sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – OITAVA NATAL





(OITAVA NATAL, 27 de Dezembro de 2014)


SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ


O Menino crescia, e enchia-Se de sabedoria


LEITURA I – Sir 3, 3-7.14-17a

Aquele que teme a Deus honra os seus pais

A palavra de Deus faz o elogio da vida familiar. O Filho de Deus, ao fazer-Se homem, quis nascer e viver numa família humana. Foi ela a primeira família cristã, modelo, a seu modo, de todas as demais. O amor de Deus em todos os membros de uma família é condição fundamental para o crescimento, em paz, de todos os que nela nascem e vivem, como no quadro que o sábio nos apresenta nesta leitura.

Leitura do Livro de Ben-Sirá
3O que honra o pai alcança o perdão dos pecados, 4e quem honra a sua mãe é semelhante ao que acumula tesouros.
5Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos, e será ouvido no dia da sua oração.
6Quem glorifica o pai gozará de longa vida e quem obedece ao Senhor consolará a sua mãe.
7Quem teme o Senhor honrará seu pai e servirá, como a seus senhores, aqueles que lhe deram a vida.
14A caridade que exerceres com o teu pai não será esquecida, e ser-te-á considerada, em reparação de teus pecados.
15No dia da aflição, o Senhor há-de lembrar-se de ti, os teus pecados hão-de dissolver-se como o gelo em pleno sol.
16É um blasfemador o que desampara o seu pai, e é amaldiçoado pelo Senhor aquele que irrita a sua mãe.
17Filho, pratica as tuas obras com doçura,”

LEITURA II – Col 3, 12-21

A vida doméstica no Senhor

Desde o princípio que os cristãos compreenderam que a sua fé se deve manifestar em toda a sua vida e muito particularmente na vida de família; esta pode ter sempre diante dos olhos a Sagrada Família de Nazaré, que constituiu a melhor experiência do que devem ser as nossas famílias.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
12Como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos, pois, de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência, 13suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se alguém tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, fazei-o vós também. 14E, acima de tudo isto, revesti-vos do amor, que é o laço da perfeição. 15Reine nos vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados num só corpo. E sede agradecidos. 16A palavra de Cristo habite em vós com toda a sua riqueza: ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros com toda a sabedoria; cantai a Deus, nos vossos corações, o vosso reconhecimento, com salmos, hinos e cânticos inspirados.
17E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando graças por Ele a Deus Pai.

Novas relações no Senhor - 18Esposas, sede submissas aos maridos[1], como convém no Senhor. 19Maridos, amai as esposas e não vos exaspereis contra elas.
20Filhos, obedecei em tudo aos pais, porque isso é agradável no Senhor. 21Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.”

EVANGELHO – Lc 2, 22-40

O Menino crescia, e enchia-Se de sabedoria

O quadro da vida evangélica, que hoje nos é proclamado, é cheio de mistério: a Sagrada Família cumpre a Lei de Moisés, revelando assim como Deus realmente entrou no caminho dos homens; Maria escuta a profecia de Simeão, que anuncia desde já, o mistério pascal; a vida da Família de Nazaré é um mundo de sabedoria e de graça, de trabalho, de oração e de paz.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
22Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem[2] ao Senhor, 23conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» 24e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas.
25Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel[3]. O Espírito Santo estava nele. 26Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias[4] do Senhor. 27Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito.
28Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo:[5]
29«Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, 30porque meus olhos viram a Salvação 31que ofereceste a todos os povos, 32Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.[6]»
33Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele.
34Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe:[7] «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35uma espada trespassará a tua alma[8]. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»
36Havia também uma profetisa, Ana[9], filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. 38Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção[10] de Jerusalém.
39Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40Entretanto, o menino crescia[11] e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.”





[1] Esta passagem contém preceitos de moral doméstica. O Apóstolo recomenda as novas relações nascidas no baptismo, o qual nos revestiu de Cristo ressuscitado. O v.18 é paralelo a 1 Cor 11,7. Na tradição do AT, aqui se estabelece a comparação do amor de Cristo pela sua Igreja sob a figura do amor conjugal. Submissas é um termo chocante para hoje; contudo, a palavra original grega (upotasso) implica uma atitude de liberdade e de consentimento na pessoa que obedece e reconhece a autoridade de outrem. A imagem da submissão é a da Igreja a Cristo (Ef 5,21-33), que é fruto da fidelidade e não da coacção. Neste mesmo contexto, Paulo afirma que todas as barreiras entre as pessoas (religiosas, sociais, nacionais, culturais) foram abolidas, porque Cristo é tudo em todos. Homens e mulheres estão, pois, no mesmo plano e devem trabalhar para um projecto comum com espírito cristão (Lv 25,43; Rm 2,6; 1 Cor 7; 11,3.7-9; Gl 3,28; Ef 5,21-33; 6,1-9; 1 Tm 6,1-2; Tt 2,5.9-10.9; 1 Pe 2,18-20; 3,1-7; 5,5).
[2] A apresentação do Menino no templo não era requerida pela Lei, que apenas prescrevia a purificação da mãe.
[3] A consolação de Israel, isto é, a salvação de Israel, segundo o Livro da Consolação de Isaías (40,1; 51,12; 61,2). Simeão é descrito como justo, profeta, por nele habitar o Espírito Santo.
[4] O Messias do Senhor, título messiânico tradicional no AT (grego), diferente do de Cristo Senhor, próprio do NT.
[5] O Cântico de Simeão sobre Jesus corresponde ao de Zacarias sobre o seu filho (1,68-79). Simeão saúda a chegada do Salvador e revela aos pais do Menino alguns traços característicos da sua missão. Último profeta do AT, Simeão inspira-se em Isaías, para proclamar a salvação de Deus já presente (Is 40,5; 42,6; 45,25; 46,13; 49,6; 52,10).
[6] A salvação das nações pagãs, um dos temas importantes de Lc, é anunciada aqui pela primeira vez. Só a partir da revelação pascal (24,47) será proclamada abertamente, como o documentam os Actos.
[7] O oráculo de Simeão dirige-se só a Maria (Jo 19,25). O menino é apresentado como motivo de divisão e sinal de contradição. Prepara a conclusão dos Actos, segundo a qual uma parte de Israel rejeitou o Messias (Mt 10,34-35; Act 28,25-27).
[8] Uma espada trespassará... A predição parece referir-se à dor de Maria perante a rejeição de Jesus por parte dos judeus (Jo 19,25-27 nota). Esse era o preço da missão de Jesus, que também iria denunciar a incredulidade dos seus ouvintes (5,22; 6,8; 9,47; 16,15; 24,38).
[9] Ana é apresentada como israelita exemplar que não se afastava do templo (Sl 23,6; 26,8; 27,4; 84,5.11).
[10] Redenção ("lutrosis" = resgate), como no caso da lei dos primogénitos (v.7 nota; 1,68). Aqui indica a salvação do povo de Deus (Jerusalém).
[11] O menino crescia, consequência da sua Encarnação. O versículo é paralelo a 1,80, sobre João Baptista. A sabedoria, no sentido próprio da Escritura, e a graça de Deus são atributos de Jesus, que lhe vêm do contacto com o Pai (v.52; 11,31; 21,15). Em Jesus, manifesta-se progressivamente a graça, a benevolência divina (1,80; 4,22).

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