quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

LITURGIA DA PALAVRA – NATAL




(NATAL, 25 de Dezembro de 2014)

Missa do dia

O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós

LEITURA I – Is 52, 7-10

Todos os confins da Terra verão a Salvação do nosso Deus

Esta leitura é constituída pelo belo e solene pregão que serviu outrora ao profeta para anunciar a Boa Nova ao povo de Deus em tempo de desolação e de abandono; esse mesmo pregão serve para nos anunciar agora a nós mensagem ainda mais feliz, a que nos traz o nascimento do Salvador de todo o mundo.

Leitura do Livro de Isaías
7Que formosos são sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que apregoa a boa-nova, e que proclama a salvação![1] Que diz a Sião: «O rei é o teu Deus!»
8Ouve: as tuas sentinelas gritam, cantam em coro, porque vêem olhos nos olhos[2] o regresso do SENHOR a Sião.
9Ruínas de Jerusalém, irrompei em cânticos de alegria, porque o SENHOR consola o seu povo, com a libertação de Jerusalém.
10O SENHOR mostra a força do seu braço poderoso aos olhos das nações, e todos os confins da terra verão o triunfo do nosso Deus.”

LEITURA II – Hebr 1, 1-6

Deus falou-nos por seu Filho

Jesus é a própria palavra de Deus, encarnada, feita homem no meio dos homens, mais reveladora de Deus do que a de todos os profetas, mais qualificada do que a de todos os outros mensageiros que vieram antes d’Ele ter vindo ao mundo. Ele é a imagem do Pai por quem tudo foi feito; pela sua morte purificou a humanidade de seus pecados e recebeu em herança todos aqueles que n’Ele acreditaram e a Ele se entregaram. Esses sentam-se com Ele à direita de Deus. Ele é o nosso Salvador e o nosso Deus. Por isso, O adoramos juntamente com todos os Anjos.

Leitura da Epístola aos Hebreus
1Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais[3], nos tempos antigos, por meio dos profetas. 2Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo. 3Este Filho, que é resplendor da sua glória e imagem fiel da sua substância e que tudo sustenta com a sua palavra poderosa, depois de ter realizado a purificação dos pecados, sentou-se à direita da Majestade nas alturas, 4tão superior aos anjos quanto superior ao deles é o nome que recebeu em herança.
5Com efeito, a qual dos anjos disse Deus alguma vez[4]:
Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei? E ainda: Eu serei para Ele um Pai e Ele será para mim um Filho?
6E de novo, quando introduz o Primogénito no mundo, diz: Adorem-no todos os anjos de Deus.”

EVANGELHO – Jo 1, 1-18

O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós

O Natal não é apenas o nascimento de um menino. É um mistério, uma realidade divina que se esconde e ao mesmo tempo se revela no nascimento desse Menino. É o Nascimento no meio dos homens do próprio Filho de Deus. O evangelista chama-Lhe o Verbo, isto é, a Palavra, Aquele por quem o Pai Se dá a conhecer aos homens e deles faz seus filhos. O evangelista tenta desvendar-nos todo esse mistério neste poema admirável com que abre o seu Evangelho.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
1No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus.[5]
2No princípio Ele estava em Deus.
3Por Ele é que tudo começou a existir; e sem Ele nada veio à existência.
4Nele é que estava a Vida de tudo o que veio a existir.
E a Vida era a Luz dos homens[6].
5A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam.
6Apareceu um homem, enviado por Deus, que se chamava João[7]. 7Este vinha como testemunha, para dar testemunho da Luz e todos crerem por meio dele. 8Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz.
9O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina.
10Ele estava no mundo e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não o reconheceu.
11Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12Mas, a quantos o receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
13Estes não nasceram de laços de sangue, nem de um impulso da carne,
nem da vontade de um homem, mas sim de Deus.
14E o Verbo fez-se homem[8] e veio habitar connosco. E nós contemplámos a sua glória, a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade.
15João deu testemunho dele ao clamar: «Este era aquele de quem eu disse: 'O que vem depois de mim passou-me à frente, porque existia antes de mim.'»
16Sim, todos nós participamos da sua plenitude, recebendo graças sobre graças. 17É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo.
18A Deus jamais alguém o viu[9]. O Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer.”





[1] Comparar com Na 2,1; Rm 10,15.
[2] Olhos nos olhos, expressão que só aparece aqui e em Nm 14,14.
[3] Exórdio em estilo solene, próprio de um sermão, provavelmente escrito para pregadores itinerantes. Introduz a figura de Jesus, Filho de Deus, a sua acção na criação, a redenção e a glorificação. Ao contrário do que é costume nas Cartas, não apresenta o nome do remetente e dos destinatários, nem a saudação inicial.
Aos nossos pais, isto é, aos antepassados do povo de Israel (3,9; 8,9) aos quais os cristãos se sentem ligados (Rm 4,1-25.16-18; 11,11-24.17; 1 Cor 10,1-2).
[4] A prova escriturística da superioridade de Cristo em relação aos anjos justifica-se no mundo judaico, onde eles apareciam como alternativa ao poder salvífico do "Filho", morto e ressuscitado (1 Cor 15,23-28; Ef 1,20-21; 4,8; Fl 2,10; Cl 1,16; 2,10-15; 3,10; 1 Pe 3,22), entronizado nos céus, o único a quem se deve adorar (Ap 19,10; 22,9).
[5] 1-14. Este poema constitui o frontispício do IV Evangelho e é um dos hinos mais belos de todo o NT. Este Prólogo poderia proceder de um hino litúrgico em honra de Jesus Cristo, Verbo incriado, que, estando na origem de todas as criaturas, assumiu a nossa condição humana, oferecendo-nos a possibilidade de sermos filhos de Deus. São apontados aqui os grandes temas a desenvolver ao longo do Evangelho: o Verbo Incarnado, Luz e Vida da Humanidade, Messias e Revelador do Pai; os testemunhos a seu favor; a resposta humana de aceitação ou rejeição; as consequências da alternativa em que o ser humano é colocado perante a pessoa de Jesus.
1-3. O Verbo. Tradução latina do termo grego Logos, Palavra. Designa a pessoa divina de Jesus, pois corresponde a uma das formas que então se usava (Memrá, em aramaico) para evitar pronunciar o nome inefável de Deus (YHWH); além disso, diz-se expressamente que Ele era Deus. Ver Gn 1,1-5; Pr 8,22-30; Sb 7,24-26; 9,9-11; Sir 1,1-10 nota; 24,1-22 nota (mas a Sabedoria nasceu e é criada, ao passo que o Verbo é eterno e é criador); Cl 1,16; 1 Jo 1,1-2; Ap 19,13.
1. No princípio. Provável alusão ao início do Gn, para evidenciar que, com Jesus, se dá uma nova Criação, que nos faz nascer como filhos de Deus (v.12-13; 3,3-7). Não se diz que o Verbo começou a existir no princípio, mas que está no princípio de tudo o que veio à existência (v.3).
[6] Vida-Luz/Trevas são ideias mestras do IV Evangelho: Jesus é Luz e Vida (8,12; Luz: v.9; 3,19; 9,5; 11,9-10; vida e dador de vida: 3,15.16; 4,14.36; 5,21.26.40.46; 6,27.33.35.40.47.51.54.57.63; 7,37-39; 8,51.52; 10,10.28; 11,25; 14,6; 17,3; 20,31). A luz e a vida são características divinas e as trevas são símbolo das forças demoníacas. Não a receberam (v.9-11; 3,19). Também se poderia traduzir "não a dominaram" (7,34; 8,21; 12,36).
[7] João é o Baptista, mas nunca refere a sua vida e pregação (Mt 3,1.2; Mc 1,12-13; Lc 3,1-2.3.7-9.20.21-22); apenas o seu testemunho a favor de Jesus (v.15.19-35; 3,27-30; 5,33), para todos crerem por meio dele.
[8] O Verbo fez-se homem, lit., "fez-se carne", indicando, assim, que uma Pessoa divina, o Verbo, assumiu realmente a nossa natureza humana e não apenas a sua aparência. Por isso, Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, confissão de fé central do cristianismo (Lc 1,26-38; Fl 2,6.7 notas; 1 Tm 3,16 nota; Heb 2,14). Veio habitar connosco, lit., "ergueu a sua tenda no meio de nós", alusão ao santuário, habitação de Deus no meio do seu povo (Ex 25,10-25 nota). O Verbo assumiu não só a natureza humana, mas também todas as circunstâncias da nossa vida diária (veio habitar connosco); insiste-se também na sua condição divina através da alusão à habitação (de Deus), a Chekiná, uma das metonímias usadas para designar a Deus, evitando pronunciar o seu Nome. O verbo grego (habitou) tem o mesmo radical de Chekiná. É, pois, na pessoa de Jesus que Deus e a humanidade se encontram (v.51; 2,19-21; 4,20-24; Mt 27,51-53 nota; Heb 10,1-18). Glória. No AT, era a manifestação sensível da presença de Deus (Nm 14,10 nota); em Jo, é um atributo divino que se revela nos milagres de Jesus, sinais que levam à fé nele (2,11), na unidade dos discípulos (17,22-23) e sobretudo na sua hora da passagem deste mundo para o Pai (2,4 nota; 12,21-26.27-28 notas; 13,31; 17,2-5). Unigénito é um título exclusivamente joanino (v.14.18; 3,16.18; 1 Jo 4,9), que acentua a absoluta singularidade da filiação divina de Jesus.
[9] Nenhuma visão de Deus foi directa, nesta vida (Ex 33,20 nota); a visão de Jesus é directa, de quem está no seio do Pai.

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