a “fracção do pão”, isto é, a Eucaristia.
Leitura dos Actos dos Apóstolos
“Os irmãos eram assíduos ao
ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações.
Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, toda a
gente se enchia de temor. Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e
tinham tudo em comum. Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por
todos, conforme as necessidades de cada um. Todos os dias frequentavam o
templo, como se tivessem uma só alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o
alimento com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e gozando da
simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava todos os dias o número dos que
deviam salvar-se.”
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 117 (118),
2-4.13-15.22-24 (R. 1)
Refrão: Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia.
(Repete-se)
Ou:
Aclamai o Senhor, porque Ele é bom: o seu
amor é para sempre. (Repete-se)
Ou: Aleluia (Repete-se)
Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia. (Refrão)
Digam os que temem
o Senhor:
é eterna a sua
misericórdia.
Empurraram-me para
cair,
mas o Senhor me
amparou. (Refrão)
O Senhor é a minha
fortaleza e a minha glória,
foi Ele o meu
Salvador.
Gritos de júbilo e
de vitória nas tendas dos justos:
a mão do Senhor fez
prodígios. (Refrão)
A pedra que os
construtores rejeitaram
tornou-se pedra
angular.
Tudo isto veio do
Senhor:
é admirável aos
nossos olhos.
Este é o dia que o
Senhor fez:
exultemos e
cantemos de alegria. (Refrão)
LEITURA II – 1 Pedro 1, 3-9
“Fez-nos
renascer para uma esperança viva pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os
mortos”
A vida que outrora
foi vivida pela comunidade de Jerusalém é vivida pelas nossas comunidades de
hoje: anima-as a mesma fé e a mesma esperança, e estas fazem-nas viver na mesma
alegria e na mesma paz, apesar das provações que sempre as hão-de acompanhar.
Como aconteceu com o Senhor, também para nós da morte surgirá a vida.
Leitura da Primeira Epístola de
São Pedro
“Bendito seja Deus, Pai de
Nosso Senhor Jesus Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer,
pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva,
para uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece. Esta
herança está reservada nos Céus para vós que pelo poder de Deus sois guardados,
mediante a fé, para a salvação que se vai revelar nos últimos tempos. Isto vos
enche de alegria, embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por
diversas provações, para que a prova a que é submetida a vossa fé – muito mais
preciosa que o ouro perecível, que se prova pelo fogo – seja digna de louvor,
glória e honra, quando Jesus Cristo Se manifestar. Sem O terdes visto, vós O
amais; sem O ver ainda, acreditais n’Ele. E isto é para vós fonte de uma
alegria inefável e gloriosa, porque conseguis o fim da vossa fé: a salvação das
vossas almas.”
Palavra do Senhor
ALELUIA – Jo 20, 29
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
Disse o Senhor a
Tomé:
«Porque Me viste,
acreditaste;
felizes os que
acreditam sem terem visto (Refrão)
EVANGELHO – Jo 20, 19-31
“Oito
dias depois, veio Jesus...”
É de novo Domingo.
Jesus volta a aparecer no meio dos seus. Como na aparição de que hoje fala o
Evangelho, em cada Missa de domingo Jesus está no meio dos seus discípulos e
leva-os à fé n’Ele, ressuscitado. Para isto, mostra-lhes as mãos, os pés e o
lado. São os sinais da sua Paixão, e agora da Ressurreição. E tudo isto se passa
“oito dias depois”, como para nós acontece em cada oitavo dia, na assembleia de
cada domingo. Por isso, o Domingo é o Dia da Ressurreição, primeiro e oitavo ao
mesmo tempo, princípio dos dias e já o dia que está para além do tempo, o dia
que nos faz participar na vida da eternidade.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cristo segundo São João
“Na tarde daquele dia, o
primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se
encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e
disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de
novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a
vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo:
àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os
retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava
com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor».
Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não
meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito
dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio
Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz
esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas
mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas
crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque
Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros
milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos
neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o
Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.”
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Aceitai benignamente, Senhor, as ofertas do
vosso povo
[e dos vossos novos filhos], de modo que,
renovados pela profissão da fé e pelo Baptismo, mereçamos alcançar
a bem-aventurança eterna. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO – cf. Jo
20, 27
Disse
Jesus a Tomé:
Com a tua
mão reconhece o lugar dos cravos.
Não sejas
incrédulo, mas fiel. Aleluia.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Concedei, Deus todo-poderoso, que a força do
sacramento pascal que recebemos permaneça sempre em nossas almas. Por Nosso
Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito
Santo.
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