Domingo de Páscoa
“NOVA
CRIAÇÃO E NOVO ÊXODO”
Hoje ressoa na Igreja o anúncio pascal: Cristo ressuscitou; ele vive para
além da morte; é o Senhor dos vivos e dos mortos. Na noite mais clara que o
dia, a palavra omnipotente de Deus que criou os céus e a terra e formou o homem
à sua imagem e semelhança chama a uma vida imortal o homem novo, Jesus de
Nazaré, filho de Deus e filho de Maria.
Realiza-se a
grande e secreta esperança da humanidade
Nele, a semente da vida divina, depositada inicialmente na criatura,
atinge uma maturação pessoal única, porque nele habita a plenitude da
divindade, a do Filho Unigénito. A humanidade vê realizada, por dom de Deus, a
grande e secreta esperança: uma terra e céus “novos”, um mundo sem luto e sem
lágrimas, paz e justiça, alegria e vida sem sombra e sem fim. Tudo isto, porém,
não é visível; só aos olhos de quem crê é dado discernir os traços da nova
criatura que se está a formar na obscuridade e no trabalho da existência
terrena. A morte é vencida pela morte livremente aceite por Jesus; mas ela
continua a agir até que tudo seja cumprido. O pecado é vencido pelo sacrifício
do inocente; mas o “mistério da iniquidade acompanha a existência humana até o
último dia. No Senhor ressuscitado, a morte e o pecado encontram um sentido
aceitável, inserem-se num desígnio cheio de sabedoria e de amor, não mais
causam medo, porque pertencem ao velho mundo de que fomos libertados.”
Um povo de
homens livres caminha para a vida
Ao contrário da vida natural, que nos é dada sem nosso consentimento, na
nova existência só se pode entrar com uma adesão consciente e livre à proposta
de renascer através da conversão e do baptismo. (Isto é evidente no caso dos
adultos; quanto às crianças, baptizadas na fé dos pais e da comunidade, o caso
é análogo ao primeiro dom da vida, em que a resposta pessoal amadurece graças à
educação). Assim, para cada um dos que crêem, a Páscoa é a passagem de um modo
de viver para outro; é a saída do Egipto e imersão no mar Vermelho e caminho
pelo deserto até a terra da promessa. Numa palavra, é o êxodo “deste mundo ao
Pai” (cf Jo 13,1; Lc 9,31), em seguimento do Cristo, cabeça do novo povo,
animado pelo sopro vital do seu Espírito. Baptizados na sua morte e
ressurreição, devemos começar a “caminhar em novidade de vida” de filhos de
Deus. O nosso “êxodo” coincide com a duração da vida, até a maturidade, até à
última “passagem” da morte; o nosso crescimento dá-se conforme a
correspondência à lei da vida divina em nós, isto é, do amor. Aqui está toda a
moral “pascal”; não numa série de preceitos, mas num só mandamento, formulado
para cada pessoa e para cada comunidade na variedade das situações de um
diálogo incessante entre o Pai e os filhos; encontrando a nossa alegria, como
Cristo, na sintonia com os seus planos de salvação; abandonando para trás, como
Cristo, as formas caducas da religiosidade natural, para viver na fé,
oferecendo toda a nossa pessoa como sacrifício espiritual; como Cristo, fiéis
ao Pai e fiéis ao homem.
O homem novo,
segundo o plano de Deus
Porque “o homem novo é o homem verdadeiro, assim como Deus o concebeu
desde toda a eternidade, é o homem fiel à vocação de homem. O homem novo não é ‘outro’
homem, alienado da condição terrestre para ser posto num paraíso qualquer. A
oposição acha-se entre o pecado e a graça; o homem velho vive na ilusão de
poder realizar seu destino incorrendo unicamente nos seus recursos; o homem
novo realiza perfeitamente a vontade de Deus, único que pode admiti-lo à
condição ‘filial’; sabe que o conteúdo da sua fidelidade à vocação recebida
reside na obediência à condição terrena até a morte; sabe que este ‘sim’ de
criatura constitui o suporte necessário do ‘sim’ do filho adoptivo de Deus” (J.
Frisque). Esta é a “novidade” de que os cristãos são “testemunhas” no mundo.
Mas por que a
Páscoa nunca calha no mesmo dia todos os anos?
O dia da Páscoa é o primeiro Domingo depois da Lua Cheia que ocorre no
dia ou depois de 21 Março (a data do equinócio). Entretanto, a data da Lua
Cheia não é a real, mas a definida nas Tabelas Eclesiásticas. (A igreja, para
obter consistência na data da Páscoa decidiu, no Concílio de Niceia, em 325
d.C, definir a Páscoa relacionada a uma Lua imaginária – conhecida como a “lua
eclesiástica”).
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MISSA
ANTÍFONA DE ENTRADA - Salmo
139, 18,5-6
Ressuscitei
e estou convosco para sempre; pusestes sobre mim a vossa mão: é admirável a
vossa sabedoria.
Ou Lc 24, 34;
cf. Ap 1, 5
O
Senhor ressuscitou verdadeiramente. Aleluia. Glória e louvor a Cristo para
sempre. Aleluia.
ORAÇÃO COLECTA
Senhor
Deus do universo, que neste dia, pelo vosso Filho Unigénito, vencedor da morte,
nos abristes as portas da eternidade, concedei-nos que, celebrando a solenidade
da ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos para a
luz da vida. Por Nosso Senhor.
LEITURA I – Act. 10,
34a, 37-43
Diante de pagãos, em casa do
centurião Cornélio, Pedro anuncia o que já lhes havia chegado aos ouvidos:
Cristo ressuscitou! E, completando aquela «boa notícia», garantindo, com o seu
testemunho pessoal, a verdade dos acontecimentos daqueles dias, o Apóstolo
explica-lhes o que eles querem dizer:
– Jesus de Nazaré, homem que
viveu como eles e com Quem Pedro convivera, não é um simples homem. Ungido do
Espírito de Deus, tem a plenitude de Deus em Si. Ele é o Messias, o Filho de
Deus, como o demonstrou pelos milagres por ele mesmo presenciados e, sobretudo
pelo milagre definitivo – a Ressurreição.
Pela Ressurreição, de que
Pedro é testemunha, Jesus de Nazaré é o Juiz dos vivos e dos mortos, é o
Salvador de todos os homens, judeus ou pagãos.
Leitura dos
Actos dos Apóstolos
“Naqueles
dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Vós sabeis o que aconteceu em toda a
Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu
com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e
curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele.
Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém;
e eles mataram-n'O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e
permitiu-Lhe manifestar-Se¬, não a todo o povo, mas às testemunhas de antemão
designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter
ressuscitado dos mortos. Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele
foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É d'Ele que todos os
profetas dão o seguinte testemunho: quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome a
remissão dos pecados».”
Palavra do Senhor
SALMO RESPONSORIAL – Sal.
117(118), 1-2, 16ab-17, 22-23
Refrão: Este é o dia que o Senhor
fez:
exultemos e cantemos de alegria. (Repete-se)
Ou: Aleluia. Repete-se (Repete-se)
Dai
graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque
é eterna a sua misericórdia.
Diga
a casa de Israel:
é
eterna a Sua misericórdia. (Refrão)
A
mão do Senhor fez prodígios,
a
mão do Senhor foi magnífica.
Não
morrerei, mas hei-de viver,
para
anunciar as obras do Senhor. (Refrão)
A
pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se
pedra angular.
Tudo
isto veio do Senhor:
e
é admirável aos nossos olhos. (Refrão)
LEITURA II – Col. 3, 1-4
Pelo
seu Baptismo, o cristão morreu para o pecado e ressuscitou com Cristo para uma
vida nova. Desde esse momento, recebeu a missão de, à semelhança de Cristo,
conduzir os homens e todas as coisas para o Pai.
Inserido
nas realidades divinas, não pode alhear-se do mundo, nem ficar indiferente aos
esforços dos homens relativamente à construção dum mundo de felicidade, justiça
e paz.
Inserido
nas realidades da terra, não pode encerrar-se no mundo, trabalhando só para
fins terrenos, esquecido do destino final do homem e do mundo.
Feito
nova criatura pela Ressurreição de Cristo, o cristão viverá a vida de cada dia,
sem perder de vista o fim superior, para que foi criado.
Leitura da
Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
“Irmãos: Se
ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo Se encontra,
sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra.
Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando
Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, então também vós vos haveis de manifestar
com Ele na glória.”
Palavra do Senhor
SEQUÊNCIA PASCAL
À Vítima pascal
Ofereçam os cristãos
sacrifícios de louvor
O Cordeiro resgatou as ovelhas:
Cristo, o Inocente,
reconciliou com o Pai os pecadores.
A morte e a vida
travaram um admirável combate:
depois de morto,
vive e reina o Autor da vida.
Diz-nos, Maria:
Que viste no caminho?
Vi o sepulcro de Cristo vivo,
e a glória do ressuscitado.
Vi as testemunhas dos Anjos,
vi o sudário e a mortalha.
Ressuscitou Cristo, minha esperança:
precederá os seus discípulos na Galileia.
Sabemos e acreditamos:
Cristo ressuscitou dos mortos:
Ó Rei vitorioso,
tende piedade de nós.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO
– I Cor 5, 7b-8a
Refrão: Aleluia. (Repete-se)
Cristo,
nosso Cordeiro Pascal, foi imolado:
celebremos
a festa do Senhor. (Refrão)
EVANGELHO – Jo 20, 1-9
“Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo”
Pedro
e João, juntamente com Madalena, são as primeiras testemunhas do túmulo vazio,
naquela manhã de Páscoa. Não foi, porém, muito facilmente que eles chegaram à
conclusão de que Jesus estava vivo. A sua fé será progressiva, caminhará entre
incredulidade e dúvidas. Só perante as ligaduras e o lençol, cuidadosamente
dobrados, o que excluía a hipótese de roubo, se lhes começam a abrir os olhos
para a realidade.
No
seu amor intuitivo, João é o primeiro a compreender os sinais da Ressurreição.
Mas bem depressa Pedro, que, não por acaso mas intencionalmente, ocupa o
primeiro lugar e nos aparece já nesta manhã como Chefe do Colégio Apostólico,
descobre a verdade, anunciada tão claramente pela Escritura e pelo mesmo Jesus.
Depois, em contacto pessoal com o Ressuscitado, a sua fé tornar-se-á firme como
«rocha» inabalável.
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
“No primeiro dia da semana, Maria Madalena
foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do
sepulcro. Correu então e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo que
Jesus amava e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O
puseram». Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro. Corriam
os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se, correndo mais depressa do
que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. Debruçando-se, viu as ligaduras no
chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira.
Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado
sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou
também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: viu e acreditou. Na
verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia
ressuscitar dos mortos.”
Palavra da Salvação
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Exultando de alegria pascal,
nós Vos oferecemos, Senhor, este sacrifício, no qual tão admiravelmente renasce
e se alimenta a vossa Igreja. Por Nosso Senhor, Jesus Cristo, vosso Filho, que
é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
ANTÍFONA DA COMUNHÃO - 1 Cor
5, 7-8
Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado: celebremos a festa com o pão
ázimo da pureza e da verdade. Aleluia.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Senhor nosso Deus, protegei
sempre com paternal bondade a vossa Igreja, para que, renovada pelos mistérios
pascais, mereça chegar à glória da ressurreição. Por Nosso Senhor.
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