A Sagrada Escritura é o
conjunto dos livros escritos por inspiração divina, nos quais Deus se revela a
si mesmo e nos dá a conhecer o mistério da sua vontade. Divide-se em duas
grandes secções: Antigo Testamento, que contém a revelação feita por
Deus antes da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo ao mundo; Novo Testamento,
que contém a revelação feita directamente por Jesus Cristo e transmitida pelos
Apóstolos e outros autores sagrados.
Deus falou
aos homens através de outros homens por Ele escolhidos para esse fim, mas
sobretudo por meio de seu Filho, Jesus Cristo (Heb 1,1-2). Desse modo, a
Palavra de Deus tornou-se linguagem humana sem deixar de ser Palavra de Deus,
assim como o Filho de Deus se fez homem sem deixar de ser Deus; e sujeitou-se,
tal como Ele, às limitações e condicionamentos da palavra humana, excepto no
erro formal. Tais condicionamentos são:
Condicionamentos
de tempo Os livros da Bíblia são fruto do seu tempo. Por isso, se quisermos
entender a mensagem de Deus, temos de conhecer o tempo e as circunstâncias
históricas em que foi escrito cada um deles.
Condicionamentos
de espaço Os livros da Bíblia nasceram em vários lugares geográficos, cada qual
com o seu ambiente próprio: uns na Palestina, outros no mundo helénico e outros
no Império Romano. E um livro também é filho do meio em que nasceu.
Condicionamentos
de raça Os livros da Bíblia procedem quase todos do povo semita, mais
concretamente do povo judeu, que tem um modo de pensar e de se exprimir muito
diferente do nosso. É preciso conhecê-lo, para entender a Palavra de Deus.
Condicionamentos
de cultura Os livros da Bíblia são obra de muitos autores com mentalidade e
cultura diferentes, às vezes distanciados entre si por vários séculos. Tudo
isso marcou a Bíblia e deve ser tido em conta, pois os autores sagrados, embora
escrevessem sob inspiração de Deus, não foram privados da sua personalidade.
A Palavra de
Deus, no Antigo Testamento, revelou-se através da Tradição e da Sagrada
Escritura. Com Cristo, Palavra em pessoa, começa uma nova Revelação: o
Evangelho. Os transmissores desta nova Palavra são os Apóstolos, que dão origem
à Tradição Apostólica. Os Evangelistas, mais tarde, inspirados pelo Espírito
Santo, recolhem e fixam essa Tradição por escrito, dando assim origem à Sagrada
Escritura do Novo Testamento.
Por isso, diz
o concílio Vaticano II: “A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura estão
intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando elas da
mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim.” (Dei
Verbum, 9)
A Inspiração
é o que caracteriza e essencialmente distingue a Bíblia de todos os outros
livros humanos. Acreditar na Inspiração da Sagrada Escritura foi sempre um
dogma de fé para os Judeus e para a Igreja. Os Judeus dividiam a Bíblia em três
partes: a Lei (Torá), que era considerada a Palavra de Deus por excelência; os
Profetas (Nebiîm), que falaram em nome de Deus; e os Escritos (Ketubîm),
formando todos juntos os «Livros santos» (1 Mac 12,9). Jesus Cristo e os
Apóstolos citaram-nos como Palavra de Deus (Act 1,16; 4,25). Mas, São Paulo e
São Pedro é que nos transmitem os dois textos clássicos sobre esta verdade.
Paulo diz: «Toda a Escritura é divinamente inspirada» (theopneustos: 2 Tm
3,14-17); e Pedro afirma: «Mas sabei, antes de mais, que nenhuma profecia foi
proferida pela vontade dos homens. Inspirados pelo Espírito Santo, é que os
homens santos falaram em nome de Deus.» (2 Pe 1,21)
Os Santos
Padres também são unânimes em afirmar que Deus é o autor da Sagrada Escritura e
que o hagiógrafo é instrumento de Deus. E a Igreja manifestou a sua fé nesta
verdade em vários concílios e documentos. O último e o mais expressivo é a
constituição dogmática Dei Verbum (DV), do concílio Vaticano II, que diz: “As
coisas reveladas por Deus que se encontram escritas na Sagrada Escritura foram
consignadas por inspiração do Espírito Santo.” E mais adiante, falando da
natureza desta inspiração, acrescenta: “porque escritos por inspiração do
Espírito Santo, têm a Deus por autor e, como tais, foram confiados à Igreja.
Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens
na posse das suas faculdades e capacidades para que, agindo Deus neles e por
eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo
que Ele queria.” Portanto, segundo a constituição Dei Verbum, os livros
sagrados são produto da acção transcendente de Deus que suscita, dirige e
envolve inteiramente a actividade humana, agindo em constante coordenação com
ela.
Esta acção
divina estendeu-se a todas as faculdades e actos do homem que concorreram para
a produção dos livros santos, e abrange todas as partes dos livros e todos os
géneros literários que neles se encontram. No entanto, longe de tornar o
hagiógrafo passivo, tal acção favorece a sua livre espontaneidade; porque o
homem é tanto mais livre e activo quanto mais o Espírito Santo o acompanha.
Deus, quando actua no homem, fá-lo sempre com suma delicadeza, respeitando a
sua liberdade e a sua maneira de ser, mas valorizando-as e potenciando-as. A
Bíblia não é, pois, fruto de um ditado mecânico, mas uma obra em que Deus e o
homem intervêm: Deus com as suas perfeições infinitas, e o homem com as suas
faculdades e conforme a sua capacidade. Por isso, os dois são verdadeiros
autores dos livros sagrados.
Diz também a
Dei Verbum: “E assim como tudo quanto afirmam os autores inspirados ou
hagiógrafos deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se
deve aceitar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem
erro, a verdade que Deus, causa da nossa salvação, quis que fosse consignada
nas Sagradas Letras.” (DV, 11)
A verdade da
Bíblia é a consequência imediata da Inspiração. Com efeito, se Deus é o autor
da Bíblia, se toda ela é obra do Espírito Santo, não pode conter qualquer
afirmação que vá contra a verdade e a santidade do mesmo Deus. No entanto, não
podemos buscar na Bíblia qualquer verdade, mas só a que interessa à salvação do
homem, ou seja, a verdade religiosa, e só aquela que Deus, causa da nossa
salvação, quis que fosse registada nas Escrituras. Trata-se de uma verdade não
puramente especulativa, mas concreta, que não se dirige apenas à inteligência,
mas ao homem todo; uma verdade que é preciso descobrir através dos muitos e
variados géneros literários; uma verdade progressiva, revelada por etapas,
obedecendo à pedagogia de Deus em relação aos homens; uma verdade que está em
toda a Bíblia e não apenas num livro ou num texto isolado. Por isso, a verdade
dos textos sagrados só resulta da totalidade da Bíblia, como a santidade da
Igreja resulta do conjunto dos baptizados e não de cada um individualmente.
“Porque Deus
na Sagrada Escritura falou por meio dos homens e à maneira humana, o intérprete
da Sagrada Escritura, para saber o que Ele quis comunicar-nos, deve investigar
com atenção o que os hagiógrafos realmente quiseram significar e o que aprouve
a Deus manifestar por meio das suas palavras.” (DV, 12)
Para esse
fim, o Vaticano II lembra que é preciso ter em conta os géneros literários, os
sentidos bíblicos e certas regras teológicas de interpretação. Os géneros
literários. A verdade é proposta e expressa de um modo ou de outro, conforme se
trate de géneros históricos, proféticos, poéticos, etc. Estes géneros devem ser
entendidos como os entenderam os povos semitas ou helenistas, no tempo em que
foi escrito cada um dos livros (DV, 12).
Os sentidos
bíblicos. Tradicionalmente, têm-se distinguido na Bíblia os sentidos seguintes:
literal, pleno, típico e acomodatício.
O Sentido
literal é aquele que o autor quis dar ao texto. Pode ser próprio e impróprio,
figurado ou metafórico. O próprio é aquele em que as palavras são tomadas no
seu significado corrente; o impróprio é aquele em que as palavras são tomadas
no sentido conotativo ou figurado, por exemplo: «Vós sois o sal da terra.» (Mt
5,13)
O Sentido
pleno é o significado mais profundo do texto; sendo inicialmente pretendido
pelo autor divino, só se descobre à luz de uma revelação posterior,
especialmente à luz do Novo Testamento. Este sentido resulta do facto de a
Bíblia ter dois autores: Deus, para quem o futuro é presente, e que, ao
inspirar um determinado texto, já conhece toda a revelação posterior nele
implícita; e o hagiógrafo ou autor humano, que apenas conhece e tem presente o
mistério que Deus quer revelar nesse determinado momento histórico da escrita.
Exemplo claro disto são as profecias messiânicas do Antigo Testamento: para nós
são claras, porque o Messias já veio; mas o significado que hoje lhes
atribuímos não foi atingido plenamente pelo autor sagrado, e só Deus o teve
presente desde o princípio.
O Sentido
típico dá-se quando certos acontecimentos, instituições, pessoas, etc., por
vontade de Deus, representam e prefiguram acontecimentos, instituições e
pessoas de ordem superior. Assim, a serpente de bronze erguida por Moisés (Nm
21,8-9) é figura de Cristo crucificado (ver Jo 3,14); a passagem do Mar
Vermelho (Ex 14,22) é figura do Baptismo (1 Cor 10,2); o maná (Ex 16,14) é
figura da Eucaristia (Jo 6).
O Sentido
acomodatício consiste em dar às palavras da Sagrada Escritura um sentido
diferente daquele que o autor lhes quis dar, devido a uma certa semelhança
entre a passagem bíblica e a sua aplicação. Este sentido é muito usado na
liturgia e na pregação. Temos um exemplo claro nas festas de Nossa Senhora, em
que a Liturgia relaciona com a Virgem Maria textos que se referem à sabedoria
divina (Pr 8,22-36; Sir 24,14-16).
Regras
teológicas de interpretação. Além do já aduzido, o Concílio aponta estes
princípios que devem reger a interpretação da Sagrada Escritura: “A Sagrada
Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo Espírito com que foi
escrita” (DV,12); ou seja: o mesmo Espírito que inspirou os livros santos deve
iluminar os teólogos que, docilmente e com espírito de fé, se dedicam a
interpretá-los. Cabe aos exegetas, “de harmonia com estas regras, esforçar-se
por entender e expor mais profundamente o sentido da Escritura, para que, mercê
deste estudo preparatório, vá amadurecendo o juízo da Igreja.” A função dos
exegetas é preparar e não substituir o juízo último da Igreja, pois só esta
“goza do divino mandato e do ministério de guardar e interpretar a Palavra de
Deus” (DV,12).
Os livros da
Sagrada Escritura, tanto do Antigo como do Novo Testamento, agrupam-se em três
conjuntos: históricos, sapienciais e proféticos, conforme o género literário
que neles predomina.
Nesta obra,
cada conjunto e cada livro são precedidos de uma Introdução. Nela são dadas
todas as informações necessárias para enquadrar o texto no seu contexto
histórico, geográfico e literário e se apontam os seus objectivos e a sua
mensagem teológica.
O Antigo
Testamento é a história da revelação de Deus ao povo de Israel, narrada e
explicada pelos autores sagrados e escrita nos livros da Antiga Aliança, como
verdadeira Palavra de Deus. Estava orientado, “sobretudo, a preparar, a
anunciar profeticamente e a significar com várias figuras a vinda de Cristo,
Redentor universal, e a do Reino messiânico” (DV,15). Embora a sua missão fosse
preparar o povo de Israel para a vinda de Cristo, mantém esse mesmo sentido
para os homens de hoje. «A Lei (AT) foi nosso pedagogo para nos conduzir a
Cristo» (Gl 3,24). A experiência do povo de Israel é útil também para quem
continua à procura de Cristo. Todos temos necessidade de nos preparar para os
novos adventos de Cristo, que se realizam na Liturgia e na vida cristã, rumo à
Parusia do Senhor.
O Antigo
Testamento dá-nos a conhecer Deus e o ser humano e o modo como Deus se
relaciona com o homem e a mulher. Porque esse conhecimento está adaptado às
pessoas a quem se dirige, no Antigo Testamento encontram-se “imperfeições e
coisas restritas a um tempo determinado.” Realmente, Deus tolerou modos
imperfeitos de observar a lei moral: poligamia, divórcio, vingança, etc. Mas
isso manifesta a pedagogia divina, que vai conduzindo o povo do imperfeito ao
mais perfeito. Por isso, o Antigo Testamento conduz à perfeição do Novo
Testamento.
Para além
disso, o Antigo Testamento já exprime um vivo sentido de Deus, contém doutrinas
preciosas sobre Deus e a sua transcendência, sobre a criação, sobre o ser
humano enquanto imagem de Deus, sobre a Providência, etc.; e oferece-nos um
tesouro admirável de orações. Por isso, “os cristãos devem aceitar devotamente
esses mesmos livros”, como raiz do Novo Testamento e do Cristianismo (DV,15).
A
constituição Dei Verbum diz que “a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras
a par com o próprio Corpo de Cristo”; que sempre as considerou e continua a
considerar, juntamente com a Sagrada Tradição, como regra suprema da sua fé; e,
por último, chama-lhes “a fonte pura e perene da vida espiritual”.
Mas, para ser
realmente a fonte da vida espiritual, é preciso que a Bíblia volte a ser “a
alma da teologia”, da pregação, da pastoral, da catequese e de toda a instrução
cristã (DV, 24). Que todos, sacerdotes, religiosos e fiéis mantenham um
contacto íntimo e constante com os Livros sagrados através da leitura assídua,
do estudo e da meditação. “Porque desconhecer as Escrituras é desconhecer a
Cristo” (São Jerónimo). Para isso, são precisas traduções acompanhadas das
notas explicativas correspondentes, em todas as línguas vivas, para que cada um
as possa ler na sua língua materna (DV, 25).
Para estar
cada vez mais em consonância com esta doutrina da Igreja, e porque as ciências
bíblicas e da linguagem evoluem, é que a DIFUSORA BÍBLICA meteu ombros a esta
edição da Bíblia Sagrada, profundamente revista e actualizada tanto na versão
do texto como nas introduções e notas.
A ordem dos
elementos é: o nome do livro em abreviatura, o número do capítulo e o número do
versículo. Assim, Mt 5,12 corresponde ao Evangelho segundo São Mateus, capítulo
5, versículo 12. Se o livro só tiver um capítulo, aparece apenas o livro e o
versículo. Assim, 2 Jo 12 para indicar 2.ª Carta de João, versículo 12.
Quando são
citados vários versículos ou capítulos seguidos, estão unidos por um hífen: Mt
5,12-17 (Mateus, capítulo 5, versículos 12 a 17); Mt 5-6 (Mateus, capítulos 5 e
6); Mt 5,20-6,13 (Mateus do capítulo 5, versículo 20 ao capítulo 6, versículo
13, sem qualquer interrupção). Quando são citados vários versículos do mesmo
capítulo, mas não todos seguidos, ficam separados por um ponto: Mt 5,12.14-17 (a
citação pára no v.12 e continua do v.14 ao 17 inclusive, não incluindo o
versículo 13).
Se forem
citados diferentes capítulos do mesmo livro, tais capítulos vão separados por
um ponto e vírgula mas não é repetido o nome do livro: Mt 5,12.21-23; 6,1-8 (Mateus,
capítulo 5, versículo 12 e também do v. 21 a 23 inclusive; e ainda o capítulo
6, do versículo 1 a 8 inclusive).
Como se pode
ver, a vírgula vai sempre depois do capítulo, a separá-lo dos versículos.
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